Um áudio seu

O céu esbranquiçado não demonstra interesse em fazer-se notável. Quieto e monótono, convida-me a permanecer estático. Em respeito às circunstâncias, movimento apenas os meus olhos. No último andar de um enorme prédio branco, não há paredes externas. Cercado por vidro fumê, vejo cento e oitenta graus de um lindo horizonte de relva.

Perdi a noção do tempo enquanto lia um dos muitos livros desajeitadamente largados ao pé da poltrona. Página após página, acabo rendendo-me aos pensamentos. O interesse mantém-se intacto, mas a vontade de criar conexões supera os limites da concentração. Vou de um ponto a outro numa busca desenfreada por razões. No meio do caminho, perco o rumo e daí vago entre o nada e menos que isso.

Curioso é saber que até na ausência de tudo, encontramos sentido. Retornei ao não lugar ao som de uma mensagem sua. Era um áudio. Puro e inteiramente composto por calmos risos. Risos seus, se é que não ficou claro. Escutei uma, escutei duas, escutei dezenas de vezes. Imaginei que você quisesse respostas, mas não soube o que dizer.

Aqui no meu cantinho, faço das ondas minhas comparsas. Ligo todos os rádios numa mesma frequência, reproduzo a sua mais cativante melodia. Ponho-me a grafar. Sinto-me completo. Perco todo o controle. Talvez agora eu lhe responda.