Quando eu Te Encontrei - Final.

O tempo passou e os dois seguiram suas vidas normais. Pedro estava na última semana de provas na faculdade. Ficou feliz por ter algo com o que se distrair, no sábado seria sua formatura. E ele estava muito orgulhoso de si mesmo.

Quando andava em seu apartamento, via Lucas em todos os lugares, no sofá aonde eles deram o primeiro beijo, no quarto aonde tomavam vários banhos juntos. Na janela da sala, aonde ouviam música abraçados e olhando as estrelas. Sentia saudades dele, muitas saudades, e o tempo em vez de diminuir, apenas aumentava seu amor.

Lucas por sua vez andava distraído no trabalho, via o rosto de Pedro em todos os homens que atendia na delegacia. Confundia os nome das pessoas, e se pegou várias vezes chamando seus colegas de Pedro. Amava ele muito, sentia saudades dos abraços, do café na cama, de acordar todos os dias e ver seu rosto ao lado dele. Mas se não estavam mais juntos, o único culpado era ele. E ele tinha que aceitar a tristeza que era viver sem o grande amor de sua vida.

Na quarta-feira a noite Pedro estava no sofá assistindo um filme de romance, seus olhos estavam cheios de lágrimas porque o filme era emocionante. Havia uma panela de brigadeiro em seu colo, hoje havia sido o último dia de provas, agora só precisava esperar os resultados que sairiam na sexta, o que definiria se ele iria ou não fazer a formatura no domingo.

Assim que o filme acabou, a campainha tocou, ele se levantou secando o rosto, esperava que não fosse Lucas porque não sabia se resistiria a novas investidas dele, ficou surpreso quando abriu a porta e deu de cara com Luan.

- Luan, o que faz aqui?

- Beleza Pedro? Será que eu posso entrar?

- Claro, entra aí.

Quando fechou a porta, Pedro indicou o sofá e Luan se sentou calmo, esperou em silêncio, até que o irmão do ex disse sério:

- Estudando muito?

- Muito, mas hoje foi o ultimo dia. Domingo eu já estou me formando, se Deus quiser.

- Escuta, eu estou aqui para falar com você sobre o Lucas.

- Se veio tentar me convencer a voltar com ele, pode desistir.

- Cara, eu nunca vi ele tão triste. Não sai de casa a não ser para trabalhar. E eu tenho certeza que está trabalhando mau porque um dos colegas dele e um amigo meu e disse que ele já foi advertido por errar um boletim. Eu cheguei na casa dele esses dias e encontrei ela virada de cabeça para baixo. Nem quando a Mônica brigava com ele, ele ficava desse jeito. Sem falar que ele está chorando. Eu conheço o meu irmão Pedro, ele tem que estar no fundo do poço para chorar.

- Porque você ainda está aqui? Pensei que tivesse voltado com a sua mãe.

- Naquele dia que ele veio falar com você, quando ele voltou para casa subiu para o quarto e se trancou. Percebi que ele não estava bem e que precisaria de alguém, deixei mamãe voltar sozinha e fiquei aqui para ajudá-lo, mas nada que eu fiz até agora está adiantando.

- Me doí muito ouvir isso, mas ele que escolheu assim. Você não me entenderia.

- Ele tem medo Pedro, você tem que entendê-lo. Minha mãe só tem nós dois como filhos, não sabemos qual será sua reação se ela descobrir que ele e Gay. Nosso pai quando vivo gritava para todos que tinha muito orgulho de ter dois filhos héteros. Eu vou ser sincero com você, não acho que mamãe vai reagir mau, mas Lucas não sabe disso, tem medo, e depois tem o emprego dele, a vida dele, seria um baque muito grande para ele, passar por isso.

- Por isso sai da vida dele Luan, por isso o deixei livre, não posso e não quero exigir nada dele. Que ele faça o que achar certo.

- Você ainda o ama?

- Sim, penso nele todos os dias, sinto muitas saudades.

- Entendo, bom, eu fiz meu papel como irmão.

- Agradeço por ter vindo aqui, o Lucas tem sorte de ter um irmão como você.

- Posso ir na sua formatura?

- Claro. Seria uma honra. Ex cunhado.

- E agora amigo.

Os dois se abraçaram e Pedro levou Luan até a porta. Quando ele se foi, voltou para o sofá e dormiu ali mesmo, vendo televisão.

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Luan entrou dentro da casa do irmão segurando uma caixa de pizza. Esperava arrumar alguma forma de animar Lucas, o encontrou no sofá dormindo, o cutucou e ele acordou murmurando o nome de Pedro.

- Lucas sou eu, vem, vamos comer.

Ele se levantou ainda tonto de sono e foram juntos para a cozinha, quando Lucas se sentou, Luan já foi logo dizendo:

- Descobri uma maneira de você recuperar o Pedro.

- Como se ele quisesse voltar comigo.

- Claro que não, você está estabelecendo regras ridículas.

- Não posso mudar minha vida por causa desse amor. Eu amo ele, mas também amo meu emprego, minha família.

- Sua família não tem nada a ver com a sua vida. Você saiu de casa com 18 anos, estabeleceu sua vida sozinho. Casou, comprou uma casa, se tornou um bom delegado de policia, sem a ajuda de ninguém, nem de nosso pai e nem de nossa mãe. Então foda-se o que vão pensar ou falar de você. Quanto ao seu emprego, você tem dois anos muito bem construídos de carreira, não podem mandar você embora por causa disso, você passou em concurso publico. O emprego e por toda a vida.

- Mas...

- Mas nada. Eu estou cansado de sempre ter que trazer você a realidade, deixa de ser trouxa, você passou seis anos em um casamento, achando que estava feliz quando aquela vagabunda fez o que fez com você. Para de pensar no que os outros vão dizer. Você encontrou alguém que o faz feliz de todas as maneiras, que quer construir uma vida com você. Qual e o problema se ele e um homem? Você acha que eu no seu lugar iria ligar para o que a mamãe vai dizer? Eu duvido que ela vá te discriminar por isso. Mamãe tem muitas outras preocupações.

- Luan, não é assim que.. - Disse Lucas se levantando.

- Não e assim nada. Você senta aí e come essa pizza. E presta atenção no que eu vou dizer que você vai fazer.

Lucas olhou para o irmão e se sentou de novo na mesa. Ele tinha razão, só tinha medo que houvesse descobrido tarde demais. Prestou atenção no que o irmão lhe disse. Era um bom plano. Era o certo ao fazer, e ele estava pronto para aquilo.

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No domingo as 14:00 , Pedro estava com os colegas na segunda fila de cadeiras dos formandos de Psicologia. A turma era grande, e o nome de Pedro seria um dos últimos a serem chamados para subir no palco e pegar o diploma. Estava muito feliz. Como a tempos não se sentia. Olhou para o lado esquerdo e viu seus pais acenando para ele, a mãe com lágrimas nos olhos, e o pai sorridente, felizes por verem seu único filho terminar a faculdade. Atrás dos pais ele viu Luan e Cristina, também acenaram para ele felizes. Viu que Lucas não tinha vindo. Mas não ficou triste, não queria o amor de sua vida ali como se fossem apenas amigos. Não seria algo que ele iria lembrar depois com alegria.

O evento só iria começar as 14:20, todos os formandos já haviam tirado fotos com os familiares, agora esperavam o inicio da colocação de grau. Pedro já estava impaciente, e não era o único, vários colegas ao seu lado também estavam.

As 14:15 o diretor da faculdade subiu no palco, fez um discurso sobre a importância dos estudos e falou sobre o orgulho de ver os formandos em uma nova fase da vida. Então passou o microfone para um dos professores do curso, que lendo uma longa lista, começou a chamar aluno por aluno até o palco, conforme os alunos iam subindo eles pegavam o diploma, tiravam uma foto e iam abraçar os familiares, para depois voltar aos mesmo lugar de antes, aonde no final, como de costume, eles jogavam a beca para o alto juntos.

Quando chegou na letra P, Pedro ficou ainda mais nervoso, mas o professor olhou para ele, e não chamou seu nome.

-Bom, antes de continuarmos chamando os nomes, há alguém aqui que quer dizer algumas palavras. Dr Lucas, pode subir.

Sentiu o coração acelerar quando ouviu aquele nome, olhou para Luan que estava sorrindo e levantou o polegar para ele, Cristina parecia surpresa. No palco, Lucas subiu e pegou o microfone com o professor, então ficou um pouco a frente e olhando para a plateia, disse:

- Boa Tarde, gostaria de pedir desculpas pela quebra de protocolo, não e do meu costume interromper eventos importantes como esse, mas a vida e uma loucura, e eu decidi fazer a minha primeira.

Ele ficou em silêncio, e então olhou para Pedro:

- Existem momentos da nossa vida, em que tudo começa a dar errado, no meu caso, eu achava que tudo estava bem, mas não estava. Mas Deus, ele nunca erra, e prova sempre, que nada na nossa vida e por acaso. Então quando tudo está péssimo, quando você chora porque não aguenta mais a dor que é viver, ele coloca na sua vida, alguém para mudar tudo isso. E como muda.

Pedro já estava com lágrimas no olhos. Não conseguia acreditar que ele estava fazendo aquilo, se expondo daquela maneira.

- Eu conheci uma pessoa que virou meu mundo de cabeça para baixo, alguém que eu pensava ter um sentimento só de amigo, mas eu descobri que não, eu sempre o amei mais do que como amigo. Foi no primeiro beijo que eu percebi, que não importa o quanto a vida havia sido ruim comigo, eu queria ele para sempre ao meu lado. Mas por medo, por incertezas eu o afastei de mim, e tive que descobrir da pior maneira, que amar não e tão simples, requer dedicação. Força de vontade, mas acima de tudo, requer que você abra mão do que você acha que e certo, e do que realmente é.

Algumas pessoas na plateia estavam emocionadas com a declaração. Lucas desceu um pouco a escada em frente ao palco, e falou olhando para Pedro:

- Pedro, desculpa por ter sido um idiota, por não ter entendido o que eu sentia, mas acima de tudo, por não ter me entregue a esse amor da mesma maneira que você. Eu te amo, como nunca amei ninguém na minha vida. Eu não estou nem ai se minha família não irá aceitar esse amor, se eu vou ser demitido porque sou Gay. Eu abro mão de tudo ser for preciso para estar com você. Eu quero andar de mãos dadas com você sem vergonha, deixar você deitar no meu ombro na sala de cinema. Eu quero acordar e ver você ao meu lado, viajar juntos. Construir uma vida, uma família juntos. Eu quero Pedro, ir para o mesmo asilo que você, e passar o resto das nossas vidas, lado a lado. E estou aqui, em público, aonde você irá se tornar um psicólogo, para deixar bem claro, que nunca irei desistir de você. Quero agradecer por você ter sido e ser esse cara tão amável e paciente comigo.

Lucas desceu do palco e se aproximou de Pedro, estendeu a mão e ele segurou, então o levou para cima do palco, ficaram frente a frente.

- Eu sei que está muito cedo, mas eu tenho certeza do que eu sinto, então não vejo razão para esperar.

Pedro quase desmaiou quando Lucas começou a se ajoelhar em sua frente, a plateia foi ao delírio, várias pessoas gritando de alegria. Lucas então pegou uma caixinha no bolso e mostrou para Pedro, duas alianças de prata.

- Pedro, você quer casar comigo?

Como não conseguiu dizer nada devido a emoção, Pedro fez que sim com a cabeça, Lucas se levantou sorridente e os dois se beijaram apaixonados. Todos no ambiente aplaudiam muito, alguns colegas estavam chorando junto com Pedro, ele olhou para o local em que seus pais estavam também felizes, mas foi quando olhou a mãe de Lucas que ele chorou mais ainda, ela estava aplaudindo enlouquecidamente os dois e também estava muito emocionada.

- Bom, agora que ele me disse sim, eu peço desculpas novamente pela interrupção, vou me sentar ali ao lado da minha família, e ver o meu noivo, se formando.

Deu um ultimo beijo em Pedro e desceu para se sentar ao lado do irmão e da mãe, Pedro por sua vez secou as lágrimas e foi até o professor que o esperava em pé para entregar o seu diploma, quando ele desceu a escada em direção ao seus pais, ele se sentia o homem mais feliz do mundo. E nada que acontecesse, iria acabar com aquele sentimento.

Fim.

CleberLestrange
Enviado por CleberLestrange em 19/11/2016
Código do texto: T5828595
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