Quando eu Te Encontrei - Parte 4

Acordou no dia seguinte mais calmo, o sol entrava pela janela da sala, começava no trabalho as 11:00, tinha que conversar com a ex esposa antes de ir trabalhar. Se levantou e foi a cozinha tomar café, encontrou Luciana sentada na mesa.

- Amor, bom dia. Chegou que horas ontem?

- Não sei, acho que era 1:00 da manhã.

- Nossa, muito trabalho na delegacia?

- Sim.

- Porque você dormiu no sofá?

- Não quis te acordar. Tome logo seu café, precisamos conversar.

- Conversar? Sobre o que?

- Você vai saber.

Pegando um frasco de Iogurte ele voltou para a sala. Luciana seguiu olhando ele com medo. O marido parecia sério demais, mais sério do que o normal.

Depois de tomar o iogurte , Lucas subiu para o quarto, tomou um banho rápido e vestiu a roupa de trabalho, por ser delegado de policia, usava apenas uma camiseta branca com o emblema da corporação e uma calça Jeans com uma bota preta. Arrumou o distintivo na cintura. Então puxou uma pequena mala do guarda-roupa, e tirou várias peças. Pegou o suficiente para dois dias, jogou seus produtos de higiene por cima, juntamente com seus documentos, então desceu para a sala novamente, encontrou a esposa sentada no sofá. Ela se levantou quando viu ele com a mala.

- Aonde você vai com essa mala?

- Senta.

Ela obedeceu e ele ficou em pé em sua frente.

- Quero me separar de você. Estou saindo dessa casa, você tem dois dias para se mudar daqui, depois eu volto, já que essa casa e minha. Você vai sumir da minha vida e fingir que nunca me conheceu.

- O que? Você tá louco? Separar, porque?

- Você sabe o porque, não preciso te falar, e só você pensar nas coisas que vem fazendo, que saberá o porque. Só precisa saber que eu cheguei mais cedo do trabalho ontem.

- Mas você disse que chegou 1:00 da manhã e...

Ela ficou em silêncio, então começou a chorar.

- O que você viu?

- O suficiente.

- Foi um engano. Ele me obrigou.

- Imaginei que fosse dizer isso. Dissimulada como você é. Espero que tenha ouvido bem, dois dias para sair da minha casa, se eu voltar e você ainda estiver aqui, eu mesmo a expulso e jogo todas as suas coisas no meio da rua.

- Você não seria capaz de fazer isso comigo.

Lucas já estava chegando na porta empurrando a mala, quando disse sem olhar para trás:

- A única coisa que não sou capaz de fazer, e de matar você, descobri isso ontem quando vi o que eu vi. Havia uma arma no meu carro. Não esqueça, eu sou delegado, Então agradeça a Deus, e ao meu pai por ainda estar viva. E não ouse em me procurar algum dia, estou terminando com você, e a culpa e toda sua.

Abriu a porta e saiu, então olhou para ela chorando no sofá, não se comoveu com suas lágrimas, sabia que eram de mentira, nunca mais ela iria fazê-lo sofrer. ___________________________________________________________

Quando chegou no carro, Lucas jogou a mala e entrou, encostou a cabeça no volante e chorou muito. Sentia seu coração em pedaços, via um relacionamento de mais de cinco anos sendo jogado fora por uma traição. Não podia acreditar que a mulher que ele amava desde quando era um jovem, havia feito aquilo com ele, todos os seus sonhos, jogados no lixo por uma traição. Como seguir em frente com aquela magoa tão forte no coração?

Secou as lágrimas e ligou o carro, trabalhar seria uma ótima forma de se distrair. Chegou na delegacia em menos de 20 minutos. Deixou o carro na porta e arrumando a arma na cintura entrou no local de trabalho. Encontro o Policial Hamilton interrogando dois jovens, cumprimentou com um aceno de mão e entrou em sua sala. Assim que se sentou em sua cadeira o policial entrou com os dois em sua sala.

- Bom dia Doutor.

- Bom dia Hamilton, o que houve?

- Esses dois foram pegos assaltando um mercado aqui perto.

- A mão armada?

- Sim. As duas armas já foram levadas para o galpão.

Os dois estavam algemados e de cabeça baixa.

- Tudo bem Hamilton, deixe os aqui, vou interrogá-los e qualquer coisa lhe chamo.

Assim Lucas passou o resto do dia trabalhando, a tarde um pouco cansado ele se levantou e foi até um restaurante que havia em frente almoçar.

Trabalhar como delegado de policia era algo que trazia riscos, sabia que podia ser vitima de algum atentado a qualquer momento devido a grande quantidade de pessoas que já havia prendido em tão pouco tempo no trabalho, Tinha muitos inimigos e essa era a parte ruim. A parte boa era fazer justiça em uma cidade tão perigosa como São Paulo, e ver o agradecimento de pessoas que reconheciam a importância do seu trabalho.

Quando chegou no restaurante encontrou Roberta atrás do balcão como sempre. Ela era uma jovem de 22 anos que ajudava a mãe no restaurante desde quando tinha 15 anos. Lucas era cliente desde quando havia se entrado para aquela delegacia, Roberta havia se tornado uma amiga, e muitas vezes uma confidente.

- Olha o doutor aí, quanto tempo.

- Roberta, eu vim aqui ontem.

- Haha, eu sei, to brincando. O mesmo lugar de sempre?

- Claro, já estou indo para lá.

Lucas se dirigiu para uma mesa nos fundos do restaurante, era o local mais calmo do ambiente e ficava próximo a televisão, ele sempre almoçava no horário do programa de esportes. Era viciado em futebol e fanático pelo Corinthians. O restaurante estava um pouco vazio aquele horário, o que o deixava mais calmo ainda. Depois que se ajeitou , Roberta se aproximou toda sorridente.

- E ai, o que vai querer hoje?

- Só um bife bem grelhado com salada.

- Só?

- E, bebi ontem, tô meio inchado, Traz um suco de limão também.

- Você bebeu? Mentira.

- É uma história bem longa, depois eu te conto.

Ela saiu piscando o olho e entrou na cozinha. Lucas tirou o celular do bolso e começou a mexer nos contatos, queria ligar para sua mãe e perguntar se podia passar aqueles dois dias na casa dela, aquele hora ela já devia saber de tudo, mas depois de pensar um pouco, achou que não queria falar com ela sobre aquilo, não naquele momento, antes de fechar o celular viu o numero de Pedro salvo. Parou alguns instantes e pensou.

Se não fosse por ele não estaria vivo, ainda não entendia muito bem como tinha parado naquela ponte, nunca havia pensado em se matar em toda sua vida, mas um motivo para ele nunca mais beber. Pensou em ligar para ele, mas o que diria? Muito obrigado, como você está? Queria que eles se tornassem amigos, mas agora se sentia com vergonha, por ter ficado tão vulnerável no dia anterior. Pedro havia sido muito gentil. Mas qual seria a justificativa para um novo encontro? Podiam marcar de beber juntos, mas pelo que pode perceber, ele não gostava de beber. Um cinema seria algo muito Gay para dois homens que não se conheciam. Estava divido. Guardou o celular quando Roberta se aproximou com a bandeja na mão, depois que o serviu ela se sentou como sempre sem convite.

- E ai como você está?

- Mau, muito mau.

- Nossa, o que houve?

- Terminei com a minha esposa.

- Mentira.

- Sério.

Falando baixo ele contou a ela como foi o dia anterior, desde quando saiu do trabalho até hoje de manhã quando conversou com a esposa. Roberta ouviu tudo em silêncio.

- E para onde você vai agora?

- Vou ficar em um hotel. Eu ia pra casa da minha mãe, mas ela já deve saber de tudo e eu ainda não estou pronto para conversar com ela sobre isso. Quando a poeira baixar um pouco eu falo com ela.

- Nossa, nunca imaginei que a Mônica fosse capaz disso. Quer dizer, nunca achei que ela fosse essa santa que você tanto defendia, mas chegar a esse ponto foi demais.

- Se você está chocada, imagina eu.

- Mas olha, bola para frente, aproveita que está solteiro e vai se divertir, porque você não chama esse tal de Pedro para sair? Vão para uma balada, peguem algumas garotas.

- Não quero saber de mulheres tão cedo. E não sei.. pelo que eu vi o Pedro não e muito de sair, parece ser um cara muito sério. Ele nem bebe. E não sei o que falar com ele quando eu ligar. Na verdade eu nem sei se vou ligar.

- Simples, diz que achou ele um cara legal e que quer ser amigo. Pergunta o que ele gosta de fazer. E marquem algo.

- Não sei.

- Para de ser idiota. Você só tem eu como amiga, Por isso que a Mônica te traiu, você vive nesse seu mundo fechado, isolado de todos. Sua vida era só Luciana e trabalho. Chega disso. Você ainda e jovem, 25 anos, uma vida toda pela frente. Liga logo para esse cara e vão sair pelas noites. Você acha que a Luciana vai ficar sofrendo? Nunca, ela já deve estar com o outro cara dando para ele horrores.

- Roberta, sua sinceridade as vezes me assusta.

- Por isso que você me ama.

Mandando um beijo ela voltou para a cozinha, Lucas terminou de almoçar e voltou para a delegacia, assim que se sentou em sua mesa puxou o celular de novo. Discou o celular de Pedro e ficou feliz quando ele atendeu no segundo toque.

- Alô.

- Alô, poderia falar com o Pedro?

- E ele mesmo, quem gostaria?

- E o Lucas, tudo bem Pedro?

- Lucas, tudo bem cara e você? Pensei que não iria me ligar.

- Não sabia o que dizer. Por isso não liguei antes. Estou bem e você?

- De boa, acabei de almoçar, estou voltando para o consultório.

- Atrapalho?

- Claro que não, tenho alguns minutos ainda. E ai como foi as coisas na sua casa? Conversou com ela?

- Sim, foram mais calmas do que eu esperava que fosse. Dei dois dias para ela sair de casa. Depois de amanhã eu volto.

- E você vai ficar aonde?

- Em um hotel.

- Entendo. E como você está?

- Bom, não estou feliz, mas devo dizer que estou melhor do que imaginei que estaria, o impacto foi menor. Sempre que imaginava algo do tipo acontecendo comigo, achava que não iria aguentar.

- Acontece, o tempo ajuda. Daqui a alguns dias você vai estar bem melhor.

- Espero que sim.

Ficaram alguns segundos em silêncio. Até que Pedro disse:

- Olha, cheguei no escritório, preciso desligar.

- Ahh claro, tudo bem.

- Nós falamos depois, qualquer coisa me liga.

- Ok. Boa Tarde.

- Pra você também.

Lucas colocou o celular em cima da mesa, mas pegou logo em seguida, pensou alguns segundos, então mandou um SMS:

" Gostaria de marcar uma consulta"

Demorou um pouco e Pedro respondeu de volta:

" Ainda não sou formado, você não se sentiria muito seguro falando com um quase profissional... kkkkk"

" Não tenho problemas com isso. Você e muito bom, mesmo não sendo profissional".

" Ok então, Nove da noite, na minha casa, gosto de vinho tinto"

" Ok, pode mandar o endereço, to indo comprar o vinho agora"

Ele respondeu com o endereço e Lucas escreveu em papel que colocou no bolso. Encostou a cabeça na cadeira e sorriu.

Estava se sentindo leve, afinal havia perdido a esposa, mas como Roberta havia dito, ele era jovem e podia muito bem curtir a vida. Pedro era um cara legal e estava ajudando muito ele. Iria fazer de tudo para se tornarem amigos. Pegou a carteira e saiu da delegacia, foi de carro até um supermercado próximo e comprou o melhor vinho que achou. Depois voltou para o trabalho e ficou a tarde inteira esperando a hora de ir para a casa do Pedro.

CleberLestrange
Enviado por CleberLestrange em 10/11/2016
Reeditado em 10/11/2016
Código do texto: T5819465
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