Meias verdades ou Meias mentiras?

Marisa, 22 anos, estagiária de uma multinacional, estudante de RH, caminha em passos largos de guarda-chuva roxo. A cada passo não foi possível deter a ação dos ventos nos respingos, e as poças de água molharam seus pés calçados de salto alto aberto, o que deixou de fora suas unhas vermelhas bem feitas molhadas.

Ela saltou de um carro há cerca de 50 metros e vinha em direção oposta ao sentido dos carros, que pelo horário, por volta das 01h30 da manhã já eram poucos transitando.

Os circuitos internos da loja não puderam registrar sua expressão nervosa, com vestido roxo, cabelos longos castanhos escuros, braceletes, anéis e relógio feminino no pulso.

Com a mão direita ela segurava o guarda-chuva e com a mão esquerda, a pequena bolsa.

O carro que tinha saltado 10 minutos antes era um Audi Vermelho, ano 2015, com insufilme aplicado nos vidros.

Do quadril para baixo seu vestido, pernas, canelas e pés estavam encharcados. Na parte de cima somente seu rosto estava molhado. Não pela chuva, mas pelas lágrimas que desciam sem parar borrando a sua maquiagem.

Após 5 minutos, o Audi vermelho apareceu. O motorista a identificou na calçada e reduziu a velocidade. Ele abaixou levemente o vidro do lado carona e tentou convencê-la.

_ Marisa, entre no carro.

_Não. Não quero_ela disse sem reduzir seus passos.

Ele percebendo que ela não dava atenção e não parou para conversar engatou a ré na contra-mão e foi tentando segui-la.

_Marisa, entre no carro. Eu vou te levar.

_Não. Seu cachorro. Vai levar a Paula.

_Que Paula. Você está maluca. Ela é minha secretária.

_Você acha que não li? Você acha que eu sou tola?

_Ela é casada e você está criando coisas na sua cabeça.

_Eu li suas mensagens no whatsapp.

_Você está enganada.

Ela parou por alguns segundos, olhou para ele e gritou com as lágrimas escorrendo no rosto branco, sem espinhas e com maquiagem já borrada:_Vê se me esquece! Vai embora... Eu te odeio.

Marcos, 32 anos, empreendedor, sócio de um restaurante fast-food, franquia de sucesso, recém-inaugurado, 1,75m, atlético, cabelos curtos estava com Marisa, sua nova namorada, numa festa de amigos.

Marisa tinha conhecido Marcos na fila do banco por acaso, quando um envelope dela caiu no chão há uns 4 meses, ele pegou e iniciou uma conversa. Foi a oportunidade para o galanteador Marcos pegar whatsapp e depois entrar em contato, convidando-a para sair.

Ela saltou do carro porque tinha ameaçado a avançar em Marcos e por segurança ele a deixou no meio da chuva após gritos estridentes dentro do veículo. Tudo porque o mesmo aplicativo que os aproximaram também tinha sido o pivô da briga. Há 40 minutos, ao parar no posto de gasolina para abastecer, desceu do carro para ir no banheiro da loja de conveniência. Ele deixou o celular no carro, carregando a bateria.

Nos 5 minutos que ficou fora do carro, ela abriu o celular dele e foi direto no aplicativo tocando diretamente no histórico recente e focou na conversa com uma tal de "Paulinha Secretária":

Paulinha Secretária: Que experiência deliciosa.

Marcos: Eu também achei.

Paulinha Secretária: Pelo menos uma vez por semana eu quero.

Quando Marcos retornou começaram os interrogamentos de Marisa, chorando, gritando e apontando o dedo na cara do jovem empreendedor. Ele entrou no carro, deu partida, tentando entender. Marisa chamou a atenção de todos os frentistas.

Depois de tentar em vão convencê-la a entrar no carro, Marcos não quis insistir. Acelerou, parou 30 metros adiante e pegou o celular. Abriu o aplicativo e foi direto no histórico da conversa com a Paula.

Marcos: Você experimentou o novo sabor do lanche que chegou.

Paulinha Secretária: Sim, pedi para fazer um para mim ontem.

Marcos: Eu também experimentei ontem. Vai fazer sucesso. O que você achou?

Paulinha Secretária: Que experiência deliciosa.

Marcos: Eu também achei.

Paulinha Secretária: Pelo menos uma vez por semana eu quero.

(Fim).

Anderson Heiz - 10/11/2016