Quando eu Te Encontrei - Parte 3

Pedro fazia caminhada na avenida em que Lucas estava quando viu o homem prestes a se jogar da ponte. Correu muito rápido em sua direção e conseguiu chegar a tempo de segurá-lo pela camisa, mas com a força que puxou, acabou que os dois caíram. Pedro por cima de Lucas. Por alguns segundos Pedro olhou para Lucas e sua primeira pergunta foi porque um homem tão bonito e jovem queria se matar.

- Você e louco moço?

- Sai de cima de mim por favor.

Pedro se levantou e estendeu a mão para Lucas, mas este a ignorou e se levantou sozinho, se encostou no ferro da ponte e ficou olhando a cidade. Então abaixou a cabeça e começou a chorar. Pedro por instinto puxou Lucas para si e o abraçou com força. O rapaz se deixou deitar a cabeça no ombro do desconhecido. E ficou ali por longos minutos. Pedro pensou que ele devia estar em uma fase muito ruim para pensar em se suicidar, sua mãe sempre dizia que as pessoas só pensavam neste tipo de atitude quando chegavam em seu limite. Mas não era o momento de se questionar sobre aquilo, aquele cara precisava de alguém, e ele faria o possível para ajudá-lo. Acreditava que nada era por acaso, e sentiu que o destino queria uma atitude dele quanto aquele homem.

Quando Lucas se afastou parecia mais leve, como se tivesse colocado todos os seus problemas e dor, no ombro de Pedro.

- Desculpa, desculpa mesmo. E que eu estou muito mau.

- Sem problemas cara, estou aqui para ajudar. Aquele carro e seu?

- Sim.

- O que acha de darmos uma volta, vamos conversar em um local mais calmo.

- Não quero te alugar, não precisa se preocupar, eu já estou melhor.

- Não vai me ocupar em nada. Eu estou live essa noite.

- Tem certeza?

- Absoluta.

Os dois foram para o carro e Pedro assumiu a direção, sabia que Lucas não estava em condições de dirigir. Ali dentro, não conseguiu deixar de notar o quanto Lucas era bonito. Tinha um rosto jovem, no máximo 25 anos de idade. Olhos azuis escuro, barba meio a fazer, o corpo musculoso. Sua primeira impressão foi a de um garoto no corpo de um adulto, sua expressão era serena, parecia muito mais calmo, estava com a cabeça encostada no vidro do carro, quase dormindo.

- Para onde vamos?

- Não sei, o que você sugere?

- Tem uma praça ali no centro. Tem bancos e uma pequena área verde. Podemos ir lá.

- Você me mostra aonde é?

- Claro.

Lucas foi mostrando o caminho para Pedro e eles chegaram ali em menos de 20 minutos. Estacionaram o carro em uma calçada e saíram para a praça, aquela hora era um pouco movimentado,não havia bancos para se sentar. Mas a frente havia uma área verde, eles se sentaram na grama , Lucas ficou de lado, ainda segurando a garrafa de Whisky. Pedro esticou as pernas e olhou para ele sério:

- E ai, o que aconteceu com você? Porque queria se matar?

- Eu não queria me matar, foi um acidente, bebi um pouco demais e acabei tropeçando.

- Mas porque você estava em um local tão escuro?

- Estava dirigindo por São Paulo e decidi parar um pouco para pensar, sentir a brisa do vento. Sabe como é a sensação de achar que está fazendo algo certo e descobrir que na verdade você sempre esteve errado?

- Sim, várias vezes, isso acontece bastante no meu trabalho.

- Então. Hoje eu voltei do meu trabalho e quando cheguei em casa encontrei minha esposa na

cama com outro cara.

- Nossa cara isso e mau. Mas porque isso significa que você fez algo errado?

- Meu pai sempre me disse que só procuramos na rua o que não encontramos em casa, se minha

esposa visse em mim um bom esposo, não iria fazer isso comigo. Eu devo ter sido um péssimo

marido para ela chegar a esse ponto.

- Nossa, estou surpreso com esse pensamento. Ele e tão errado.

- Porque errado?

Pedro mudou de posição, agora estava frente a frente com Lucas.

- Vamos lá, antes de mais nada, o meu nome e Pedro, muito prazer.

Ele estendeu a mão e Lucas apertou sorrindo.

- O meu e Lucas, prazer. E obrigado por ter salvo a minha vida.

- Sem problemas, fica me devendo essa. Em segundo lugar, eu estou no terceiro ano da faculdade de psicologia, então você encontrou a pessoa certa para te ajudar.

- Ahh não cara, o que eu menos preciso e de alguém me dizendo que eu sou louco.

- Então e isso que você acha que os psicólogos fazem? Logo você que trabalha na policia e sabe

como e nosso trabalho?

- Como sabe que eu trabalho na policia?

- O seu distintivo na cintura, a arma no banco de trás do seu carro. Sou bem observador.

- Eu sou delegado de policia.

- Olha, então eu estou de frente com uma autoridade máxima, tenho que tomar cuidado né?

- Muito cuidado.

Os dois caíram na gargalhada, algumas pessoas ao redor olharam surpresas.

- Então seu psicólogo, o que vai me dizer sobre a vida? Quer que eu deite na grama para ficar

mais parecido com uma consulta?

- Não, isso não e uma consulta. Estamos apenas conversando e nos conhecendo melhor, e eu aproveito para exercitar meus conhecimentos. E você não ganha tão bem para pagar uma consulta comigo.

- Olha, então estou com um psicólogo de alto nível e não sabia?

- Haha, não, mas falando sério agora. Eu estou aqui para ajudar você, e para isso, vou fazer algumas perguntas.. Você ama sua esposa?

- Sim, começamos a namorar muito cedo. Ainda estávamos no ensino médio.

- Você já traiu ela alguma vez?

- Nunca, e não foi por falta de oportunidades.

- Você e romântico? Tenta sempre agradar ela?

- Sim, hoje mesmo eu estava levando uma rosa para ela quando descobri.

- Como e o sexo entre vocês?

- Não fazemos todo dia, mas nunca passamos mais de dois dias sem fazer, e eu sempre procurava fazer algo mais, como um jantar romântico antes.

- Com qual frequência vocês brigam?

- Pouco, nunca chegamos a brigar, apenas discussões. Mas conversavamos e tudo era resolvido.

- Por qual motivo a última?

- Ela não se dá bem com a minha mãe, e minha mãe queria ir passar o final de semana conosco, ela começou a falar algumas coisas que eu não gostei, Ai discutimos. Mas depois ela me pediu desculpas porque sabia que por mais defeitos que minha mãe tivesse, ela é minha mãe.

Pedro ficou alguns minutos em silêncio com Lucas olhando para ele, então perguntou:

- Você não vai falar nada?

- Calma, eu estava juntando as ideias. Não e tão simples quanto parece.

- Entendi.

- Olha, toda ação gera uma reação. Com certeza a sua esposa tem os motivos dela para te trair, com certeza há algo em você que ela não gosta, que ela não soube lidar. Mas também pode-se dizer que a traição dela foi apenas uma oportunidade que tenha surgido. Ela conheceu alguém, se sentiu atraída, não resistiu e foi para cama com essa pessoa.

- Isso não justifica.

- Não, eu não disse que justifica. Apenas digo, que por mais errada que ela esteja, ela não fez isso porque te odeia, ou porque quer te ver mau, apenas porque não está satisfeita com algo, ou porque não resistiu as tentações da carne.

- Não estou entendendo.

- A culpa não e sua Lucas, você pode ser um marido imperfeito, mas da sua maneira você sempre fez tudo que pode para fazê-la feliz. Você sempre a agradou da sua maneira. A base sólida para qualquer relacionamento e a conversa. Se você não está satisfeito com algo, fale ao seu parceiro. Conte o que está lhe deixando mau, busquem maneira juntos de resolverem o problema, mas não traiam, essa não e a solução. Então você não pode se sentir um péssimo marido por um erro que foi da sua esposa. Você nunca obrigou ela a ficar com você, se havia algo em você que não a agrada, ela que tem que dizer, você não pode ler pensamentos.

- Mas mesmo assim, me sinto tão mau.

- Claro que você se sente, você ama ela, sempre confiou nela, está noivo dela.

- Como sabe que eu estou noivo?

- A aliança no sua mão direita.

Lucas olhou sua mão e tirou a aliança do dedo, então jogou ela em um bueiro próximo.

- Não existe mais noivado.

- Como sua esposa reagiu quando você achou ela na cama com outro?

- Ela não viu, eu cheguei em silêncio porque queria fazer uma surpresa, quando cheguei no corredor percebi os barulhos, a porta estava meio aberta, eu vi pela fresta, ela pelada em cima dele.

- Não preciso de detalhes.

- Desculpa.

- Estou surpreso, você deve ser um ótimo delegado, Outro cara no seu lugar teria matado os dois.

- Não vou dizer que não pensei nisso, mas minha arma estava no carro, e eu sabia que essa não seria a solução, amo meu emprego e minha vida, não queria estragar o que conquistei por causa de uma ordinária como ela.

- E o que vai fazer agora?

- Bom, hoje eu não volto para casa, vou dormir no meu carro, amanhã eu vou lá e vou expulsá-la da minha casa, tudo ali e meu, construí com o esforço do meu trabalho e com a ajuda do meu pai antes dele falecer, nada e dela, então ela que vai sair, ainda bem que eu descobri isso antes de casarmos, imagina ter que dividir tudo o que eu conquistei com uma vagabunda como ela.

- Mas ela vai para onde?

- Para o inferno, problema dela para aonde ela vai. Isso não é problema meu.

- Bom, não posso tirar sua razão, mas você vai continuar fingindo que não sabe de nada?

- Sim, não vou falar para ela o motivo. Isso tornaria público o caso, eu sou delegado, já sou um pouco conhecido na cidade, não pegaria bem para minha imagem.

Lucas se levantou e estendeu a mão para Pedro, então o puxou para um forte abraço, mais forte

do que o primeiro.

- Muito obrigado por tudo, você salvou minha vida duas vezes, primeiro quando me impediu de cair naquela ponte, e agora com seus conselhos. Espero encontra-lo mais vezes, quero ser seu amigo.

- Claro, foi um prazer conhecer você.

- Vamos, eu vou deixar você em casa agora.

- Não precisa, eu estou fazendo caminhada, posso ir a pé.

- Não, eu insisto.

No caminho de volta, Pedro estendeu a mão para o som do carro e perguntou:

- Posso ligar?

- Sim.

Quando ligou, foi passando as músicas, até que chegaram em uma do Coldplay, "Viva La Vida", começaram a cantar dentro do carro. Alto e felizes. Quando chegaram na porta do prédio em que Pedro morava, Lucas se sentiu triste por ter que se despedir. Pedro percebeu e disse sorrindo:

- Calma, nós vamos nos ver outras vezes, me dá seu celular.

- Pra que?

- Quero salvar meu numero.

- Ahh.

Lucas estendeu o celular e Pedro devolveu dizendo.

- Salvei meu celular pessoal e telefone do escritório em que trabalho. Se você ligar no celular e eu não atender, e porque estou trabalhando, ai você pode me ligar no fixo.

- Pode ter certeza que eu vou ligar.

- Vou esperar. Boa Noite.

- Boa Noite.

Pedro saiu do carro e Lucas ficou olhando ele até entrar dentro do prédio. Então buzinou e saiu em direção a sua casa. No caminho foi pensando na bagunça que estava sua vida, como Mônica pode ter feito aquilo com ele, e como ele depois de tanto tempo juntos, iria seguir em frente. A única coisa boa de tudo aquilo foi conhecer Pedro, agora ele tinha um amigo. Alguém que podia contar. Colocou o carro dentro da garagem e entrou dentro de casa. Estava tudo escuro. Acendeu a luz da sala e foi até a cozinha, abriu a geladeira e pegou uma garrafa de água. Havia um prato de comida, e um bilhete em cima. " Boa Noite amor". Pegou o prato e jogou no lixo. Subiu as escadas e foi em direção ao quarto, se sentiu com nojo, a esposa estava deitada dormindo. Pensou em acordá-la, mas achou melhor deixar para o dia seguinte, abriu o guarda-roupa e pegou um lençol, trocou de roupa e usando algo de dormir, desceu para a sala, ligou a TV e se deitou no sofá, alguns minutos depois dormiu.

CleberLestrange
Enviado por CleberLestrange em 09/11/2016
Código do texto: T5818532
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