O ônibus parou!

Na vida nem tudo são coincidências . Eu estava no mesmo lugar que ele durante sete dias, talvez nos olhamos nos lugares por onde passamos, nos sentamos às mesma mesa, ou até estávamos na mesma praia, nessa fase eu queria conduzir minha vida tal qual o mar e um ônibus, até parece um paradoxo, mas não é.

Gosto da vida se movimentando, a agitação do mar me acalma, a do ônibus me inquieta e ele significou as duas coisas para mim: me agitava e me acalmava, simultaneamente. Nossos “bons-dias” eram mar: ora calmos, ora agitados, ora me surpreendiam e outrora me avassalavam, afogando-me em uma sede tamanha que apertava-me o coração... eu queria ver o mar.

Os dias , semanas e meses se passaram e decidi voltar àquele lugar. O ônibus se movimentava tal qual meu coração, o ar me esfriava ajudando a amenizar o suor das minhas mãos e então o ônibus parou e junto com ele minha esperança de o rever. Naquele momento eu tentava a sorte, se conseguiria ao menos um abraço daquele que me lembrava todos os dias o quanto importava minha existência.

Enfim, após horas pude chegar ao ônibus, ao mar, a você... sei que um dia você vai ler essa minha escrita. Por medo de me afogar nesse mar, temi lançar-me em suas ondas, lembrei que antes havia tido um afogamento marítimo e um atropelamento em um ônibus.

Mas ele não veio de ímpeto com marés, chegou calmo, quase não o conhecia e foi me levando a mergulhar antes de eu me perder quase por completo (é que nesse jogo aquático ele também forma meu salva-vidas) . Entre beijos gélidos, inundava-me o corpo de sede, desejo, e nesse momento resolvi “pedir parada” , aquele movimento me deixara tonta.

Então resolvi voltar para o ônibus, sem o mesmo movimento, sem as ondas, sem o líquido, sem o ar... despida n’alma. Tive o intuito inicial de apenas conhecer o mar e depois tive que dizer “adeus”. Hoje continuo a lembrar de cada gota que formara aquele mar que hoje nele já não posso me afogar, enfim o  ônibus passou.

(13/10/2016)