Um lago seco no meio do oceano

Somos dois corpos felizes nesse barco. Você deitado do meu lado tenta ler o que a minha mente esconde. Eu estou de olhos fechados, mas consigo ver ver os seus, estáticos, tentando esconder algo que te faz se sentir angustiado. Mas nós não temos problemas. Sou livre, você me disse na última noite, no meio de tantas cervejas naquela sua sala cheias de quadros. Eu concordei quando disse que me sinto feliz em saber disso.

Gosto de estar em Angra dos Reis, gosto porque estamos juntos, livres, sem responsabilidades ou obrigações. Nós nos ocupamos um do outro, você me conta dos três últimos anos que viveu na Europa, e eu de como sou feliz morando no Rio de Janeiro.

L, o mundo não é o suficiente, e você me fez entender isso quando me abordou no meio de um show no boulevard com o seu sorriso desajeitado, e eu achando engraçadinho você querer me abraçar. Suas mãos ainda tremem quando me beija e eu acho que já comecei a me sentir apaixonado de novo. Descobri isso quando no meio da festa da sua prima, nós escapamos por cinco minutos para a saída de incêndio para termos um tempo só nosso e fomos pegos pelos vizinhos do andar de cima. Fomos dois bêbados correndo escada abaixo.

Agora estamos aqui, livres como todos os dias. Você do outro lado do barco, e eu tentando diminuir a angonia dos seus olhos, daqui, do outro lado desse barco.

Quero que saiba que gosto do seu cheiro e do seu modo de agradecer as coisas que te acontecem, L. Nós somos duas pessoas como tantas outras, mas estamos nos ligando por um tempo quase eterno.

Gosto da maneira como você vira as páginas dos textos que traduz em inglês arcaico, e me conta sobre como as pessoas adoram esbarrar em você, ou como você adora ir a feira comigo só para comer pastel com caldo de cana. E não há nada que você não saiba de mim, não se preocupe. Eu tenho mesmo esse lago seco no meio do oceano, não tenha medo, L.

Yuri Santos
Enviado por Yuri Santos em 04/09/2016
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