O ENCONTRO

Estar ali ainda era novidade para mim, a casa tinha cheiro de madeira nova, e os móveis estavam bem lustrados, conseguia ver o meu reflexo sobre eles de longe, alguns porta-retratos mostravam um casal de cabelos grisalhos, a senhora tinha um rosto pálido e olhos negros pequenos e apesar dos muitos fios brancos aparentava um ar jovial; as marcas em evidência pelo rosto transmitiam certa idade ao senhor que a acompanhava, ele tinha um nariz espaçoso com uma pinta bem no meio que o deixava um tanto engraçado, imaginei que eles pudessem ser meus avôs.

Além da fascinante mobília, havia alguns objetos refinados; vasos chineses eram o cartão de visita no hall de entrada da casa, talheres de prata fina italiana na sala de jantar, cortinas de pura seda e tudo bem ajeitado, aprontado com muito capricho. Eu nunca tinha visto nada igual em toda a minha vida, nunca tive nada parecido, aliás, nunca tive nada que de fato fosse meu, desde cedo aprendi a dividir as roupas, o quarto, a comida e até os poucos e velhos brinquedos do orfanato, mas nunca liguei para isso, na verdade aprender a dividir sempre me trouxe bons amigos.

Tentava imaginar como ela seria: a minha mãe! Tomara que fosse baixinha, assim diriam que éramos parecidas. Será que ela tinha olhos claros? Cabelos negros? Será que ela sabe fazer bolo de chocolate? Uma vez uma das meninas no orfanato me disse que em uma das casas que ela ficou a mãe sempre fazia bolo de chocolate aos domingos... Será que se eu pedir ela me conta estórias antes de dormir? Será que ela me deixa pentear os seus cabelos? Antes que eu pudesse na minha modesta imaginação viajar em meus pensamentos e encontrar as respostas, uma silueta acanhada vinha do segundo andar com passadas tão leves que o chão agora parecia nuvem; a irmã Madalena segurou a minha mão, e naquele momento senti que ela estava tão feliz quanto eu, ambas ficamos paradas de pé em frente à escada, meu coração batia tão apressado e alto, deixei ele livre para se manifestar do jeito que quisesse, já não era mais dona de mim, a alegria me tinha por prisioneira... Mais alguns segundos e lá estava ela, abaixando-se e olhando diretamente para mim sorrindo com os olhos; seus braços escolheram se manifestar antes que qualquer palavra o fizesse, e sem que eu me desse conta eles estavam entrelaçados a mim, naquele momento eu tinha tudo, e o meu tudo não era uma casa linda cheirando à madeira nova, nem cortinas de seda ou vasos chineses, o meu tudo era uma única mulher, era a minha mãe.