AMOR E CHAMAS VI

Mais uma vez, Morfeu:

Em meio à planície sem fim, circundada pela abóboda celeste,
Onde não havia movimentos, nem árvores, nem vida, nem nada,
Estava ela, como um oásis em meu inferno negro e solitário.
Os longos cabelos, o expressivo olhar, a camiseta a escorregar pelos ombros,
Deixando à mostra os belos seios, despertavam-me uma ardente paixão.

O amor estava ali naquela planície árida e silenciosa. Não nela, em mim.
Nas palavras não pronunciadas, tomei sua cabeça em meu peito.
Senti, em seus suspiros, a vida que entrava cortando minhas entranhas.
Em dor de amor, ousei ter mais, queria os tesouros enterrados em sua alma.

Era tão bela e era tão minha. Entrei. E a vi mais desnuda que nunca.
Contemplei todos os seus encantos, e vi todos os seus abismos.
Egoisticamente, quis tomá-los para mim, sentir cada parte desse ser,
E a tudo possuí com delicadeza, maculando-a com a minha escuridão.

Inespudoradamente, o meu corpo se enlaçava ao dela, tocando cada parte.
Em êxtase crescente, deitei-me por cima, coloquei-me entre suas pernas,
E a senti pequena. Monstro virei. Devorador do anjo que veio a mim.
Meus movimentos a espremiam entre a terra árida e o peso de meu corpo.

O anjo, agora maculado, gemia com o prazer dos movimentos constantes,
Seus olhos brilhavam ao me contemplar acima, fechando-lhe todo o resto da visão.
Nada mais havia. Nada mais importava. O momento mágico estava ali,
E ali transbordamos em um orgasmo onírico. Corpos e mentes unos.

Ao levantar, suas costas continham a terra sobre a qual se deitara,
Como que se a tórrida e infecunda terra também a quisesse possuir.
Sem palavras, o amor pleno havia acontecido.
Na comunhão, tirei mais do que Ela pudesse imaginar:
Deixei-a sem sombras, e o abismo lhe fora arrancado.

Então vi a luz envolvendo-a. Estava tão limpa, tão imaculada, tão bela!
E ao se assentar a luz, transfigurou-se. Não mais pertencia à planície,
Nem ao mar, nem aos homens, nem ao mundo, nem a mim.
O anjo, agora sem as trevas que lhe foram tiradas, foi levada ao paraíso.

E agora a escuridão havia se multiplicado em mim. O inferno era meu.
Vi meu destino se apontar por detrás em uma linha férrea. Não duas, uma.
Eu devo trilhar só por esse caminho. Trespassado pela dor, silenciosamente,
Esvaziado também de mim, aceitei o abrigo da solidão, desti
no meu.

Continua...
Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)
Enviado por Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent) em 02/03/2016
Código do texto: T5561483
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