GAP

Carlos demorava 2 minutos para responder qualquer pergunta ou questionar uma frase que foi falada de forma misteriosa a fim de criar suspense. Esses pequenos 2 minutos, tão pouco tempo, mas seguidos de uma pergunta, o silêncio desses 2 minutos enchia uma sala.

Rachel com o tempo passou a dialogar consigo mesma, adivinhar a resposta ou a pergunta que viria da sua frase de efeito. Depois passou a pensar em tudo que poderia estar fazendo, cinema, limpar a casa, transar. Por fim, pensou que aquele silêncio poderia preencher uma vida inteira.

O relacionamento dos dois estava assim, quando um falava, o outro entrava em modo silencioso. Muitas vezes era culpa de algum e-mail que precisava ser respondido, uma mensagem importante ou até mesmo uma nova fase no vídeo game. O gap, a distância entre o trem e a plataforma, entre Carlos e Raquel.

Ele não acontecia sempre, o problema não era a sua frequência e sim, sua existência. Por que o silêncio nem sempre é uma coisa desconfortável, onde não há nada a ser dito. Um silêncio pode ser a prova da falta da necessidade de duas pessoas terem que obrigatoriamente se entreter, mas o gap...esse não tinha outras interpretações. Era à distância, era o vácuo. Era o trem e a plataforma.