Uma história de amor? Talvez.

Acadêmico era um jovem cheio de ideais. Começou a estudar visando a possibilidade de poder contribuir com a plebe da sua comunidade.

Sophia era uma jovem tão linda que todos os jovens a idealizavam, e os mais velhos iludidamente acreditavam que o coração da moça a eles pertenciam, e estes zombavam os mais jovens ao os verem implorando pelo coração dela.

Logos era um velho monge, que viveu por muito tempo afastado das coisas triviais da vida, e apesar de muitos o estimarem, Logos vivia sozinho, e por viver afastado visava com isso, encontrar a sua luz interior e produzir um saber novo, que pudesse ajudar as pessoas e a si mesmo; ironicamente foi num desses dias de folga do mosteiro que Logos encontrara a sua luz interior, numa de suas andanças pela cidade Logos conhecera o seu grande amor: Pathos; e foi dessa relação que nasceu Sophia.

Acadêmico conhecera os pais de Sophia por acaso, e a princípio gostou de ambos, no entanto, por um equívoco qualquer da alma, rejeitou a Pathos e superestimou a Logos. Acadêmico não deixava transparecer esse aborrecimento a princípio, mas com o passar do tempo, acreditou estupidamente que Pathos era uma barreira para ele alcançar o coração de Sophia, em contrapartida, acreditava que Logos era o único que aprovaria a sua relação com Sophia.

Levado por este estúpido pensamento, Acadêmico seguia piamente aos conselhos de Logos, e quando Pathos lhe dirigia a palavra, Acadêmico simplesmente a ignorava, e não puxava assunto, fazendo que o seus encontros fossem quase que um equívoco da vida, Acadêmico chegou até a desejar a sua morte, mas temendo a tristeza de Logos, simplesmente desejou que Pathos ficasse muda, assim, Logos ainda teria a sua amada, no entanto, esta não o influenciaria mais, pois Acadêmico acreditava que uma vez ou outra Logos era contaminado pelos pensamentos de Pathos.

Por alguma estupidez do destino, o desejo de Acadêmico se realizara, e Pathos simplesmente perdera a capacidade de falar, e com isso, somente a voz de Logos passou a reinar naquele lar. Acadêmico nunca ficara tão feliz, passou a frequentar diariamente a casa de Logos, e fissurado pelo pensamento de Logos, Acadêmico não percebia que Sophia jamais o notara que Sophia era completamente indiferente a ele, Acadêmico não percebia que Sophia sentia falta da voz de sua mãe, Sophia precisava dos conselhos dela também, afinal, Sophia aprendera desde criança que os conselhos de Pathos e Logos eram a mistura perfeita para que a sua vida fosse feliz, e apesar da presença muda de Pathos, Sophia chorava dia e noite a ausência do timbre singelo e agudo da voz de Pathos.

Acadêmico quis então virar monge, completamente frustrado por não ter o amor de Sophia, quis ser igual a Logos, passou a querer trilhas os mesmos passos que o seu mestre, e Logos, que não mais ouvia os pensamentos de Pathos, passou a amar a si mesmo, deixando Pathos a mercê de sua má sorte, Logos perdera completamente a sensibilidade que Pathos lhe trouxera quando se conheceram, Sophia completamente apática trancafiada no seu quarto resolveu fugir, por não aguentar mais a arrogância e estupidez de seu Pai e de seu aprendiz e discípulo Acadêmico. Triste fim para uma bela família que primava o diálogo e a sensibilidade da vida.

Acadêmico quis o amor de Sophia, e quando ela fugira este estupidamente deduziu que ela fugira por não suportar o amor que sentia por ele, e que na verdade ela pensava nele dia e noite, Acadêmico nada sabia do amor, e pensou que fugir de um quarto era uma declaração de amor. Acadêmico não percebeu que Sophia queria voar.

Logos perdeu a sua luz. Pathos perdeu a sua voz.

Acadêmico continuou apaixonado por Sophia, mas Sophia quis voar, Acadêmico não tinha asas.

Sophia voou.

Acadêmico conceituou a palavra amor.

Logos e Pathos nunca mais foram os mesmos.

Sophia continua a voar.

Luciano Cavalcante
Enviado por Luciano Cavalcante em 29/03/2015
Código do texto: T5187803
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