Começo de namoro

Entre eles havia muito mais do que se poderia imaginar. Durante um bom tempo seu lance (que seria considerado libidinoso e anormal) esteve debaixo dos panos. E a sensação de clandestinidade se tornou algo comum. Haviam se conhecido há algum tempo e logo abraçaram grande intimidade. Mesmo assim, não havia total confiança de nenhuma das partes. Grandes emoções, como ser surpreendido no trabalho com buquês de flores e longas e deliciosas conversas pela internet, foram provadas por um deles, que adorava retribuir tais atitudes entregando-se apaixonadamente ao outro. E os dias se tornaram mais alegres. O sol brilhava mais intensamente e o céu de brigadeiro sobre suas cabeças parecia abençoar aquela linda história de amor. E, no futuro do pretérito, expresso aqui, coisas surpreendentes se revelarão. Poucos sabiam sobre a relação dos dois, mas ao descobrir que fora enganado, um deles (o que sempre quis uma relação estável) sentiu a maior das tristezas. Por ser filial, e não matriz, ele sentiu-se usado. Entendeu que, àquela altura do campeonato, seu papel era secundário na vida de seu agora-sabido amante. Um ano vivendo em Plutão, acreditando estar nas profundezas de Mercúrio. E para piorar, o terceiro personagem foi levado embora, deixando um grande vazio no coração de seu parceiro e quebrando uma ponte entre os amantes. E os nove meses seguintes foram preenchidos por altos e baixos uranianos. Os amantes se estranharam e lágrimas foram vertidas de ambas as partes por óbvias e diferentes razões. E conforme o tempo ia passando, o encanto mútuo se esvanecia. O contanto, entretanto, foi mantido e a amizade tornou-se ainda mais forte, uma vez que um dava forças ao outro, sem cobranças. E, aos poucos, o sexo voltou a ser a vedete da relação, ao passo que novos risos e novos momentos eram vividos pelos dois. Muitos restaurantes, cinemas, teatros e motéis os viram juntos e tudo parecia ter voltado ao normal, ainda que houvesse um amargo residual no fundo da garrafa. Então, o dia tão sonhado chegou. Um deles mudaria o status de solteiro e o outro, o de viúvo. E, enquanto o pedido de casamento era feito, enchendo o coração de um deles de expectativas, o outro (já mudado) temia a reação de seu amado amante. Um sonoro “não” o faria perdê-lo para sempre e soaria vingativo, então, ele resolveu diluí-lo com boas doses de carinho e palavras de paciência. E assim, eles começaram a namorar.

Tom Cafeh
Enviado por Tom Cafeh em 23/08/2014
Reeditado em 26/08/2014
Código do texto: T4934596
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