Silenciosamente

Com o tempo ele mudava a cor do cabelo. Andou por muitos apartamentos nessa cidade, e em outras também. Ele costumava inventar um mundo percorrido por vantagens. Ele sempre dizia que eu sou a pessoa mais idiota do mundo. Talvez tivesse muita dessas razões. Mais por que costumava pintar uma história, do que participar de algo já pronto. Ele deve ter algo apodrecendo por dentro, já que não conseguia viver sem mudar as peças. E sempre bloqueava a minha mente.

Eu tive uma conversa sobre ele. Alguém que pode sentir de várias formas as minhas várias formas. Sabe quando você está num dia entediado, e você parece querer alguma coisa que você não sabe o que é? Então... É dessa forma que eu me sinto quando estou sem ele. Porque quando estou com ele, o pensamento não tem lugar na minha mente. Meu corpo continua imaginando como seria ser sem ser. Porque perto dele, ou longe, tanto faz, eu não sinto nada além das nuvens me cobrando coisas.

Na minha última conversa de sobrevivente, descobri que palavras secas podem sair de todas as bocas. Mas eu não queria dedá-lo nada no mundo. Eu não queria poder sentir essas coisas. Por algum tempo os dias foram o bastante, mas agora... Agora eu não sei sobre mais muita coisa. Eu não quero viver um paraíso, nem praias, nem nuvens. Talvez eu nem queira nada disso. Não sei mais sobre vontade. Eu só espero.

Ele vê o crime. Ele se acostuma. Ele é preso. Ele prende um homem branco. O tempo o aconselha todos os dias. Eu só fico espreitando, desejando-o. Eu preciso dizer. Não, não preciso. Silenciosamente eu o acompanho com orgulho. Eu sei que nunca iremos voltar. Então o homem branco corre. Sou o homem branco que espera. Sou o homem branco que sabe o que fazer, mas não quer fazer, porque sabe que não consegue moldar a semelhança. Eu sou o homem branco cansado. O homem branco cansa de correr. Então o pensamento prende o homem branco de novo.

Eu vejo onde todas as estradas dão. Gravei todo o caminho. Mas nunca mais iremos nos ver. Você sabe que inverte os discursos. Você se apropria das minhas palavras. Às vezes eu queimo a sua voz. Eu queria ter coragem, ser tudo ou nada. Mas não dá para sem assim com quem se ama.

Você caminha até o infinito. E o infinito olha para você.

Eu sei que você nunca mais vai me procurar. Depois de outra criatura, nasce outra criatura. E o mundo se cobre de lembranças suas.

Eu desejo estar em você. Eu desejo escrever por debaixo da sua pele. Deixa de viver através das palavras que saem de mim. Criar algo particular.

Yuri Santos
Enviado por Yuri Santos em 20/06/2014
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