Eterno Outubro - Capítulo 1
Capítulo 1 - Laís
Você tem certeza disso, Thiago? - perguntou Pedro, me fitando com os olhos - Sabe que não haverá volta.
Estávamos a beira mar, com os pés descalços naquela areia branca e fofa, fitando o oceano calmo:
- Eu entendi que não tem volta, só não consigo ficar longe dela Pedro, está fora de cogitação. - Fui sincero, meu coração explodia em angustia só de pensar na distância.
Pedro era um rapaz negro, bem alto. Era a primeira vez desde nosso primeiro encontro que eu vislumbrava um olhar severo vindo dele, que sempre fora sorridente:
- Thiago... - Percebi que ia começar a argumentar contra minha decisão, porém exitou, respirou fundo e olhou para o céu, que estava extremamente limpo. - Não nos veremos novamente, antes de partir quero te pedir uma coisa.
Não o conhecia há muito tempo, antes que se confunda, foi só após o acidente, e tudo que sucedeu ele que o conheci:
- Pode pedir. - Disse sincero.
- Conte-me tudo sobre ela. - E sorriu. - Como se conheceram?
Ele sentou na areia, ainda fitando o mar, eu o imitei:
- Temos uma historia engraçada, da qual eu fico feliz só de lembrar! A conheci numa situação muito comum, tão comum que passamos quase que despercebidos um pelo outro. - E continuei, compartilhando o sorriso de Pedro.
"Ainda lembro a primeira vez que a vi, e aqueles pequenos segundos em que a notei, em meio a sala de aula cheia de pessoas novas. Seus olhos grandes tinha uma mistura de cores, difícil de decifrar num primeiro instante, pele branca com leves pintas no nariz e bochechas, tinha cabelos compridos, e seu sorriso se destacava dos demais. Era de um curso diferente do meu na graduação, e o comentário dentre todos eles, tamanha beleza e maturidade que passava, mas, por algum motivo cômico do destino, nosso contato se limitou a cumprimentos e poucas risadas."
Pedro me olhava como se conseguisse visualizar a cena enquanto eu falava encantado:
- Então vocês estudaram juntos? Com quantos anos isso? E como sucedeu até o ponto de encontro de seus lábios. - E riu me cutucando, parecíamos velhos amigos.
Me ajeitei na areia, e um pouco da água do mar tocou meus pés:
- Estudamos por um curto período, ela conseguiu algo melhor, e eu tive uma pequena provação no caminho! - Ele sorriu, como se soubesse qual era essa provação. - Eu tinha acabado de fazer dezenove, e creio que ela também. - E continuei.
"Depois disso ficamos quase que exatamente um ano sem contato, ou muito pouco, certa vez em um evento específico eu lembro de te-la encontrado, mas nada relevante. E da noite pro dia, leve, imperceptível como o vento, porém eficaz como o mesmo, o amor nos atingiu. O acaso nos encontrou, e pouco tempo depois, ao tocar dos nossos lábios, eu percebi uma coisa."
- Percebeu uma coisa? - Pedro perguntou.
- Percebi que pela primeira vez na vida, eu não queria que aquele momento acabasse... E isso quer dizer alguma coisa. - Conclui.
Ele riu satisfeito, como alguém que após horas com fome saboreia uma deliciosa torta:
- Fico feliz em ouvir isso finalmente, é uma coisa rara por aqui! - Levantou e estendeu a mão para mim.
Aceitei a ajuda e me levantei também, a bermuda xadrez repleta de areia:
- E aquele momento durou muitos momentos Pedro, construímos um amor belo e seguro juntos, vencemos desafios, e quanto mais o tempo passava contrariando tudo e a todos, mais nossa ligação era evidente! - Disse sorrindo, lembrando da forma como ela me falava isso, dia após dia. - Era como se a gente... Como se agente fosse...
- Feitos um para o outro? - E gargalhou, não ironicamente, mas como disse anteriormente, riu satisfeito. - Eu confesso que já ouvi essa historia muitas vezes, de muitos outros casais, mas também confesso que é a primeira vez que eu consigo acreditar nela.
Começamos a caminhar juntos, com os pés na água rasa e clara:
- Ficamos juntos um bom tempo, mas longe do que deveríamos ter ficado. Com 20 anos a re-encontrei, e tive certeza que queria ficar muitos 20 anos com ela. E não foi o que aconteceu...
- Eu estava preocupado com sua decisão Thiago, mas ouvindo você falar desse jeito, sinto que não tenho outra escolha a não ser te mostrar o caminho. - Disse ficando sério. - Poucas pessoas são selecionadas como você foi, o mundo está repleto de maldade, maldade que não existe em você. Agora tenho certeza, Ele nunca irá te punir por isso.
Ele parou e se virou para o mar:
- Esse é o caminho, nade o mais fundo que você puder, e quando se cansar, nade mais um pouco! Se for de Sua vontade, você irá conseguir. - E colocou as mãos nos meus ombros - Boa sorte amigo, tenha cuidado redobrado lá embaixo.
Consenti com a cabeça, e me direcionei para o mar, e antes de mergulhar pude ouvir ele falando bem baixinho.