Sons ao vento.

Dica: leia o conto ao som da música nele citada.

Athlete - Wires

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Numa tarde fria, peguei o violão e saí por aí. Primeiro comecei andar sem rumo, mas depois notei que meus pés estavam me levando ao lugar que eu mais evitava. Plantei-me no chão e tentei reorganizar meus pensamentos. O que estava acontecendo? Por que motivo, razão ou circunstância eu iria àquele lugar?

Comecei relembrar de tudo que havia passado lá e as lembranças eram boas, não posso negar isso. Mas era o que mais me machucava: só eram lembranças. Então, comecei andar decididamente na direção contrária, eu iria ao parque, iria a uma praça, qualquer lugar. Sentei na calçada e comecei a chorar, as lágrimas caíam em meu violão e uma musica dançava dentro de mim.

Toquei alguns acordes da musica, para ver se conseguiria tocá-la inteira. Respirei lentamente e voltei em direção ao meu primeiro destino. Eu estava indo para a casa dele, estava decidida tocar a nossa música, aquela que ele havia me ensinado. E não importava se ele me expulsasse do apartamento, nada mais importava.

Entrei no prédio, o porteiro me cumprimentou como um velho amigo. O elevador estava carregado de memórias e o peso delas fez uma gota salgada cair dos meus olhos vermelhos. Solucei um pouco, afinei a voz e o elevador parou no décimo primeiro andar. Meu coração palpitava e meu estômago parecia não existir no momento em que toquei a campainha. E então houve silêncio, um silêncio mortal que foi necessário fechar os olhos e sentir aquela magia que ele proporcionava. A porta rangeu, abri meus olhos e o vi parado com uma caneca cheia de café na mão esquerda enquanto a direita segurava a porta.

Minha respiração se tornou acelerada enquanto meus olhos buscavam os dele, que estavam fixos em meu violão. Foi quando lhe atirei as palavras bagunçadas que estavam guardadas comigo há um tempo.

“Eu só quero que fique parado e escute o que tenho pra dizer, só escute. Depois você pode me expulsar daqui, pode me insultar pela milésima vez. Eu não agüento mais esse negócio de você longe de mim. Só quero que ouça isso, depois prometo que vou embora, apenas escute.”

E comecei tocar “Wires” da banda Athlete, com minha voz rouca, de olhos fechados, apenas sentindo a música e deixando as lágrimas fluírem. Abri meus olhos em alguns momentos enquanto tocava e ele estava parado olhando, com aqueles olhos distantes, às vezes ele curvava a cabeça e assoprava o café. No meio da musica, a letra era interrompida por pequenos soluços , não era eu cantando, era minha alma implorando. “…First night of your life, curled up on your own. Looking at you now, you would never know”.

Suspirei. Vi que ele estava com os olhos injetados de lágrima, uma gota dela escapou quando ele respirou e expirou lentamente. “I see hope is here, in a plastic box. I’ve seen Christmas lights, reflect in your eyes…” Ele cantou enquanto colocava a mão, que antes segurava a porta, em meu rosto.

Um beijo longo, o violão caiu, alguns sons voaram ao vento naquela tarde fria.

Ana Eduarda
Enviado por Ana Eduarda em 08/08/2013
Reeditado em 08/08/2013
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