Cabelos loiros, olhos verdes.

Estávamos no terraço em uma note dessas quando tive um ataque gritante de desespero. Não pude reconhecer minhas palavras. Elas apenas saiam, enquanto eu negava dizer tudo aquilo. Eu o nomeei de grande merda. Não era eu, não poderia ser. Eu apenas nego a existência de tudo o que disse, pois não posso participar de um episódio tão ignorante, e fora do controle. Sou sempre condenado por um ordem minha. Algo se perdeu dentro de mim enquanto seu rosto tomava a forma de querer fazer algo. Participar da minha felicidade. Mas você não pode esquecer que você não tem controle sobre si. Nem eu. Caso contrário, esse caso não existiria. Eu me encolhia já no pouco espaço que tinha para me equilibrar, e você apenas contraia o rosto. Arrependia-se nitidamente. Mas não poderíamos esperar de outra forma. Prevíamos e a existência de alguém amar alguém. Logo, eu amei você, enfim.

Mas, você deve estar se perguntando onde tudo se descontrolou. E digo: Na nossa última viagem, eu já não me sentia atraído por quem estava comigo. Aquela viagem onde nós sabíamos nada iria acontecer por ambos estamos acompanhados. Não sentia êxtase em conhecer mais dele. Mas ele se motivava mais de conhecer sobre mim. Você estava entediado, e eu era jovem, procurava conhecimento do mundo. Você estava acompanhando de um capitalista escroto, creio de balas terroristas apontadas para alguém desarmado. Cansativo. Ele sempre te deixava cansado. E ao me olhar, você encontrou descanso. Confortava-se em saber que num futuro teria segurança. Dois depois dispensei minha companhia. Pensei que faria o mesmo, mas não o fez. Você disse que não seria fácil, porque já esperavam demais de ambos. Prossegui. Até então, nada significava estar com você. Começamos a conversar por mais tempo, porque quando nos encontrávamos me sentia certo conforto. As conversas batiam. Não era cansativo para ambos, pois não havia esforço para procurar assunto. Tudo corria calmamente. Sem paradas.

Encontramos-nos cada vez mais. Apegamos-nos. Não pensávamos no futuro, nem mesmo no presente. Não existiam pautas além de nós, nossas coisas. Você ainda insistia em dizer que o curso de direito tomaria mais de mim do que eu poderia dar. Sou orgulhoso. Digo que continuarei o curso. Então você continua dizendo que deveria retomar a filosofia. Todas as noites ficam cada vez mais tarde para que eu possa ter sua companhia até em casa. Você começa a desaparecer por algumas semanas, e eu fico sem saber sobre o que pensar. Apenas leio, sem qualquer sentimento. Esqueço de você. Esqueço das férias. Esqueço dos exames. Esqueço que tenho uma viagem. Que devo encontrar alguns amigos. Que existe mundo fora do meu quarto. Fora isso só poderia me apegar à preguiça. Única e exclusiva desculpa para não sair da cama antes das dez. Mas não espero nada. Tudo funciona. Trabalho, estudo, você me telefona, nos e encontramos, bebemos, nos beijamos, dormimos juntos, você explora minha mente, e eu a sua. Cultivamos-nos no tempo. Então você pede para que eu comece a conhecer novas pessoas. Digo que não preciso porque não tenho necessidade de você. Você ri.

Começo a freqüentar bares onde sei que encontraria pessoas, e nelas não encontraria nada. Percorro três bares durante todo o fim de semana. Conheço alguém. Bonito, e isso apenas me basta para te provar algo. Faço esforço. Não me cansa, mas não me sinto muito confortável. Conversamos ao longo da semana, e de outra, e mais outras semanas. Apresento-te. Você não parece desconfortável. Sinto-me envergonhado. Seu pequeno terrorista está com você. Empobrece-me. Comenta que começará a se ocupar de mim, assim, como uma ordem. Sou passional, cínico... Acostumo-me. Você começa a fazer perguntas ao meu ‘alguém’. Ele já te conhece, sabe da sua história, e em qual parte você segue na minha vida. Prometi a ele que nunca mais nos encontraríamos. Outra promessa pobre. Não é nada significativo. Ele está aparentemente passional. Quando tudo acaba, ele pergunta se estou bem. Digo que sim. Nada mudou. Nada sinto. Nada em absoluto, nem por ele, nem por você, nem pelo seu terrorista. Aliás... Seu terrorista me deixa um pouco enjoado. Aspecto pobre ele tem para ser mais jovem do que eu. Poderia passar muito tempo dizendo que só trabalha por independência. Se ele diz, nada posso falar sobre. Logo não verei o meu alguém. Ele sabe disso. Ele me leva até o ponto de ônibus. Diz que todos sabem quando estão sendo abandonados. Digo que ninguém é abandonado por alguém que não exista. Ele sorri. De longe não escuto mais o ritmo dos seus passos. Tomo o ônibus. Ele ainda está parado no ponto. O ônibus arranca. Até que não pode me ver mais, então se vai. Nunca mais me verá. Chego em casa. Subo as escadas. Você está lá. Surpreendo-me. Você que não conseguiria dormir sem saber como é ter me beijado nessa noite. Beijo-te. Conversamos por mais alguns poucos minutos, então você se vai. Durmo.

Duas semanas depois não te esperava ver passar com alguém que foi o meu alguém. Vocês decretam alguma cumplicidade. Despedem-se. Não os verei mais juntos. Sei que esse episódio é apenas algo como uma demonstração de força sua. Tudo amarado. Um momento que você possa provar seu potencial. Vem e m mim um sentimento revoltoso. Não o vejo mais.

Agora o que posso esperar? Nesse momento de terraço digo que te amo, e que não posso viver sem você, que sinto certa angustia me dominar com relevância em reproduzir a frase em que afirmo que você não me ama. Também não te amo, não sei o que é amar alguém, nunca amei. Digo de amor porque me parece certo dizer. Nunca o senti. Nunca descobri sua existência, tendo em vista que o que sinto é desconhecido. – Me desconheço enquanto as palavras saem. Nego mentalmente ter dito tudo isso. Você me pede perdão. Pede perdão novamente, porque não sabe o que dizer. Estou soluçando. Sinto meus olhos incharem. Tive um ataque nervoso. Nego esse fato. Você diz que daria qualquer coisa... – continuo -... Para me amar? Você diz sim. Mas não me ama. Nunca poderá me amar. Não sabe por que disse tantas vezes que me ama. Mais uma vez nada significou para mim. Emagreço mais a cada segundo. Fumo desesperadamente cigarros. Procuro me preencher. Compreendo que somos condicionados a ser o que somos. Por algum motivo. E por algum outro motivo, esse motivo escapa de mim.

Não digo mais nada.

Yuri Santos
Enviado por Yuri Santos em 05/07/2013
Código do texto: T4374053
Classificação de conteúdo: seguro