Papéis

Por Ela (Kate):

Eu não queria ir embora, mas lá estava eu, fazendo as minhas malas, levando nelas não só as minhas coisas, mas também as lágrimas que rolavam pelo meu rosto enquanto eu cantava a nossa canção… “Vamos nos encontrar, ficar sempre juntos…”

Como que os nossos planos se quebraram com uma simples palavra? Como um Adeus poderia desfazer todos nossos sonhos, todos os nossos momentos?

Assim que saí de nossa casa, que depois foi só sua, fui à praça em que nos conhecemos. Fiquei lá por varias horas, escutando apenas o barulho do vento nas árvores. Depois levantei, arrumei o vestido bege que você havia me dado no verão passado, ele continua do mesmo jeito, as mangas soltas, os babados sobrepostos, o tecido impecável, que o fazia simples e bonito, como você disse, era um pouco parecido comigo. Andei para a estação, eu não queria ir de avião para minha antiga casa, queria ir bem devagar, quase parando, pra ter tempo de esgotar as lágrimas nos vagões e chegar em casa como se nada tivesse acontecido.

O trem começou a andar, foi quando vi você parado na estação olhando pra mim e acenando, com algumas lágrimas nos olhos. Quis pular a janela, o abraçar e nunca mais sair do seu lado, mas tudo o que saiu da minha boca foi um “eu te amo” num sussurro súbito de dor.

Passaram-se meses, meses que, pra mim, foram os piores. Eu estava em uma cidade enorme, perdida por lá em busca de oportunidades, vivendo, ou talvez, sobrevivendo como dava em um apartamento frio e escuro.

Até que um dia estava andando pelas ruas da vasta cidade, quando caiu um papel da janela de um prédio. Nele estava escrito em negrito: “A vida é única”. E na ponta do papel, mais uma frase, com letras minúsculas: “Corra para direção daquilo que sempre foi seu”.

Foi quando decidi voltar pra casa, lhe mandei uma carta avisando minha chegada, arrumei minhas coisas e fui.

No caminho, ia pensando na sua reação, e se você não me quisesse ali? Eu chegaria na estação e viria você lá, me esperando? As duvidas foram se tornando certezas quando não vi ninguém parado na estação. Comecei a chorar compulsivamente “O que eu estava fazendo?”, perguntava a mim mesma. Quando estava enxugando uma lágrima, olhei para as escadarias. Era você, correndo, em uma das mãos uma caixa pequena de veludo. Coloquei as mãos no vidro, um sorriso se formou em meu rosto, uma única lágrima de alegria caiu dos meus olhos.

Desci do trem correndo e o abracei, todos os passageiros pararam para ver aquela cena, você me beijou, uma, duas, três vezes, me deu mais um abraço e disse “bem vinda de volta”. Então, você se ajoelhou, e abriu a pequena caixa e nela estava um anel delicado. Balancei a cabeça, aquilo não era possível.

E você olhou nos meus olhos “Eu iria dar isso um dia antes de me dizer que iria embora, eu não o vendi, não o joguei, pois tinha certeza que você viria algum dia. Não sei se já sabe, mas é o amor da minha vida e quero que se case comigo.”

Eu fechei os olhos, todos ficaram em silencio. “Sim… Eu aceito”. A minha frase foi interrompida por aplausos daqueles que param para ver.

No caminho de casa, da nossa casa, coloquei a mão no bolso e senti o papelzinho que mudara os meus dias.

Por Ele (Leandro):

Eu não queria que você fosse, mas você disse que era necessário, me deu um beijo e foi para a nossa casa arrumar suas malas. Coloquei as mãos no bolso do meu casaco, sentindo a caixinha de veludo onde estava o seu presente.

Voltei ao trabalho, aquele escritório cinza e gélido. Eu sempre estava ocupado com a papelada meio bagunçada em minha mesa, quando olhei no relógio vi que estava na hora do trem sair. Sai correndo do escritório, passei sem olhar para a praça em que nos conhecemos, cheguei na estação, desci as escadas, o trem já estava se locomovendo. Parei e acenei, contendo as lágrimas que queriam escapar dos meus olhos. Você falou uma coisa que não entendi muito bem e se foi.

Voltei sem pressa para o trabalho, parei na praça em que nos conhecemos, sentei por lá e fiquei cantando a nossa canção “ Vamos nos encontrar, viver nossos sonhos…” Segurando a caixinha de veludo, eu não iria devolver, a caixinha iria ficar guardada até você voltar, eu tinha certeza que voltaria.

Os dias se passaram… dias que viraram semanas, semanas que viraram meses.

Até que chegou uma carta, não era de uma empresa, como sempre. Era uma carta sua, meu coração disparou ao ler seu nome no espaço do remetente.

“ Querido Leandro,

Só escrevi para avisar que estarei voltando amanhã à tarde, depois explicarei o motivo.

A vida está triste sem você, Leandro. Tudo ao meu redor parece preto e branco. Não aguento mais ficar longe.

“Vamos nos encontrar, ficar sempre juntos

Vamos nos encontrar, viver nossos sonhos

Tenho muito pra dizer

Tanta coisa a aprender

E eu vou te mostrar”

Te Amo, para sempre sua.. Kate.”

Apertei o papel contra o peito, o coloquei ao lado do computador e continuei meu trabalho, sem prestar muita atenção nele, estava contando as horas pra você chegar.

No dia seguinte estava eu, como sempre, no escritório lendo, quando vi a hora. Meu Deus! Eu estava atrasado, como sempre… Quando estava descendo a escada a vi, uma lágrima escorreu no seu rosto, o qual havia também um sorriso, o mais belo.

Você me abraçou e todos pararam para olhar, não deixei você falar nada, tudo o que eu queria, ou melhor, precisava, era de um beijo seu. Dei-lhe um, dois, três beijos, a abracei novamente “Bem vinda ao lar”.

Então me ajoelhei, abri a caixinha que estava guardada esperando por você. Você balançou a cabeça. Então eu olhei para os mais belos olhos, os seus. “Eu iria dar isso um dia antes de me dizer que iria embora, eu não o vendi, nem o joguei, pois tinha certeza que você viria algum dia. Não sei se já sabe, mas é o amor da minha vida e quero que se case comigo.”

Então você fechou os olhos, as pessoas ficaram em silencio na expectativa da sua resposta.

“Sim eu aceito…” os aplausos dos nossos espectadores cortaram sua frase. Fomos para a nossa casa, coloquei a mão no bolso sentindo o papel que mudara minha história.

Ana Eduarda
Enviado por Ana Eduarda em 29/05/2013
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