Refrão de Bolero

Uma taça de vinho barato na mão, o cigarro na outra. Um senhor toca “Refrão de Bolero” ao fundo, só pode ser brincadeira. Dou mais um trago no cigarro e lembro-me novamente de Ana, aquela mulher que revirou meu mundo inteiro.

Tinha cabelos longos e negros, suas mãos eram suaves e delicadas, usava sempre um batom vermelho e seus olhos eram os mais expressivos que existiam. A vi pela primeira vez numa apresentação de dança, no teatro. Ela era a dançarina principal. Depois de um tempo fomos nos conhecendo mais. Ana me enfeitiçara desde o começo e ela nem notava isso.

“Ana… teus lábios são labirintos, Ana.” Bebo um grande gole do vinho e peço mais um taça, o garçom está começando a querer me expulsar.

Ana e eu começamos a sair mais, nos víamos todas as noites. Ela gostava de mim, seus olhos denunciavam isso. E eu, bem, eu tinha medo dela escapar por entre meus dedos. Mas eu realmente amava aquela dançarina, era um fato.

Uma noite Ana disse, com seus olhos meio líquidos, que estava apaixonada por mim. Disse assim, num supetão, sem respirar, sem me deixar pensar. E, como todo homem que um dia já sofreu por mulher, dei um passo pra trás e disse “nem pensar”. Quando me dei por mim, já tinha dito. Ela já estava segurando o choro — nunca tinha visto Ana chorar, era forte demais pra isso. Respirou fundo, engoliu o choro e disse “tudo bem, eu entendo você”. Naquela hora, acontecia o que eu mais temia: Ana estava escapando, estava indo embora. Ela se virou “a gente se encontra, algum dia”. Nunca mais nos encontramos.

Levanto, com certa dificuldade, da cadeira. Dou alguns trocados ao garçom, pago a conta. “Mas eu falei sem pensar. Coração na mão como o refrão de um bolero, eu fui sincero” pensei.

… Nunca mais nos encontramos.

Ana Eduarda
Enviado por Ana Eduarda em 28/05/2013
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