149 – A IMPERFEIÇÃO...

Havia no seu jeito de ser uma certeza que a tudo assomava, que a tudo gritava, a certeza que ela amava, mas amava aquele rapaz com todas as suas forças, com toda a sua alma.

Mas ele se fazia de banda, olhava pra seus olhos parecendo não acreditar em tanto amor, parecendo não acreditar que uma criatura daquela pudesse amar, mas amar com tamanha amplitude, com tamanha vontade, com tamanho entusiasmo e não demonstrava interesse algum naquela irrestrita admiração.

E aquela orgia de amante efusivamente dentro dela extrapolava, em todos os cantos se manifestava, em todos os lugares sobrepujava o vai e vem das coisas, ela se mostrava, se oferecia, se fazia bela para os olhos dele, mas tudo em vão, e apesar de tantas incertezas ela insistia em marcar encontros com os desencontros dele.

Mas tudo tem o seu tempo, chegou o dia do reverso, o dia do contrário e de um momento para outro ela passou a odiá-lo com a mesma intensidade com que o amara, com a mesma voluptuosidade de outrora agora ela o ignorava. Passava ao seu lado e era como se ele não existisse, era como que se tivesse conseguido apagar de uma vez todas as lembranças daquele amor que um dia generosamente dedicara a ele, dentro da sua alma, nas suas entranhas, aqueceu um ódio extremado que vergado numa esquisita mania de se mostrar distante, mesmo estando próxima, juntando isto mais aquilo, ela passou a detestá-lo em profundidade inimagináveis.

Mas a vida da as suas voltas, e numa dessas voltas ele já estava de olhos cumpridos para ela, ele a reparou melhor, e foi paulatinamente descobrindo na sua simplicidade a beleza e a formosura, se apaixonou e caminhou atrás dela, desgraçadamente percorreu um longo e penoso caminho ao seu redor, tinha que pagar pelo que fez, intencionalmente ou não, mas tinha que pagar, aonde chega o amor, chega também a dor, ele agora estava curtindo a sua dor, padecia por longas noites sonhando com ela, de um tudo que fez para chamar a sua atenção, nada a atraiu, nada buliu no seu gélido jeito de ser, ela se fez irredutível, ela se fez inatingível, até que ele cansado da sua infrutífera aventura retrocedeu pra outras bandas, para outros terreiros, para outros horizontes e paulatinamente foi dela se distanciando, e é assim que se esquece alguém muito especial em nossas vidas, distanciando, e ela por se fazer inalcançável tornou-se um objeto decorativo em suas lembranças, daqueles que a gente olha no museu do nosso passado, admira, aprecia e deixa para trás, mas sempre fica uma saudade grudada na alma da gente.

Amaram em épocas erradas, enquanto um amava o outro ignorava, e assim na sequência de suas vidas os seus destinos foram selados ao avesso, perdidamente se amaram, mas paradoxalmente nunca se encontraram, seus sonhos nunca deixaram de ser sonhos, e a primavera floriu em suas vidas num tempo completamente diferente um do outro, e nesta imperfeição seguiram os seus destinos, e sempre olhando pra trás, suspirando pelo amor que nunca foi correspondido.

Magnu Max Bomfim
Enviado por Magnu Max Bomfim em 03/05/2013
Reeditado em 07/05/2013
Código do texto: T4272691
Classificação de conteúdo: seguro