HOTEL LINDA DO ROSÁRIO (Parte V)

HOTEL LINDA DO ROSÁRIO

(Parte V)

Oh Deus, a vida é profunda, e a sua profundeza é como um abismo sem fundo. Nietzsche sentiu isso e o exprimiu em seu Nachtlied: "Ò homem, presta atenção, ao que diz a profunda meia-noite - eu dormi, dormi - acordei-me de sonho profundo. O mundo é pensado profundamente, mais profundamente do que o dia. Profunda é a sua dor. O prazer é ainda mais profundo do que a canção do coração! A dor diz: passa. Mas todo prazer quer a eternidade, a profunda, profunda eternidade"...

Ao completar 35 anos de idade, fui transferida para trabalhar em uma secretaria no centro da cidade. Os filhos crescidos, conscientes das suas obrigações e supervisionados por Márcio, não me causavam preocupação. Trabalhava na secretaria das oito horas da manhã até às dezesseis horas, com intervalo para o almoço. Ainda conservava a beleza da juventude, traços fortes e encanto no olhar. Apesar dos três partos, intensifiquei a prática de ginástica para manter o corpo esbelto. Foi aí que tudo aconteceu...

O setor administrativo da empresa de Jayme e sua família ficava próximo ao meu trabalho. Sempre, ele me esperava na saída para o almoço e fazíamos a refeição juntos. Nos primeiros dias falávamos sobre amenidades e sobre os nossos filhos menores e adolescentes, sobre Márcio e Corina. Até que um dia o assunto versou sobre nós dois. Eu temia que isto, um dia, fosse acontecer, confesso, mas, em meu íntimo, gostei que essa verdade viessa à tona e eu pudesse me sair bem, recusando todo e qualquer envolvimento.

- Você é a visão que me aparece frequentemente em meus sonhos, embora o rosto e a figura de princesa não são nada mais que uma vaga sombra em minha mente porque você foge de mim, eu tenho a certeza de que um dia essas visões se converterão em realidade. - estas palavras proferidas por Jayme me deixaram descontrolada. Fiquei sem argumento porque eu também me sentia atraída por ele. É quase impossível descrever o que se passou em meus pensamentos, perdi o controle das emoções, com os sentidos paralisados, deixei-me levar até onde ele queria me libertar daquele força estranha que me sufocava e me atormentava sem trégua, de uma maneira implacável. Todos os meus conceitos deixaram de existir, os medos caíram por terra e mal conseguira respirar por causa das sucessivas emoções que me tomavam todo o meu ser. Foi um gesto heróico de minha parte ou uma tremenda traição ao pai dos meus filhos? Ou uma tremenda crocodilagem com a minha amiga irmã Corina? Naquele momento nada disso pensei, passou despercebido. A emoção superou infinitamente a razão. Perdi tudo: a prudência, o respeito, o desrespeito, a vergonha, a doçura e o amargor de tantos anos fugindo do óbvio: "um dia iria amar o amor verdadeiro daquele homem que me amava".

Como que levada pela leveza eólica projetada num barco suave e transcendente, eis-me num quarto de hotel - Hotel Linda do Rosário - abraçando e beijando o homem amado!

- Eu o amaldiçôo mil vezes por fazer isto, e a mim por querer-te tanto! - eu dizia, com rudeza, contra os lábios de Jayme, entreabrindo os meus com o saber sensual de uma mulher que amava um homem cujo amor proibido só podia ser subjugado pelo desejo. Os lábios se uniram e se separaram com sofreguidão, para se unirem de novo e de novo, até que os nossos corpos se encontraram e se tornaram num só, na magia das polaridades masculina e feminina, dando origem à razão de ser e de existir. Sem perceber, de algum modo cadenciado e sutil, fomos nos desnudando, sem botões e abotoaduras, sem cinto, saia, calça, e demais vestes, eis-me tocando-lhe o tórax. Aos poucos sentia a blusa deslizando pelo meu corpo febril de desejo, primeiro a pele sedosa na curva do seio, e não fiquei completamente despida porque a sua mão estava moldando o tecido da saia em contato com a suavidade de minha pele. Sentia a mente sobrecarregada, meu corpo era um frenesi de desejo. Milhares de sensações febris, intensas e incomuns me invadiam a alma. Agora eu estava livre para concretizar a vontade de tocar-lhe a pele, maravilhada com o prazer que eu sentia: um prazer único, indefinido, como nunca sentira antes. Pressionei-lhe a clavícula com os dedos, a pele de Jayme era quente e suave, e o osso era sólido. Ele possuia um corpo de atleta. Concentrei o olhar na pulsação que se evidenciava sob o maxilar. Perdida no prazer que sentira em tê-lo junto a mim, beijei-o antes de ser lançada no abraço longo da paixão, ardendo em chamas de desejo, e vê-lo responder da mesma forma, beijava-lhe o pescoço, e depois o ombro. Um leve estremecimento de prazer percorreu-me o corpo ao sentir a mão quente que me cobria o seio se afastar, seguido de outro tremor mais intenso e mais visível, quando a mesma mão o segurou por baixo, e o polegar roçou eroticamente o mamilo entumescido. Foram inenarráveis as sensações que sentira naquele primeiro encontro de amor. Agora sei que foram dezesseis anos de namoro para chegar até aquele momento de amor febril. Quando nos encaminhamos para a cama, de lábios colados, estávamos ambos nus, e o toque das suas mãos em minha pele me provocava tanto erotismo que meu corpo estremecia de um prazer selvagem. Através da cortina, uma réstea de luz iluminava os nossos corpos, levando-me a suspirar quando Jayme afastou-me de si para colocar-me na cama, revelando em detalhes o perfil musculoso e forte de macho sedento de amor. Pele dourada, tórax liso, um pêlo fino que formava uma trilha erótica descendo pelo corpo, mostrando-me em meu olhar sedento e curioso o membro rijo na sua ereção. Completamente estonteada, senti o amor pela primeira vez mesmo estando casada e mãe de filhos. Agora, ali, naquele altar de amor, é que senti este misto de admiração e ternura, satisfação em tocar com desejo e saborear o homem especial e único com muita paixão. Senti que Jayme estava gostando de ser devorado pelo meu olhar apaixonado como todo homem deve gostar de ser olhado pela mulher de seu desejo. Naquele momento senti que era correspondida em todo o amor que sentia por ele, a partir de agora ele era o meu mais preciso tesouro. Jayme, anestesiado, dizia palavras soltas de encantamento diante de minha nudez totalmente entregue a ele:

- Meu amor, a sua pele leitosa se sobressai com o bege das cobertas. A cor de seu cabelo, minha amada, combinam perfeitamente com os que lhe cobrem o sexo, tornando-o mais excitante. Gosto de acariciar os mamilos, corados, num tom rosa escuro, prontos para serem sugados neste momento de nós dois.

Um calor intenso me dominou quando Jayme colocou a mão sobre meu sexo, arqueei o corpo para cima num descontrole voraz. Unidos mais uma vez, naquele ato de amor profundo, segurei-lhe o ombro pondo as unhas contra sua pele como estímulo. Sentia que este meu gesto provocava-lhe uma leve dor enquanto enfatizava e aumentava a força de sua paixão. Como uma onda avassaladora, a emoção vinha impetuosa e calorosa, inundando todo o seu ser e afastando tudo o que estivesse pela frente. Senti-me dona da situação, tornei-me amante e prostituta, uma bruxa que ditava ordens de comando àquele escravo do desejo, lhe dizia onde ele devia colocar os lábios, as mãos e quais as palavras a pronunciar de poesia e sedução que Jayme pronunciava com tanta paixão. O seu cheiro me inundou a vida: era uma mistura de almíscar e de suor, emanada daquela carne masculina. Eu sabia que a partir de agora, aquele cheiro e cada momento precioso daquele primeiro encontro marcariam a sua vida para sempre. Todas as razões para eu não fazer isso tinham sido abandonadas. Eu sentia uma satisfação plena e quase primitiva de triunfo feminino. A partir de agora ele era meu, completamente meu apesar de conviver com Corina, pois ele levaria em sua carne a sensação de meu amor pleno assim como todos os meus pontos de sensualidade receberam o marca do toque de Jaime, apesar da vida em comum com Márcio. Cada toque que ele me fazia me provocava um novo prazer, estonteante, que me era desconhecido e inexplorado. A experiência que vivera até então com Márcio não me preparara para isso. Tudo era tão novo, tão surpreendentemente delicioso, que o valor de cada instante foi inestimável. Queria demorar-me em cada toque proporcionado pela mão ou os lábios de Jayme, sentir o prazer que eles me traziam, mas ao mesmo tempo estava sendo levada por uma sensação cada vez mais intensa de urgência.

Supliquei-lhe para que parássemos por ali, já estava tarde, eu tinha os meus compromissos assim como ele tinha os seus. Jayme concordou, mesmo a contragosto. Fizemos a promessa de uma próxima vez e essas vezes se repetiram por mais de trinta anos, sempre mantendo a chama acesa de um amor que nunca acabou.

http://www.youtube.com/watch?v=habWYM364RA

clira
Enviado por clira em 09/06/2012
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