Bebida

Acordei sem saber bem como havia parado ali, deitada em minha cama usando a mesma roupa do dia anterior. Minha cabeça doía, minhas pernas pareciam inexistentes, meus braços não se mexiam por mais que eu tentasse. Respirei fundo e senti uma pontada nas costelas. Afinal, o que aconteceu?Só conseguia pensar nisso. Não tinha resposta, não tinha nem estado físico nesse momento. Eu era uma coisa, algo deitado, deixado de lado. Aos poucos, as lembranças foram voltando. Queria que não tivessem. Às vezes você esquece algo porque têm que esquecer, apagar da mente, do corpo, da alma. A culpa – odeio usar essa palavra, mas não há outra melhor – foi sua que me deixou. Que me fez ter esperanças, sonhos, desejos e depois foi embora. Eu sempre te disse: não minta para mim, não fale o que você sabe que não pode ou não quer cumprir. Para de dizer “um dia”, “quem sabe”, “eu não posso falar nunca”.

Mas você continuou, agiu como se houvesse resposta para essa coisa, esse não-sentimento, esse querer-sem-ter-e-sem-pretensão-de-ter. Então, quando te vi com ela, ELA, não aguentei. Não sei se você me viu, se viu o meu... coração (?), acho que coração é demais, mas algo em mim se despedaçou em parte pequenas demais. Não chorei, não me senti enganada, sabia dela desde o inicio, sempre soube. Mas, não me peça pra ficar contente em te ver abraçando, tocando, beijando ela. E eu? E todo o tempo que passamos conversando, contando mais coisas do que deveria, contando coisas que ninguém mais sabe. Não fiquei assim, porque você estava feliz, não mesmo, até porque quando notei o seu olhar pra ela, vi que não podia ser tão injusta com você. Fiquei assim porque queria esse olhar pra mim, não o seu, mas esse.

Minha cabeça tá rodando e acho que nem faz mais sentido os meus lamentos. Espero que entenda, que perceba, quero você. Quero de verdade. Quero inteiro, sem um ela, sem um ele. Quero o olhar, quero com desejo, com saudade, com carinho. Amor?Ah, isso a gente descobre depois, não exijo sentimento tão forte assim agora. No lugar do amor, me traga atenção. Isso! Prefiro ter a sua atenção, ser a sua atenção.

Consegui me levantar, um desafio quase impossível. Entro no chuveiro, não aguento, ligo a água e sento no chão. Choro, choro como criança de birra, porque a prima ganhou uma boneca com cabelo mais bonito do que a sua. Deixo a água cair e levar com ela minhas frustrações, não só de não ter você, mas toda uma vida que anda tão esquisita, tão vazia. Devo ter caído no chão, meu corpo marcado por roxos e dores inexplicáveis.

Duas horas passei assim, sentada, chorando e pensando. Entrei no computador e como sempre você não tá online, melhor assim. Melhor não falar, não ver, não ter a presença, mesmo que só virtual. Uma tela nova sobe, alguém entrou, sorrio e solto uma risada baixa.