073 - A RENÚNCIA...

E foi somente no último ano de nossos estudos na faculdade que eu a conheci, na cantina nossos olhos se cruzaram, foi como um encontro de dois velhos amigos que há muito não se viam, eu a esperei na saída da classe fomos conversando por um bom tempo até o estacionamento de carros onde nos despedimos.

Nós nos tornamos inseparáveis e aquele olhar me dizia que ela gostava muito de mim, muito mais que amizade, me encorajei:

- Se eu estiver errado que me perdoe, mas eu sinto aqui dentro do meu coração que você gosta de mim, e eu gosto muito, mas gosto muito de você, em todos os meus sonhos você é a personagem principal, a mais amada e a mais desejada, eu te proponho, vamos transformar essa nossa linda amizade em um grande amor?

Para minha surpresa ela não demonstrou nenhum contentamento, ao contrário abaixou a cabeça, olhando para o chão, como quem não mais quisesse nem ser minha amiga, por fim abriu a boca:

- Meu estimado e querido amigo, espero que compreenda, dê-me mais um tempinho, o momento não é o mais apropriado para começarmos um namoro firme, e eu sei o quanto gosto de você, tenha paciência comigo e nem deixes de ser meu grande amigo!

Saímos juntos, mas já tão distantes um do outro, um silêncio sepulcral entre nós eclodiu, nos despedimos com aquela sensação de que não mais seríamos nem amigos quanto mais namorados!

O curso que ela frequentava era de área diferente, não mais a procurei, como também não mais a vi naqueles dias que se seguiram, quando meus amigos:

- Você vai ao velório?

– De quem?

– Da Michele!

– O que aconteceu com ela?

– Você não sabia? Ela tinha um tumor na cabeça, faleceu na mesa de operação!

– Alguém sabia que ela estava acometida por tão grave doença?

– Não! Ninguém sabia de nada, ela guardou consigo este fatídico segredo!

Não fui ao velório, fui pra casa chorar, chorar, e chorar, entendi por fim a sua recusa em não aceitar a minha proposta de namoro! No outro dia fui ao enterro, de longe vi o seu caixão sendo abaixado na sepultura e com ele todos os meus sonhos, varias pessoas conversavam e apontavam pra mim, o que me deixou encabulado, uma senhora de óculos escuros, extremamente abatida ainda soluçando:

- Você deve ser o fulano de tal, o grande amigo da minha filha, a Michele!

– Sim! Somos bons amigos!

A mulher abrindo a bolsa tirou um envelope lacrado:

- Antes de ir para o hospital, ela escreveu esta carta e pediu que entregasse a você caso acontecesse o pior com ela... Eu a ajudei escrever esta carta, sei do conteúdo, se eu fosse você daria um tempo ao tempo para lê-la, evitara sofrimentos inúteis...

Em casa, enclausurado na solidão, aquela carta queimava em minhas mãos, em certos momentos desejava abri-la, em outros que ficasse lacrada, por fim resolvi, cuidadosamente a guardei em meio a um livro da minha biblioteca...

Nunca mais fui o mesmo, de vez em quanto uma profunda melancolia apodera da minha alma no açoitar a machucar, entrelaçados no açoite as lembranças dela e daquela carta que ainda hoje permanece lacrada e que a minha alma desprovida de coragem estremece só de pensar em abri-la e conhecer o seu conteúdo...

Magnu Max Bomfim
Enviado por Magnu Max Bomfim em 20/06/2011
Reeditado em 21/06/2011
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