POR UM FIO

O dia já findava quando ela desceu a escada do prédio. O cinza de fim de tarde pintava o céu de uma profunda melancolia. Ele sentiu uma maldita massa informe no estômago ao vê-la partir. Talvez estivesse morrendo um pouco naquele instante. Talvez. Talvez estivesse acompanhando-a pela última vez naquela descida. Talvez. Tentou retroceder, pelo corredor estreito e mal iluminado que havia às suas costas, ao apartamento mas sentiu-se como que grudado àquele chão viscoso. Seus olhos incrédulos seguiam-na. Ela, firme, não olhou para trás. Cada vez mais se tornava um ponto indistinto, até confundir-se com a semi-escuridão que os separava.

Tentou novamente retroceder e, desta vez, seus pés obedeceram, embora parecessem pesados demais a cada passo que davam. Sacou a chave do bolso direito da bermuda. Empurrou a porta com força e apertou o interruptor. N’algum apartamento acima alguém ouvia Stevie Ray Vaughan.

Cleo Ferreira
Enviado por Cleo Ferreira em 13/06/2011
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