UMA PORTA PARA A FELICIDADE

Era uma vêz, numa bela manhã de domingo na cidade de Manaus, Zona Franca, estado do Amazonas, norte do Brasil, Márcio em sua bike, vinha pedalando pela estrada da Ponta Negra quase sete e meia da manhã quando de repente um carrão de luxo cruzou à sua frente fazendo-o ir de encontro a sarjeta desequilibrando-o e fazendo-o parar bruscamente. Olhou para frente e viu sair do carrão uma mulher bem vestida, pele branca, corpo bem esbelto e com um perfume estonteante. Márcio desceu de sua bike e andando foi ao encontro daquela mulher que quase o fizera cair espetacularmente na estrada, mas parou depois de ver a mulher chorando com um desktop na mão e em seguida atirando-o para fora da estrada. Márcio se aproximou um pouco mais, então perguntou o porque daquele gesto, daquela atitude um tanto nervosa. Então Márcio surpreendeu-se ao ver de perto aquela linda mulher mesmo com o rosto tomado pelas lágrimas.

Ela se recompôs.

- Meu nome é Vera, desculpe por quase ter atropelado você mas é que eu estava tão nervosa, desnorteada tentando entender este computador e não conseguí, e outros problemas mais, tudo junto, eu acabei perdendo o controle e quase fiz uma besteira com você, me desculpa.

Márcio encostou sua bicicleta no carro de Vera e passou por baixo da cerca de arame farpado entrando no terreno baldio para buscar o computador. Quando retornou com o computador nas mãos, limpando-o, tirando alguma sujeira devido o impacto com o chão.

- Meu nome é Márcio, esticando sua a mão em direção a Vera.

Ela o cumprimentou. Ele então disse que ia ajudá-la, pois entendia alguma coisa de computadores, programas, e iria tentar resolver o problema. Colocou o computador em cima do capô do carro e começou a ligá-lo, era uma máquina moderna, parecia feito de pérola, talvez fabricado com exclusividade, bem avançado.

- Então vamos lá, disse Márcio, o que você quer fazer agora?

- Vera pediu um tempinho, virou-se, abriu a porta do carro, agachou-se, enxugou o rosto e falou alguma coisa para uma outra pessoa dentro do carro, voltou-se para Márcio e disse: Vamos lá, agora eu estou mais tranqüila, recuperada e menos nervosa também, esboçou um pequeno sorriso e veio para a frente do carro.

- Bem, disse Vera, eu estou tentando entrar no endereço da empresa do meu marido para ver como está a situação financeira, mas não entendo quase nada de internet, e como estava nervosa a situação ficou pior, então deu naquela situação que você viu ainda há pouco.

Márcio começou a navegar e encontrou o endereço dado por Vera. Na parte que cabia entrar com a senha ele disse a ela que dali em diante era ela que iria comandar a navegação dentro do sistema da firma. Vera começou a manusear o sistema e começou também a perguntar sobre a vida de Márcio, se era solteiro, casado, o que estava fazendo naquela estrada, onde morava, tudo para passar o tempo e conseguir o que queria dentro do sistema da firma, não conseguindo, pediu que Márcio a ajudasse, o que foi prontamente atendida, conseguindo imediatamente o que ela não tinha conseguido no sistema. Terminado o que queria, virou-se Vera e perguntou se ele aceitava tomar um refrigerante, um suco ou uma bebida qualquer mais adiante nos bares da Praia da Ponta Negra. Márcio meio surpreso com o convite aceitou e combinaram que ele ia na sua bike e ela iria em seu automóvel. Chegando em um dos bares da praia, Vera chamou para fora do carro a outra pessoa com quem conversara anteriormente. Então Márcio pôde conhecer a filha de Vera. Sarah, uma menina de nove anos, muito bonita, parecida com a mãe bem branquinha de olhos azuis. Conheceram-se e foram sentar-se em um dos bares. Vera quis saber como era a vida de Márcio, no seu dia a dia, onde ele trabalhava, onde morava, com quem vivia, aos poucos foi se soltando do problema passado e a conversa foi ficando cada vez mais amigável. Márcio conversava e cada vêz mais ficava admirado com a beleza de Vera, mas não deixava que ela desconfiasse de nada, também perguntava sobre a vida dela, algumas coisas ela respondia, outras dizia que talvez um dia respondesse a ele, e assim o tempo naquele dia foi passando, um suco, mais um suco, até que decidiram que ela ia continuar o seu caminho e Márcio ia continuar a sua pedalada para manter sua forma física. Vera chamou a pequena Sarah e disse para despedir-se educadamente como uma mocinha, Sarah prontamente o fêz e acrescentou um abraço e um beijo no rôsto de Márcio, Vera ficou olhando e disse que aquilo era inédito, Sarah não era de muitos amigos, mas também se aproximou, deu um abraço em Márcio agradecendo por tudo que ela havia feito por ela e sua filha, e disse quem sabe outro dia a gente se esbarra e pediu quase sem querer o número do telefone. Márcio disse o número. Vera disse que assim que pudesse ligaria e então entrou no carro e foi embora. Já na estrada de volta para casa, Márcio apesar de ficar atento nos veículos que passavam por ele não conseguia tirar aquela mulher, aquela semi deusa de sua cabeça. Chegando em casa entrou, colocou sua bike na garagem e foi para o seu quarto tomar um banho, mas não conseguia tirar a imagem espetacular de Vera da sua cabeça. Começava ali o triste drama da vida de Márcio. Naquele dia ele tentou em vão voltar à sua vida normal, mas lá pela meia noite viu que era impossível continuar tentando aceitar que tudo aquilo era uma ilusão que aquela mulher foi uma miragem, um sonho que ele teve acordado. Já estava a mais de três horas na frente da televisão tentando assistir o que estava passando, mas não lembrava mais nem do começo do filme nem do que tratava o filme. Então resolveu ouvir uma música em seu quarto sozinho. Márcio estava sem namorada e como era um cara meio pacato, ligado mais em esportes do que em baladas, dificilmente saía com os amigos do trabalho à noite, gostava mesmo era de assistir um bom esporte pela televisão, ou ir jogar um vôlei, bater uma pelada com os amigos, às vezes pegava um bom livro e passava várias noites compenetrado, lendo, ou saía de bicicleta pedalando rua à fora até cansar só então voltava para casa, aos domingos levantava bem cedo e saía pela estrada correndo de tênis, calção e camiseta, com algum dinheiro no bolso do calção e um celular para alguma emergência. Assim era a vida de Márcio, de vêz em quando ia à missa no domingo pela manhâ ou na terça-feira à novena na igreja de Nossa Senhora Aparecida. Então já de madrugada resolveu ir dormir, escovou os dentes e foi deitar-se, mas para a sua surpresa logo começou a sonhar com aquela mulher linda, num sonho envolvente, ela entre seus braços envolta em beijos, carinhos, carícias, afagos, alisamentos onde se permitia e onde não se permitia também, excitou-se tanto que acordou meio ofegante com aquela situação, mas com toda a calma possível, apenas sorriu da situação, levantou-se foi até a cozinha tomou um copo d’água e voltou para sua cama na esperança de voltar a dormir e quem sabe esquecer de tudo que tinha lhe acontecido no dia, depois disso dormiu como uma pedra. Acordou pela manhã ao som do despertador, levantou tomou uma ducha bem fresca, se arrumou, tomou um café bem reforçado como fazia sempre, conversou um pouco com seu pai, com sua mãe, sua duas irmãs, despediu-se deu um beijo em cada um de seus familiares, na empregada da família com todo respeito como sempre fazia, e saiu de casa para enfrentar mais uma semana de trabalho, mas logo que ntrou no ônibus pra variar, lá vem a imagem de Vera, a beleza em pessoa para os seus pensamentos, até quando chegou na Câmara de Vereadores de Manaus.

Passaram-se uns três dias, na quinta-feira, já voltando para casa, o celular tocou, Márcio estranhou o número mas atendeu assim mesmo dentro do ônibus, e para sua surpresa era a voz inconfundível de Vera, a semi-deusa, a beleza em pessoa. Márcio ficou maravilhado com a conversa que durou uns quatro minutos, e para sua surpresa antes de se despedir, Vera o convidou para um novo encontro no mesmo local na Ponta Negra, no sábado, em torno de nove horas, pois ela estava precisando de sua ajuda novamente com a empresa de seu marido. Márcio prontamente aceitou, despediu-se e desligou o telefone, e quase passou do ponto onde ia descer para ir pra sua casa. Então da quinta para sábado durou uma eternidade, os dias estivam demais, Márcio pegava o celular onde registrara o número de Vera, mas cadê a coragem de ligar para ela.

Enfim sábado, uma hora antes do marcado lá estava Márcio, feliz, nervoso, ansioso, eprando o momento de ver aquela mulher que mexeu com toda a estrutura do seu corpo e de sua alma, no físico e no psicológico. E eis que chega o mesmo carrão, parou, estacionou, e então o coração de Márcio quase parou ou disparou ao ver aquela formosura saindo do carro e sorrindo vindo ao seu encontro trazendo pela mão a pequena Sarah, que já vinha sorrindo também. Cumprimentaram-se cordialmente, Márcio abraçou a pequena Sarah, que infantilmente lhe deu um beijo no rosto, deixando-o mais feliz, contente do que já estava. Sentaram-se, conversarm sobre vários assuntos, Vera perguntou como foram os dias passados de Márcio, e vice versa, com a pequena Sarah de quando em vêz metia-se na conversa dos dois adultos. Então Vera falou que precisava mais uma vêz entrar no sistema da empresa e que já tentara e não havia conseguido e que também não quis pedir a ajuda de um profissional por que confiou em Márcio desde a primeira vêz que ele a ajudou.

Marcio pegou o notebook colocou em cima da mesa e começou a manusea-lo, abrindo parte por parte do sistema da firma, pois Vera, dera a senha assim que lhe entregou o notebook.

Então Vera foi aos poucos se inteirando de tudo que estava acontecendo com a firma que era sua e de seu marido, que tinha ficado em São Paulo trabalhando. E para sua surpresa, Márcio foi identificando para ela coisas erradas que estavam acontecendo dentro de sua firma sem que ela soubesse. Ficou surpresa quando soube que muito dinheiro estava sendo desviado pelo próprio marido e sendo enviado para fora do país, um crime contra a confiança que ela tinha depositado no marido e contra o Governo Federal, assustou-se e quase não acreditava no que Márcio tinha descoberto para ela, achava tudo aquilo um absurdo, mas era a pura verdade. Então baixou a cabeça por uns instantes, depois suspirou lenvantou-se e disse que queria ter uma conversa com Márcio muito profissional, que estava se sentindo traída profissionalmente pelo marido e gostaria que Márcio se tornasse um tipo de confidente e testemunha para ela, se ele toparia ajuda-la naquele sentido, o que prontamente recebeu um sim.

Vera delicadamente pediu que Sarah fosse para uns brinquedos ali perto num playground, e começou a conversar com Márcio de como era a sua vida passada. Casara-se muito cedo para fugir da pressão do pai e da mãe que a prendiam demais, dando liberdade apenas para estudar, queriam que ela sempre desse um bom exemplo para as duas outras irmãs mais novas que ela era a responsável pelas irmãs na ausência do pai e da mãe e a pouca idade não permitiu que visse a decisão a ser tomada por ela era a mais errada possível. Armando o seu marido, já era amigo da família, dezessete anos mais velho do que ela. Aos dezenove, Vera, resolveu aceitar a proposta de Armando e começaram a namorar. Com menos de dois anos casaram-se, uma festa enorme, muita pompa, pois ambas as famílias possuíam muitos bens, os pais de Vera e os de Armando diziam que casamento nenhum foi ou seria tão perfeito quanto o deles. Ficou grávida logo depois da lua-de-mel, chegou então Sarah, para a felicidade maior de todos. Donos de uma fábrica de tecidos Armando, Vera e Sarah viviam um sonho. Três anos depois o sonho começou a mudar de côr. Vieram as diferenças, as mudanças de comportamento de Armando para Vera, que ficava vários dias, semanas e até meses sozinha cuidado de Sarah e da empresa enquanto Armando viajava a negócios e demorava demais para voltar, o amor dele para ela estava acabando, e Vera vivia na esperança de um dia tudo mudar e voltar a ser como era quando casaram-se. Lêdo engano, o tempo foi passando, Sarah crescendo perguntando pelo pai, Vera dividida entre a empresa, Sarah e a vida em família sempre sozinha.

Há nove meses atrás Armando começou a ficar mais na empresa e em casa, mas totalmente distante, até em quarto separados estavam dormindo, e aquilo para Vera era isuportável, inadmissível, mas seguiu em frente pela filha, pela empresa, pela família e por que ainda gostava do homem pai de sua única filha. Depois vieram a brigas, as ofensas, as humilhações, as provocações insuportáveis, as agressões físicas, que aos poucos foram se tornando mais fortes, chegando ao ponto de machucar Vera, que torturada com a situação aos poucos se afastou da empresa e cuidava apenas da casa e de sua filha querida. Até que um dia seu pai numa conversa um pouco desconfiada sugeriu que ela desse um pouco mais de atenção à empresa que ela tinha ajudade ela e o marido montar para o futuro deles. Vera ficou intrigada com aquela conversa e pediu ao pai que se explicasse melhor sobre aquela insinuação. Então para sua surpresa ouviu do próprio pai a seguinte frase: Você está perdendo a sua empresa. Vera tentou aos poucos voltar para a empresa, mas sentiu a pressão dos diretores que eram orientados pelo seu marido para não darem nenhum tipo de informação. Vera teve que usar de propina para conseguir que um alto funcionário da administração da empresa integrasse o seu notebook no sistema da empresa, mas pagou alto preço para isso acontecer. Ao conseguir se integrar ao sistema da empresa Vera, mesmo contra sua vontade disse que iria tirar umas férias com Sarah e viajaram para Manaus. E já no segundo dia em Manaus, por coincidência do destino e meio desesperada tentando entrar no sistema da empresa em São Paulo, na estrada da Ponta Negra, quase atropela Márcio e assim nasceu aquela amizade sincera. Vera foi mais longe e contou a Márcio que muitas vezes ouviu o próprio marido dizer que ela merecia uma surra maior, e ela com medo de contar aos pais, viviam aquela situação humilhante e revoltante, mas era a pura verdade, e não sabia explicar como teve coragem de contar a Márcio tudo o que tinha acontecido a ela no passado. Pediu desculpas por ter tomado tanto tempo e ameaçou ir embora. Márcio levantou-se também e instintivamente segurou-a pelo braço dizendo que assim é que os verdadeiros amigos agem, um se abre totalmente e o outro ouve e procura entender e ajudar da melhor maneira, e foi mais além, dizendo que ela estava certa em tentar sair definitivamente daquela situação. Disse mais ainda. Deus coloca em nosso caminho várias portas para serem abertas por nós, as vezes nós procuramos a mais rica, a mais enfeitada, a mais sofisticasda. Mas a felicidade está na porta mais simples, mais humilde, e é por ela que nos devemos seguir o nosso caminho. Eu, disse Márcio, estou procurando também uma pessoa para passar comigo por essa porta. A porta da felicidade. Mas a pessoa que eu procuro tem que estar certa de que seguirá comigo para sempre e dois dias a mais. Tem que ser assim como eu sou, honesto, simples e querendo viver um amor verdadeiro, um amor de cumplicidade, um amor eterno. E esta porta está aberta só esperando por outra pessoa, faz isso na tua vida, você tem capacidade e personalidade o suficiente para refazer e vencer na vida, você nunca mais estará sozinha, acredite em você, acredita no que eu estou te dizendo.

Vera foi pega de surpresa com as palavras de Márcio, jamais alguém falou com ela naquele tom, com aquela firmeza. E, lá no fundo ela sentiu que o que ele falou era muito sincero, verdadeiro.

Então, Vera chamou sua filha Sarah, agradeceu ao amigo Márcio por tudo que tinha feito por elas, entrou no carro e foi embora. Nem olhou para trás, simplesmente foi embora.

Márcio ficou estupefato, e meio surpreso com ele mesmo por ter falado tudo o que falou, sem saber de onde tinha tirado coragem para falar tudo aquilo para uma mulher tão linda, como ele nunca tinha visto antes. Ficou por mais de uma hora parado meio triste por não ter tomado nenhuma atitude, tentado pelo menos fazer com que Vera ficasse um pouco mais e explicasse tudo o que ele disse sem pensar de ímpeto, e ficou pensando ali por muito tempo no que falara para Vera. Depois foi embora para casa. Passaram-se dias, semanas, meses, mais de um ano. Então um dia um segurança do prédio onde Márcio trabalhava, chegou perto dele com um bilhete na mão, lhe entregou e falou: É pra ler agora Marção, e vái lá fora depressa. Márcio começou a ler o bilhete onde estava escrito o seguinte: “Voltei para passar pela porta da tua felicidade. Você me quer no caminho da sua vida para sempre e mais dois dias?”. Márcio quase cái, mas desceu e parou na calçada em frete ao prédio onde trabalhava. Ali estava Vera, como sempre linda, maravilhosa, belíssima, e bem ao lado dela uma pequena dama chamada Sarah. Então se abraçaram, sorriram, choraram juntos e seguiram. Passaram pela simples porta da felicidade e seguiram rumo ao infinito, felizes. Eles encontraram o verdadeiro amor numa estrada, onde um pedalava e o outro tentava fugir, sair de uma vida mal vivida. Mas o amor existe sim, só temos que ter paciência para encontrá-lo e vivê-lo intensamente. E assim Márcio, Vera e Sarah se encontraram e viveram felizes para sempre e mais dois dias.

Manaus, 03 de março de 2011.

Martcostelino