Na capela, algumas pessoas, cochicham e riem baixinho em respeito ao falecido, que acabou de chegar caregado, apenas pelos homens da funerária, ninguém mais próximo da família estava alí, a não ser a viuva que diante do caixão, desandou  a chorar desesperadamente, desmaiando em seguida. Sendo amparada por  desconhecidos.
    Não demorou muito e a capela estava cheia de parentes e amigos da família. Recuperada a viuva se aproximou do marido que tinha o corpo coberto de flores e vestia o terno azul marinho que tinha usado no dia de seu casamento.  A cena mexeu com seus sentimentos, fazendo-a reviver num minuto, aquele momento lindo de suas vidas. Entre queixas e soluços tentava se expressar, pondo prá fora tudo que sentia, para que soubessem do seu amor pelo marido e a dor que sentia naquele momento tão difícil.
    O único filho do casal, um sr. de aproximadamente oitenta anos, tentava consolar sau pobre mãe, que não parava de ter xiliques e desmaios seguidos, todos estavam vendo a hora em que ela tombaria morta ao lado do marido.
    Puxando o fôlego com todas as forças que ainda lhe restavam, começou a xingar o falecido, _ filho da mãe, depois de tudo que vivemos juntos, todo o meu amor dedicado a você, no final você me apronta essa! O silêncio encheu o ambiente quebrando aquele clima fúnebre, todos o rostos  se voltaram para a viuva, esperando que ela concluisse o seu reclamo...
     Como se fosse um desabafo, concluiu,_ tinha que me deixar logo só agora!  todos os olhares se dirigiram em sua direção, estupefatos, não entendiam muito bém suas palavras, desconexas, muito menos comprendiam suas queixas contra o falecido indefeso. Continuado, esbravejava toda sua raiva contra o defunto, dizendo..._  Se tinha que me deixar, tivesse me deixado enquanto eu era bem mais jóvem e ainda tinha carne em meus ossos!  quem sabe assim algum cachorro esfomeado aparecesse para roer as sobras... Dito isso virou as costas e abandonou o velório, diante de todos que alí estavam boquiabertos.  A gente, vive e nunca vê tudo!