1° Emprego de vaqueiro do Zé do Brejo

Zé do Brejo seu 1°emprego de vaqueiro

Depois da morte do meu amigo e companheiro de serviço, Zé da Onça, lá na fazenda Eldorado, Eu fiquei muito triste e não quis mais pegar empreitas, decidi mudar de profissão. De agora por diante vou tentar a sorte trabalhando de vaqueiro. Com o dinheiro da empreita eu comprei um chapéu de couro, um gibão e fui procurar emprego de vaqueiro na fazenda do deputado federal, doutor Honório f. Caiado. Esta fazenda fica localizada na região da baixa da serra, na cabeceira do rio do peixe, no norte do estado de Goiás. Local de terra mista. A maior parte das pastagens era pasto nativo, com muitas vazantes e veredas de pasto nativo. A pastagem formada ainda era pouca em relação ao tamanho da fazenda.

Esta fazenda era enorme, ninguém sabia ao certo o tamanho exato da sua área. Dizem por aí, que o deputado tomou posse destas terras, quando ainda eram terras da união. O que não faltava na fazenda era serviço pra vaqueiro bom. Sempre tinha o gado da brabeza para pegar que era criado nas vazantes, sem custeio, sem traquejo e que só iam para o curral amarrado. Nem o proprietário, nem os vaqueiros sabiam ao certo quantas cabeças de gado existiam na propriedade.

- Quando eu cheguei à sede da fazenda, por sorte encontrei logo o doutor deputado, deitado em uma rede na varanda, esquecendo um pouco das centenas de leis que tinham que votar constantemente lá no congresso nacional.

- Bom dia doutor, disse ao me aproximar da varanda. – Bom Dia, o que deseja? Perguntou o doutor dando uma olhada no meu belo corpo da cabeça aos pés. – Eu vim até aqui por que fui informado que o senhor sempre tem vaga na sua fazenda pra vaqueiro. – Eu tenho sim, mas é pra pião bom. – O senhor está falando com o peão certo. – A manhã mesmo você vai fazer o teste. Estou pegando uns bois da brabeza pra mandar pro frigorífico. A manhã mesmo você já vai fazer o teste, se passar já está contratado.

- Para dizer a verdade eu nunca tinha trabalhado nem um dia de vaqueiro, mas como precisava muito do serviço, decide pernoitar na fazenda e fazer o teste no outro dia. Antes mesmo de o dia clarear direito os peões já estava com toda tropa preza no curral. O capataz mandou que eu escolhesse no meio de toda tropa presa qual eu queria para montar. Eram pra mais de 30 entre cavalos e burros. Estavam todos enfileirados e os peões já conheciam todos eles muito bem. O capataz já estava fazendo o primeiro teste no vaqueiro novato. Eu que não sou bobo fui passando enfrente da tropa e estralando o dedo e assobiando um por um. Todos se espantavam, até que no final da fila encontrei um cavalo que estava cochilando e cochilando ficou e não deu a mínima para o movimento que eu fazia com todos eles. – Pensei comigo mesmo. Este deve ser bem mansinho e não tem perigo de me derrubar. Coloquei o cabresto no animal preguiçoso e disse para o capataz: Este é o cavalo que eu quero montar. - Os peões ficaram todos admirados, porque sem saber ele escolheu o melhor cavalo da fazenda para pegar gado da brabeza. Nunca tinha escapado um gado na frente daquele alazão. Depois de arriada a tropa, os vaqueiros todos trajados com chapéu e gibão de couro, desceram por uma vereda, até a vazante onde costumavam pernoitar os animais da brabeza. O capataz pediu aos companheiros que não fizesse barulho e quando avistasse o rebanho a ordem era seguir o mais próximo e botar pra derrubar e amarrar o mais rápido possível.

Quando o meu cavalo avistou o rebanho, já não atendeu mais o comando das rédias. Partiu na frente dos outros cavalos e seguiu emrrabado no maior e mais velhaco touro que espirrou do rebanho. Eu não tive tempo de fazer nada, apenas abracei com o pescoço do cavalo e comecei a rezar, pedindo pra tudo enquanto era santo para o meu cavalo parar de correr, mas nada adiantou. Quanto mais eu rezava mais o cavalo corria apertando o marruás no meio da saroba, que ia abrindo caminho para o cavalo que não lhe dava trégua nem um segundo até derrubá-lo dentro de uma grota onde não conseguiu mais se levantar. Quando os outros vaqueiros chegaram para me prestar socorro encontrou o touro amarrado, e eu já estava sentado encima do infeliz, com minha calça toda suja de merda, aranhado de espinho pra todo lado e muito mais amarelo do que uma flor de algodão. – O capataz vendo a minha pouse de vaqueiro, bateu nas minhas costas e disse: você é mesmo dos bons. – Este touro já havia escapado da nossa captura por duas vezes. – eu só queria saber é de onde está vindo toda essa catinga de merda. Parece que você defecou na calça Zé? - É verdade... Eu sou diferente dos outros vaqueiros que sempre param pra cagar na hora do aperto. Eu prefiro sujar a roupa a deixar o boi escapar.

Quando os vaqueiros chegaram com o marruá no curral, o patrão, feliz da vida, já estava sentado encima da cerca do curral com a sua filha Carol, que foi logo perguntando quem foi o peão valente que conseguiu amarrar aquele touro que pesava pra mais de 600 kilos? - Eu percebendo o jeito que a aquela linda moça me olhava, mesmo tendo jurado pra mim mesmo que nunca mais ia montar em outro cavalo, após correr os olhos nos peões que permaneceram calados, disse sorrindo para a filha do patrão, já com a sensação do dever cumprido... – fui eu que amarrei esse touro encantada senhorita. - Meus parabéns, disse a moça sorrindo e demonstrando alguma gratidão pelo difícil trabalho realizado. - Você provou que é muito bom vaqueiro e merece ser contratado. – Acho que não vai dar pra eu ficar trabalhando aqui encantada senhorita, estou pensando em ir embora hoje mesmo. – O Doutor que não sabia do aperto que o peão havia passado, pois já havia lavado a calça no brejo, ouvindo toda a conversa, sem desconfiar de nada, disse um pouco arrogante e decepcionado com os seus vaqueiros. Eu lhe pago dobrado, estou precisando muito de um peão bom que nem tu. Se aceitar o emprego, segunda feira você vai chefiar uma comitiva que irá até o retiro 13, ver o que está acontecendo por lá e pegar uns touros da brabeza que estão passando da hora de ser levado para o frigorífico. – Já me disseram que as onças estão pegando muitos bezerros também. – Quero que reúna o gado que for possível nos piquetes para atrair as onças pra perto do barraco e ficar vigiando para matá-las. Cada onça que vocês matarem eu pago por fora do ordenado o valor de uma vaca parida. A coisa estava complicando cada vez mais para mim. Quando o doutor falou nas onças, me arrepiei todo, eu já estava traumatizado, não queria nem ouvir falar em onça. Disse logo para o patrão que não ia topar a parada por dinheiro nenhum. Mas quando olhei para a filha do patrão, que, há esta hora já estava sorrindo e se derretendo toda em charme para este peão novato e antes que eu dissesse alguma coisa, entrou logo na conversa e disse: - Depois de amarrar um touro desse tamanho sozinho, matar onça vai ser moleza pra você peão... Depois dos elogios vindo de uma linda donzela, tomei coragem. Mesmo sabendo do grande risco que ia correr não queria se passar por medroso e covarde diante daquela pérola encantada. – Mudei de idéia imediatamente e disse ao doutor. Estamos combinados patrão. Vou ficar trabalhando com o senhor até pegarmos os touros e resolvermos o problema das onças no retiro 13, nem que eu tenha que pegar aquelas onças com a mão. – O que nunca faltou para esse peão atrapalhado, foi disposição e vontade de ganhar dinheiro. Apesar de ter nascido muito pobre, eu sempre tive uma mente milionária, só penso em ter o meu próprio negócio e deixar de ser empregado. Mesmo me derretendo todo de medo, resolvi aceitar o desafio só para ficar por perto apreciando a beleza da filha do doutor, que ia permanecer na fazenda até terminar suas férias. Os elogios, a educação e o jeito que aquela princesa me olhava, mexeram profundamente com os meus sentimentos.

Aquele dia era vespa de São Pedro, fazia um frio de engiar às botinas, o doutor deputado mandou matar um coraleiro dos que havia sido pego naquela manhã, para fazer um churrasco e comemorar o feriado do dia santo. – mandou convidar os agregados e a vizinhança da fazenda para fazer a reza em devoção ao Santo Antonio e depois tomar quentão, comer pipoca, carne assada e dançar um arrasta pé no calor de uma enorme fogueira, até o dia amanhecer.

Esta festa era tudo que eu mais queria. Mesmo sabendo que entre eu e a filha do patrão havia um imenso abismo social e econômico para ser vencido, existia no fundo do meu coração uma pequenina luz de esperança. – Eu vim de uma família muito humilde: Não tinha estudo, não tinha dinheiro, era órfão de pai, descendente de família muito pobre, porém trabalhadora e muito honesta. Sempre acreditei no sucesso e nunca me conformei com esta vida sofrida que o destino me reservou. Um dia eu ouvi alguém dizer que: Os sonhos existem para mudar o destino e a vida das pessoas. Basta querer, acreditar em se mesmo e persistir, que tudo será possível. Não podemos escolher a nossa condição social pra nascermos, entretanto podemos mudar o nosso destino. Pensava comigo mesmo. –

Quando anoiteceu os convidados foram chegando para rezar a novena e depois participar da festa que prometia ser muito boa. Quem primeiro chegou foi o seu Baltazar e o Chico Mineiro, trazendo com eles uma sanfona novinha de 180 baixos e uma linda viola de 10 cordas, que estavam até lumiando. Baltazar era um sanfoneiro muito respeitado naquela região e Chico Mineiro pontilhava uma viola como ninguém. Os dois formavam uma dupla sertaneja bem conceituada naquela região. Sempre eram convidados para tocar nos bailes sertanejos. A festa com certeza prometia ser muito boa. Quando o povão já havia reunido em bom numero, o Doutor pediu a Dona Sinhá, mulher do vaqueiro Tião Mulato para puxar o terço. Todos acompanharam com muita fé e respeito. Quando terminou a reza os peões soltaram muitos fogos e atearam fogo na enorme fogueira que aqueceu o frio e clareou uma boa extensão em volta da sede da fazenda. – Doutor deputado, estava muito animado e foi logo dando ordens para os cantores puxar logo o fole da sanfona, pontear a viola e animar a moçada que já estava sendo servida com cerveja, quentão, aguardente, pipoca, batata doce, carne assada e muitas outras comidas gostosas. Tudo com muita fartura.

Antes que Baltazar e Chico Mineiro começassem a tocar, Zé do brejo se apresentou a eles e disse que gostaria de acompanhar com a sua gaita. – Sem dar muito crédito ao peão, mas sem querer menosprezá-lo, eles lhe responderam. É um grande prazer ter mais um tocador em nossa companhia. Quando o pagode começou, Zé do brejo fez sua gaita tremer e o povo se arrepiar. A primeira música tocada foi mágoa de boiadeiro. Música preferida do patrão. Os convidados fizeram um círculo em volta dos músicos para aplaudi-los. – Até mesmo Baltazar e Chico Mineiro se impressionaram com o misterioso talento de Zé do Brejo. Como é que um peão tão pobre, que nunca foi em uma escola de música poderia tocar tão bem daquele jeito. – O pra mostrar o meu talento e impressionar a filha do patrão, pedi a ela que escolhesse a música de sua preferência. – Imediatamente Carol fez o pedido: Gostaria que você tocasse somente na sua gaita a musica, o menino da porteira. - Vou tocá-la na gaita e depois com a permissão do Chico Mineiro faço questão de tocá-la também na sua viola. Zé do brejo mostrou um talento com esses dois instrumentos que poucas pessoas possuem. Todos o aplaudiram e lhe deram os parabéns.

Depois de terem tocados por um bom tempo, os três músicos pararam para descansar um pouco e saborear uma carne assada com cerveja gelada. Enquanto eles se divertiam, Carol se aproximou do peão vaqueiro e lhe perguntou... – Qual é mesmo o seu nome peão? – Com o seu jeito alegre e divertido, sempre sorrindo e fazendo graça, lhe respondeu. Meu nome é José Bento Ferreira Nunes, mais conhecido por Zé do Brejo, “Um eterno admirador da sua magnífica e deslumbrante beleza”. – Carol entabulada com os elogios recebidos e com o talento do peão, na gaita e na viola, agradeceu formalmente os elogios e lhe perguntou novamente. Por que o apelido Zé do Brejo? - Este apelido surgiu, por que eu passava maior parte do meu tempo nos brejos banhando e pescando, quando ainda era adolescente. – Acho que você está jogando fora, o talento que Deus lhe deu pra tocar, trabalhando de vaqueiro. – Eu me colocando no meu devido lugar lhe respondi sorrindo: Você além de linda é também muito gentil e educada. Eu só não entendo é por que Deus fez as pessoas com destinos tão diferentes quanto o nosso. Você nasceu em berço de ouro e eu nasci mais pobre do que Jô quando estava na miséria, em um ranchinho de barro coberto de sapé e ainda fiquei órfão de pai aos dois anos de idade. – Olha Zé, nós não podemos escolher o jeito de nascer, mas, nós podemos mudar o nosso destino. – Mudar o meu destino é tudo que eu mais quero senhorita Só não sei é como... Não pretendo trabalhar de vaqueiro por muito tempo, apenas o suficiente para conseguir algo melhor.

- A mãe de Carol percebendo a intimidade de sua filha com o peão violeiro foi até onde eles conversavam e disse interrompendo o colóquio dos dois que já durava algum tempo. Vá lá pra dentro menina, não quero ver você de prosa com estes peões aqui da fazenda. Seu pai não deve estar gostando nada deste teu jeito. Você já sabe muito bem como ele é. - Olha mamãe, só estou querendo saber um pouco da vida deste peão que é um verdadeiro artista na gaita e na viola. Carol percebendo a preocupação de sua mãe pediu licença, mas, antes de sair disse para o peão, mais tarde quero ouvi-lo tocar novamente. Você é um excelente violeiro. O som continuou até madrugada. A conversa entre Carol e Zé foi o suficiente para nascer um fio de esperança no coração do peão.

No retiro 13 vocês vão ver o que aconteceu com esse romance

goiano
Enviado por goiano em 31/10/2010
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