O garimpo de diamantes

O GARIMPO DE DIAMANTES

Estava próximo de completar um mês que a comitiva de Zé do Brejo estava trabalhando no retiro 13 por ordem do patrão, quando retornaram à sede da fazenda. Zé já não estava suportando mais a saudade daquela princesinha que mexeu tanto com os seus sentimentos causando insônia a ponto de não conseguir tirá-la mais do seu pensamento.

Tudo na fazenda estava como os peões haviam deixado. O deputado ainda estava na fazenda aproveitando o resseco no congresso nacional para fazer alguns conchavos políticos com correligionários da região. Sua filha Carol e seu irmão Julio Cesar ainda continuavam de férias. O patrão muito satisfeito com o trabalho feito no retiro 13, depois de ter encaminhado as onças capturadas para o jardim zoológico de Goiânia, recebeu a comitiva com muita alegria. Mandou preparar um excelente jantar para os peões e aproveitou o encontro para acertar o Pagamento prometido a todos os peões que participaram da comitiva. Após um longo bate-papo descontraído entre patrão e empregados, Zé do brejo disse ao patrão que ia deixar de trabalhar de vaqueiro por algum tempo, disse também que estava pretendendo tentar a sorte num garimpo de diamantes que havia sido descoberto há pouco tempo na região de Santa Terezinha, próximo ao pilar, cidade que virou patrimônio histórico pela grande produção de minério e suas atrações turísticas construídas pelos escravos.

Carol que ouvia atenta toda a conversa do seu pai com os peões, ficou muito triste e preocupada, pensando que nunca mais ia ver o peão vaqueiro que plantou a semente do amor no seu coração. - O Doutor deputado e sua esposa percebendo os constantes olhares da sua filha para o peão, acataram com certo alívio a decisão tomada pelo vaqueiro Zé do Brejo de deixar a fazenda. O patrão mesmo estando satisfeito com o trabalho do peão, temia que a sua permanência na fazendo pudesse com o decorrer do tempo, se transformar num sério romance entre ele e sua filha. Isto era tudo que ele não queria. – Naquela noite Carol não conseguiu dormir preocupada com a decisão inesperada daquele peão que balançou as suas emoções. Mil pensamentos passavam pela sua cabeça e não tinha a menor ideia do que fazer diante daquela situação. Tinha certeza que seus pais jamais aprovariam o seu namoro com um vaqueiro, entretanto, não queria perdê-lo e decidiu ir procurá-lo depois que todos dormiram. Queria pelo menos despedir e lhe dar alguma esperança. - Quando Zé percebeu a presença daquela princesa no seu quarto, disse para si mesmo, devo estar sonhando, não pode ser verdade, tudo que eu mais quero nesta vida, está diante dos meus olhos. – È você mesmo Carol? – Sim sou eu Zé. – O que uma moça rica, prendada e encantadora, dona de todos os requisitos necessários para conquistar rapazes da alta nobreza, está fazendo a esta hora da noite, aqui no quarto de um pobre peão do trecho?- Obrigada pelos elogios Zé, mas, quero lhe responder dizendo que o amor verdadeiro não escolhe: classe social, não escolhe raça, cor, e nem mesmo o poder econômico. Esta é a razão que me fez vir até aqui. Estou apaixonada por você e não consegui deixar você partir assim tão depressa, sem ao menos lhe dizer um Adeus. – Se fosse por minha vontade eu jamais sairia daqui, mas, o amor que sinto por você me obrigou a tomar esta decisão. Se eu continuar trabalhando de vaqueiro, tenho certeza que o nosso amor jamais será aprovado pela sua família. Quem sabe, no garimpo poderei mudar o meu destino. – Carol apertando as mãos do vaqueiro disse suspirando de amor, para mim o que importa não é status, dinheiro, diplomas e sim a qualidade interior, e isto você tem o suficiente para me convencer de que estou no caminho certo. Só não estou entendendo é por que você está tremendo e com as mãos tão frias. Minha presença aqui está lhe incomodando? – De jeito nenhum, só tenho que agradecer a todos os anjos do céu por ter colocado uma pessoa tão linda e tão educada no meu caminho. Entretanto devo lhe confessar que por minha vontade eu parava o relógio do tempo para que esse momento durasse eternamente, mas, não quero causar nenhuma desconfiança dos seus pais quanto ao nosso romance antes do momento oportuno. Se os seus pais descobrirem você conversando aqui comigo a esta hora da noite, o mundo poderá desabar nas nossas cabeças, e a manhã bem cedo, meu Pescoço estará amarrado por uma corda e dependurado no galho de uma destas arvores aqui da fazenda. Já escapei por muito pouco de ser enforcado uma vez e não quero viver esta experiência outra vez. – Ser enforcado? – sim. - Por quê? Perguntou Carol espantada. – Apenas por que eu disse ao fazendeiro, quando lhe pedi um emprego, que era caçador de onça e nunca tinha caçado nem um gatinho enjeitado. Agora tudo que eu quero é vencer o mais rápido possível, o abismo desta imensa desigualdade social que nos separa. Pode ter certeza que eu vou conseguir, por que os ventos da felicidade estão soprando ao meu favor. A manhã bem cedo eu partirei com muita saudade de você, mas, partirei com uma felicidade incomensurável, por que levarei comigo a certeza que você me ama, e que muito breve irei conseguir a minha independência financeira no garimpo de diamantes. Basta apenas acreditar na sorte. Fé na sorte eu tenho de sobra. Se tudo der certo, eu voltarei para pedir sua mão em casamento e selar o nosso juramento de amor diante do altar. Isto se você ainda estiver me esperando, é claro. - Carol ouviu todo o depoimento do peão sem dizer uma palavra, quando ele a terminou apertou sua mão bem forte deu lhe um beijo demorado e disse: vou rezar todos os dias para que os seus planos possam ser realizados o mais breve possível. Deixo neste papel o meu telefone e endereço da minha casa lá em Brasília. Quando estiver no garimpo, me mande notícia tua sempre que puder. Agora vou para o meu quarto antes que alguém me veja aqui.

Zé do Brejo não conseguiu dormir um minuto mais naquela noite, a todo instante se repetia às senas daquele maravilhoso encontro no seu pensamento. No outro dia ainda bem cedo, com o corpo enfadado de uma noite sem dormir, Zé levantou e foi chamar seu companheiro, o preto Chico farofa, que já estava com tudo pronto, inclusive uma paçoca de carne de gado bem temperada com alho, pimenta do reino, cebola que dava pra gente sentir o cheiro de longe, apenas esperando a hora de partir para cidade de Santa Terezinha em busca da sorte grande no garimpo de diamantes. Os dois vaqueiros pegaram uma carona com o deputado que também já estava de volta para Brasília depois de terminar o recesso no parlamento. Durante a viagem o deputado desejou aos peões muita sorte. Zé olhando para Carol disse com um sorriso depois de um breve suspiro, nós vamos precisar de toda sorte do mundo, doutor. Eu pretendo voltar à sua casa o mais breve possível para tratar de um assunto muito importante com o senhor. – Que assunto tão importante é esse? - Posso saber? Perguntou o Doutor Deputado com a voz alterada, insinuando algum romance entre sua filha e o peão. – Sim é claro! Só não vou lhe dizer agora por que a nossa viagem com o senhor termina aqui, mas sua filha Carol terá muito tempo durante a viagem para conversar com vocês detalhadamente, tudo sobre os nossos planos.

Antes mesmo que o Doutor e sua mulher dissessem alguma coisa, eles chegaram à primeira cidade, local onde os peões iriam tomar outro destino. Zé do Brejo e o companheiro Chico farofa, agradeceram pela carona, despediram do Deputado e família, pegaram um caminhão pau de arara com destino ao norte do estado, onde estava localizado o tal garimpo de diamantes.

O deputado ao seguir sua viagem com destino a Brasília, perguntou já bastante nervoso para sua filha. O que esse peão quis dizer com essa história de nossos planos? - Preocupada, temendo uma reação negativa por parte dos pais, permaneceu calada por um instante. – Dona Clara mãe de Carol, já muita nervosa, segurou no braço da filha e disse olhando dentro dos teus olhos, não me diga nem por brincadeira que você está querendo namorar com aquele peão? – A senhora e o papai pode pensar o que quiserem, mas a verdade é que nós já estamos namorando. Se tudo der certo, quando eu terminar os meus estudos pretendo me casar com ele. – O que você está dizendo minha filha? – É isto mesmo que vocês acabaram de ouvir. - Você deve ter perdido o juízo minha filha... Disse sua mãe já muito nervosa. Existem tantos moços bonitos, ricos, formados, que você poderá escolher para se casar e você se interessou logo por um peão vaqueiro, pobre sem nenhuma qualidade social, gente que você nem conhece a família. – A realidade é que o amor não escolhe classe social, não escolhe dinheiro, não escolhe beleza física, não escolhe principalmente a vontade dos pais. Ele simplesmente acontece quando agente menos espera. Ele é um moço pobre, mas, tem na alma o sentimento de um príncipe. Esta beleza interior invadiu meu coração. Eu não tenho culpa do que aconteceu comigo, agora só me resta torcer para que ele tenha muita sorte e volte logo do garimpo para pensarmos detalhadamente no nosso futuro.

Enquanto Carol dialogava com seus pais sobre o seu amor pelo peão vaqueiro, Zé do Brejo tocando a sua gaita para distrair um pouco, seguia com seu companheiro Chico farofa em um velho caminhão pau de arara com destino a cabeceira do rio tesoura no município de Santa Terezinha, onde está localizado o recém descoberto garimpo de diamantes. Durante aquela agonizante viagem, pegando sol, poeira nos olhos e muito sacolejo nos buracos da péssima estrada de chão, Zé do Brejo só pensava em bamburrar no garimpo de diamantes e conseguir sua independência financeira o mais rápido possível para realizar o sonho de levar a sua querida Carol aos pés do altar.

Quando chegaram ao local, já existiam algumas barracas improvisadas de folhas de bacuri às margens do riacho, feito por outros garimpeiros que já haviam chegado primeiro em busca da fortuna. O peão Zé do brejo e o preto Chico farofa cuidaram de armar logo o seu rancho. Cortaram quatro forquilhas, algumas varas que foram amarradas por cima. Colocaram sobre elas um plástico, depois cobriu com folhas de bacuri. Ainda não existia firma no local, cada garimpeiro trabalhava por conta própria de acordo com suas possibilidades. O cascalho era retirado manual no leito do rio e peneirado na bateia na esperança de encontrar o diamante.

Todos os dias a rotina era sempre a mesma, os dois garimpeiros levantavam ao raiar do dia e garimpava o dia todo na esperança de encontrar o misterioso diamante, mas a sorte não estava lhes ajudando. Os dias foram passando, as economias esgotando e nada de encontrar um diamante que valesse a pena.

- O preto Chico Farofa já muito preocupado com a grave situação dos dois chamou o companheiro e disse: - Zé você me desculpa por eu ter lhe metido nesta enrascada. Agora nossa vida ficou bem pior, nem dinheiro e nem emprego. – Deixa de dizer besteira Chico, nós vamos sair daqui bamburrados, basta ter fé e persistência. – Nossos estoques de comida e o nosso dinheiro já estão se esgotando, o que vamos fazer aqui sem ter o que comer? – Chico tenha fé, eu estou acreditando que nós vamos encontrar o maior diamante deste rio antes do nosso dinheiro acabar. Paresce até que a sorte tinha ouvido as palavras do Zé do Brejo. Quando ele retirou do fundo do riacho a primeira bateia de cascalho, encontrou dois diamantes dos mais raros e mais valiosos que a natureza poderia lhe oferecer. – Não te falei Chico farofa que a sorte estava batendo na nossa porta!... – Chico correu, abraçou o companheiro muito feliz da vida e começaram a recolher as ferramentas para ir até o barraco preparar os seus pertences e viajar imediatamente até a cidade onde pretendia vender as pedras preciosas. – Zé fazia mil planos para realizar com o dinheiro que iria recebido em troca dos diamantes. O mais importe de todos, era se casar com Carol que até o momento estava sendo muito questionado pelos pais dela. Enquanto o companheiro acabava de arrumar os pertences para irem embora, Zé fascinado com tanta beleza que refletia daqueles diamantes colocou os dois encima de uma tabua onde o sol batia e afastou um pouco para ver sem prejudicar os olhos o quanto elas brilhavam com os raios do sol. - Dirrepente apareceu um dos milhares de urubus que voavam por perto em busca de alimentos e engoliu as duas pedras de diamantes que Zé e o companheiro Chico haviam lutado tanto pra conseguir. – Zé ficou desesperado puxando os cabelos da cabeça, Olhava naquela imensidão, de um lado para outro e não acreditava no que tinha acabado de ver. Aquela cena representava um dilúvio desabando na fogueira dos seus sonhos. Descabelava-se todo lastimando para o companheiro que a sorte esteve tão perto e se escapou em troca de nada. – O preto Chico farofa ouvia tudo calado e tranqüilo parecendo que nada havia acontecido. – Zé muito irritado encarou o companheiro e disse olhando dentro dos seus olhos; Por que você está tão calmo vendo todos os nossos sonhos desabarem em um precipício impossível de ser alcançado? - Chico olhando aquela nuvem de urubus, pra mais de 500 cortando o céu de um lado para o outro pegou o rife kalibre 22 e disse para o companheiro eu vou matar o desgraçado do urubu que engoliu os nossos diamantes. – Não temos munição pra matar nem 10 urubus!... Como você vai saber qual foi se tem mais de mil urubus todos pretos voando pra todos os lados?... - O preto Chico farofa sem dar explicações ao companheiro pegou o rifle e saiu observando de um lado para o outro todos os corvos que voavam que estavam nas arvores, que estavam na terra. Não demorou muito ele voltou trazendo um urubu morto e disse: Pode abrir esse malvado que os nossos diamantes estão aí dentro da barriga dele. – Zé sem entender nada do que estava acontecendo pegou uma faca, abriu o urubu e encontrou os dois diamantes dentro do papo dele. Muito alegre disse para o companheiro, depois de quase lhe quebrar as costelas com um abraço de felicidade. Eu não sabia que você era pai de santo Chico e que sabia responsá... – Eu não entendo nada dessas coisas de pai de santo, Zé. – Como tu sabias que no meio de milhares de urubus todos do mesmo jeito, era exatamente este aqui que engoliu os nossos diamantes? – É apenas uma questão de inteligência, meu amigo Zé. Eu vi apenas um urubu cortejando uma garça no galho de uma arvore e eu o detonei o mais rápido possível. – Mais o que tem haver um urubu com uma garça Chico? – Olha Zé é que nós os pretos quando enriquecemos sempre procuramos mulheres brancas, loiras e lindas para serem nossas companheiras. Não vejo a hora de passar a mão nessa fortuna para eu comprar um carrão importado e arrumar uma loira de deixar qualquer macho babando. Esta foi mais uma das muitas histórias contadas por Zé do Brejo. A próxima será o casamento de Zé do Brejo com Carol.

goiano
Enviado por goiano em 08/10/2010
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