Bodas de Prata - História de Amor

Miguelzinho, filho de seu Gumercindo, sujeito estancieiro e de bons costumes, loiro alto, retaco, com sardas e espinhas pelo rosto, vinha devagarzito no más muntado em sua égua baia, crioula, a Maria Luisa, conhecida por suas ancas e um rabo empinado. Era uma leidi, essa Maria Luisa. Seus pelos eram escovados duas vezes por dia, sua cola trançada feito uma Julieta, e o pior, perfumada. Andava na ponta das patas, pescoço empinado, e Miguelzinho todo pachola. Exibia-se como tal.

Parou ao lado de Cássia, Cassiazinha como era conhecida, moça prendada, boa costureira e cozinheira de mão cheia. Era a prenda mais apreciada do povoado. Ela de vestido comprido, chinelos havaianas, cabelos presos por um prendedor. Bela. O coração de Miguelzinho, que era um rouxinol, derreteu-se. Palpitou feito um cavalo mal domado, só faltou relinchar. Há, não haveria cerca de arame farpado que faria Muiguelzinho se acalmar. Ela colhia algumas verduras e legumes para o almoço, estava corada, um pouco de vergonha por Miguelzinho e outro tanto pelo sol escaldante que lhe afetava.

- Bom dia Cassiazinha. Disse Muiguelzinho com a voz trêmula, que mal se ouviu, ainda sem descer da égua baia, a Maria Luisa.

- Bom dia Miguer. Respondeu Cássiazinha, muito mais corada, com o rosto num tom de vermelho forte, agachada.

- Pois olha só, tava eu aqui pastoreando com a Maria Luisa. Conhece a Maria Luisa né?

- Sim Miguer.

- Pois então, vinha a galopezito num tranco buenacho, pensando naquilo que tu me falou noutro dia.

- O que que eu te falei Miguer? Indagou.

- Falar, falar tu não chegou Cassiazinha. Mas tu me olhou. E me deu boa tarde.

- Ah.

- E desde aí não parei de pensei em tu. Meu coração dispara de vez em quando. Me dá até vontade de chorar. Acho que me apaixonei por tu Cassiazinha.

Miguelzinho, o menino tímido que ainda sorvia espinhas amarelas no rosto não acreditava no que havia acabado de falar. Estava a meses, desde a última vez que viu Cassiazinha, pensando nestas palavras. Havia treinado em frente ao espelho milhares e milhares de vezes, depois de contínuas ereções. Eis aí o motivo das espinhas.

Ela não olhava mais para Miguelzinho. Estava atordoada, trêmula. Atirou as verduras que acabara de colher no menino. Saiu correndo. Aos prantos.

Muiguelzinho, que mostrou uma coragem que até então era inexistente deu dois toques fortes com os calcanhares em Maria Luisa, que relinchou, e a galope foi ao encontro de Cassiazinha, que corria.

- Espera por amor de Deus. Disse Miguelzinho.

- Para com essas besteira Miguer, por favor.

Ele num único golpe alçou a perna do estribo, puxou a égua no freio, desceu, tirando uma flor amarela do bolso, uma flor meiga, do mato, sem cheiro, mas com valor.

- Esse é meu presente pra tu. Colhi a pouco. É tudo o que eu posso te dar agora. Junto com ela te do meu coração. Apaixonado. Escorriam lágrimas dos olhos de Miguelzinho, lágrimas sinceras, puras.

- Ce quer namorar com eu Cassiazinha?

Ela engoliu a seco, corou ainda mais, e também chorando submeteu-se aos encantos de Miguelzinho.

- Quero sim Miguer. Te prometo todo meu amor.

Se abraçaram, um abraço forte e intenso. Logo um selinho, tímido.

Sentimento que perdura por vinte e cinco anos, ainda no mesmo povoado, Cassiazinha ainda costureira e na cozinha, Miguelzinho cavalgando com a filha da Maria Luísa, outra égua baia, a Fernandita. Se amarão pra sempre. Um amor intenso do interior.