Tormentas de uma paixão

 
 
Nunca pude colocar na balança o que esperava. Nem querer nada  além do que foi partilhado. 
Nossa história de amor sempre foi escondida, cresceu na mentira e finalmente agonizava. O que faz uma mulher aceitar ser a outra?  No início o sonho da felicidade, a esperança de vencer a disputa...Depois de algum tempo, a solidão como companheira nas festas e dias especiais.

Porque teimo em não aceitar o fim? Será a  ilusão ou o orgulho ferido que me faz prosseguir? Por que insisto se a própria insistência me entristece? Não sei... Mentira! Eu sei.  Quero ver e estar contigo  mais uma vez. Apenas isso. Depois parto e tudo fica para trás: valores, vergonha, ansiedade, auto-estima... Tudo  misturado  à dor latente que sinto.

Distância. Uma hora é tudo que ele me ofereceu. Tantos anos juntos e sessenta minutos são como farelos do tempo...Migalhas que um dia foram o suficiente para me fazer feliz.

Sigo o desespero em rebeldia. São apenas gotas de esperança em minutos sofridos. Que mal há em arriscar...uma última tentativa.  Eu só preciso de mais tempo, preciso  dizer que estou morrendo de amor.
Que amo  tanto que já nem sei se existo. E minha vida sozinha perdeu o  sentido. Estou morta...Oca...

Sinto-me  como o temporal que desabou,  quando saía de casa para nosso  encontro.  Chuva torrencial daquelas que lavam a alma e deixam a roupa ensopada. Ventos frios que doem na alma e obrigavam a  repensar. 

Não sei mais o que fazer... Que adianta  jogar tudo em uma única concessão? Ele vai  entender o  que tenho pra  dizer? Voltará para mim ou dirá  que me amou um dia e hoje só resta amizade...Será que  pedirá que  não me humilhe e não o procure nunca mais? Eu não sei...Não sei.
Então  meu tempo terminará quando o  relógio marcar o segundo  final. E iremos embora como estranhos. -  Falo sozinha enquanto ando apressada.  O som dos trovões acobertam a fúria...Da desilusão.

No cruzamento vejo o carro dele se afastando e  pegando o caminho oposto. Ele  segue com a família  na direção correta. Eu é quem estava na estrada errada o tempo todo.
As águas escorrem pelos meus cabelos misturando-se às lágrimas.  Ando pelas poças em que piso de propósito,  feito menina mal criada e pirracenta.

Vou andando pela avenida, vendo  toda aquela gente nos pontos de ônibus encolhidas.  Passeando em  meio aos carros, calçadas, jardins e praças vazias.  Tenho todo o tempo do mundo sob gotas geladas. Grandes edifícios envoltos em nuvens cinza, nuvens negras escondendo o azul, nuvens que refletem como me sinto neste instante.

No entanto eu sei que o céu apenas aguarda  o momento certo.  A natureza é assim! Tão perfeita e natural. E o dia seguinte chegará  como  se nada houvesse acontecido, radiante e aquecendo a cidade. 

Talvez seja um aviso de que seguir adiante não é impossível. 
Quem sabe eu andava por labirintos  e não conseguia enxergar a saída...Já não chorava quando decidi voltar para casa. Um alívio chegava de mansinho...feito um carinho do vento fino da  noite.

Giselle Sato
Enviado por Giselle Sato em 13/02/2009
Reeditado em 22/03/2009
Código do texto: T1437060
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