Eu vivo

Desci do carro, dei meia dúzia de passos e parei, observando detalhada e pausadamente aquela belíssima paisagem. Respirei fundo e fechei os olhos, permanecendo assim durante alguns segundos, apenas respirando aquele ar límpido, sentindo o vento no rosto e ouvindo o som gostoso do balançar das folhas das árvores.

Era uma tarde linda, poucas nuvens no céu, sol radiante e um clima extremamente agradável. Aliás, o clima da serra e o verdejar dos campos são uma combinação harmoniosa indiscutivelmente criada por algo superior, sendo descabida ou, no mínimo, duvidosa, a idéia de concedermos os créditos da grandiosa criação ao acaso, ao “big bang” (1).

Nesse contexto, importante mencionar uma frase de Nelson Rodrigues, um dos maiores escritores brasileiros: “Deus está nas coincidências”. É bem provável que esteja realmente, afinal, foi em razão de uma coincidência que a conheci.

Por ela e com ela, consegui encontrar a paz e o amor, valorizando o caminho percorrido diariamente e percebendo que a vida é muito mais do que um emaranhado de problemas com um destino fatalista.

Ouço um assobio que me tira a atenção, olho ao redor e a vejo embaixo de uma árvore acenando em minha direção. Fixo o olhar e retribuo o aceno e inevitavelmente veio a minha mente uma frase do inesquecível dramaturgo inglês, Oscar Wilde: “Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe.”.

Caminhando em sua direção abaixei a cabeça e ri baixinho, pensando intimamente na resposta dada ao Sr. Wilde: Eu existo, porém eu vivo!

(1): teoria científica em que o universo emergiu de um estado extremamente denso e quente, há cerca de 13,7 bilhões de anos, sendo comparada a uma explosão pelo físico inglês Fred Hoyle.