Meus dois lados - EC
Levantei-me feliz. Dormi a noite inteira, sem acordar nenhuma vez. Estou muito bem. Converso comigo enquanto enxugo o rosto . Afinal estou olhando alegre, risonho, dinâmico. Parece que o dia será assim também de alegria, dinamismo e repleto de sorrisos. Nada nem ninguém poderá abater um ânimo desse.
Termino a tarefa e sigo pra cozinha. Afinal um ânimo assim pede um café fresquinho, pãozinho com manteiga olhando a janela. Lá fora estão pássaros entoando hinos à natureza e ao sol. O cão late para quem passa como que a desejar-lhes bom dia.
O meu lado bom, aquele tolerante, amigável, risonho está ótimo. Bem que eu queria ter seis lados, seis faces, assim eu seria bem mais “boazinha”. Poderiam chutar qualquer lado que assim mesmo a face positiva e agradável sempre marcaria nem que fosse um ponto.
Mas meu avesso, meu outro lado existe e apenas ressona. Está atento e alerta. Não perde um única oportunidade de mostrar-se. Parece enciumado com o lado bom. E a disputa é, começa.
A xícara de café cai da minha mão sem quê nem pra quê. Café e caos pelo chão e, o lado do avesso mostra seus dentes. Grunhe. Eu o controlo. Cato e limpo tudo. Perdi a vontade de continuar a comer. Guardo tudo e vou pra lavanderia. Lá, separo as roupas pra lavar e preparo a máquina. Ligo para encher e enquanto isso vou para o quarto .” Ai, que ódio!” eu grito. Um gato, horroroso, medonho, fétido, em cima da minha cama. Não sei por onde ele entrou e saiu. Com meu grito, delicado, suave, meigo, ele...sumiu. Tomou Doril . Mas eu fiquei com uma dose a mais de trabalho, pois resolvi tirar tudo da cama e lavar. Já o meu lado do avesso estava pulando de satisfação. Eu já estava perdendo as estribeiras . A calma estava indo embora nem bem a manhã terminara.
Levo as roupas que tirei da cama para a lavanderia e...surpresa! A máquina já tinha completado o ciclo do molho, batido e jogado a água... no chããããõ! Meu coração dispara. "O que aconteceu? Hoje será o dia D?” Já não estou me aguentado. Pego o rodo, enxugo tudo. Tento mandar meu avesso se calar. Afinal apenas adiantei expediente. Antecipei a limpeza. Tudo vai ficar bem, mocinha, ô se vai!
Depois disso vou adiantar o almoço. O neto vai chegar do hospital tinindo de fome e não posso atrasar. Lá vai o feijão primeiro pra fervura inicial de dois a três minutos e enquanto espero lavo a louça do café. “Que cheiro é esse?” Santo Deus, o feijão! Já estava seco. Soltei um sonoro, lindo, magnífico palavrão - ( filha da ... !) Ofendi a mãe de alguém. Ainda bem que não foi aquele monossílado gritado pra Dilma. Entendo porque eles gritaram. Arma igual, desabafo, limpeza de alma .
Para me acalmar busquei o rádio, coloquei-o próximo. Quem disse que o “bendito” quis trabalhar. Bateu o pé, protestou – lembrei-me das manifestações pela cidade ̶ Não trabalhou.
Foi assim até a hora de dormir novamente. Não consegui ler uma linha na internet. O PC também resolveu se manifestar e fazer greve . Será contra o quê?
Não há como não me estressar. Tento, cantarolo algo que sai rasgando a garganta, doendo. Melhor não cantar é capaz que alguém se sinta ofendido pelo som desafinado. Parei.
É dia em que a manicure vem fazer as unhas. Espero, espero. Não veio. Vai ver teve também um dia desses... infernal, que tudo dá errado desde cedo.
Aí. Meu lado avesso, azedo, extravasou. Reclamei, chorei, xinguei, sapateei. Ele fez de mim gato e sapato. Pisou, amassou meu bom ânimo, mandou-o pra conchinchina. Deve ser bem longe, pois custou muito a voltar.
No mesmo dia os meus dois lados, o direito – certo, correto, politicamente correto, e, o meu esquerdo, avesso , o verdadeiro, o real, meu EU, se degladiaram. Se eu tivesse seis lados, como disse no início, eu não ficaria zerada. Pelo menos um ponto eu teria feito. Mas é assim: direito e esquerdo, avesso e direito, cara ou coroa, seja que nome se dá, são os dois lados, são nosso self, somos nós, sem máscara, verdadeiramente honestos diante de nós mesmos. Sente-se alegria e ódio no mesmo dia. Rimos e choramos. Amamos e odiamos. Confiamos e desconfiamos. Num momento somos lindos, belos. No outro a feiúra
até quebra espelhos.
Este texto faz parte o Exercício Criativo Meus dois lados.
Conheça outros textos acessando outros autores no link
http;//encantodasletras50webs.com/meusdoislados/htm.
Levantei-me feliz. Dormi a noite inteira, sem acordar nenhuma vez. Estou muito bem. Converso comigo enquanto enxugo o rosto . Afinal estou olhando alegre, risonho, dinâmico. Parece que o dia será assim também de alegria, dinamismo e repleto de sorrisos. Nada nem ninguém poderá abater um ânimo desse.
Termino a tarefa e sigo pra cozinha. Afinal um ânimo assim pede um café fresquinho, pãozinho com manteiga olhando a janela. Lá fora estão pássaros entoando hinos à natureza e ao sol. O cão late para quem passa como que a desejar-lhes bom dia.
O meu lado bom, aquele tolerante, amigável, risonho está ótimo. Bem que eu queria ter seis lados, seis faces, assim eu seria bem mais “boazinha”. Poderiam chutar qualquer lado que assim mesmo a face positiva e agradável sempre marcaria nem que fosse um ponto.
Mas meu avesso, meu outro lado existe e apenas ressona. Está atento e alerta. Não perde um única oportunidade de mostrar-se. Parece enciumado com o lado bom. E a disputa é, começa.
A xícara de café cai da minha mão sem quê nem pra quê. Café e caos pelo chão e, o lado do avesso mostra seus dentes. Grunhe. Eu o controlo. Cato e limpo tudo. Perdi a vontade de continuar a comer. Guardo tudo e vou pra lavanderia. Lá, separo as roupas pra lavar e preparo a máquina. Ligo para encher e enquanto isso vou para o quarto .” Ai, que ódio!” eu grito. Um gato, horroroso, medonho, fétido, em cima da minha cama. Não sei por onde ele entrou e saiu. Com meu grito, delicado, suave, meigo, ele...sumiu. Tomou Doril . Mas eu fiquei com uma dose a mais de trabalho, pois resolvi tirar tudo da cama e lavar. Já o meu lado do avesso estava pulando de satisfação. Eu já estava perdendo as estribeiras . A calma estava indo embora nem bem a manhã terminara.
Levo as roupas que tirei da cama para a lavanderia e...surpresa! A máquina já tinha completado o ciclo do molho, batido e jogado a água... no chããããõ! Meu coração dispara. "O que aconteceu? Hoje será o dia D?” Já não estou me aguentado. Pego o rodo, enxugo tudo. Tento mandar meu avesso se calar. Afinal apenas adiantei expediente. Antecipei a limpeza. Tudo vai ficar bem, mocinha, ô se vai!
Depois disso vou adiantar o almoço. O neto vai chegar do hospital tinindo de fome e não posso atrasar. Lá vai o feijão primeiro pra fervura inicial de dois a três minutos e enquanto espero lavo a louça do café. “Que cheiro é esse?” Santo Deus, o feijão! Já estava seco. Soltei um sonoro, lindo, magnífico palavrão - ( filha da ... !) Ofendi a mãe de alguém. Ainda bem que não foi aquele monossílado gritado pra Dilma. Entendo porque eles gritaram. Arma igual, desabafo, limpeza de alma .
Para me acalmar busquei o rádio, coloquei-o próximo. Quem disse que o “bendito” quis trabalhar. Bateu o pé, protestou – lembrei-me das manifestações pela cidade ̶ Não trabalhou.
Foi assim até a hora de dormir novamente. Não consegui ler uma linha na internet. O PC também resolveu se manifestar e fazer greve . Será contra o quê?
Não há como não me estressar. Tento, cantarolo algo que sai rasgando a garganta, doendo. Melhor não cantar é capaz que alguém se sinta ofendido pelo som desafinado. Parei.
É dia em que a manicure vem fazer as unhas. Espero, espero. Não veio. Vai ver teve também um dia desses... infernal, que tudo dá errado desde cedo.
Aí. Meu lado avesso, azedo, extravasou. Reclamei, chorei, xinguei, sapateei. Ele fez de mim gato e sapato. Pisou, amassou meu bom ânimo, mandou-o pra conchinchina. Deve ser bem longe, pois custou muito a voltar.
No mesmo dia os meus dois lados, o direito – certo, correto, politicamente correto, e, o meu esquerdo, avesso , o verdadeiro, o real, meu EU, se degladiaram. Se eu tivesse seis lados, como disse no início, eu não ficaria zerada. Pelo menos um ponto eu teria feito. Mas é assim: direito e esquerdo, avesso e direito, cara ou coroa, seja que nome se dá, são os dois lados, são nosso self, somos nós, sem máscara, verdadeiramente honestos diante de nós mesmos. Sente-se alegria e ódio no mesmo dia. Rimos e choramos. Amamos e odiamos. Confiamos e desconfiamos. Num momento somos lindos, belos. No outro a feiúra
até quebra espelhos.
Este texto faz parte o Exercício Criativo Meus dois lados.
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