SALVO PELO PODER DA  FÉ

 

 

Rememorando a fé que me salvou e agradecendo pelo dom da vida, que por milagre, Deus me concedeu, escrevi um pequeno relato, a respeito do meu nascimento, antes durante e depois, de os meus primeiros dias de vida.

Após uma longa enfermidade sofrida por minha mãe, acometida por uma hepatite durante a gestação, que antecedeu meu nascimento, o milagre aconteceu, eu nascer com vida, foi de fato um milagre. Louvado seja Deus!

Há exatos oitenta um anos passados, no dia vinte e cinco de julho do ano de mil novecentos quarenta e dois,eu nasci, como um minúsculo fragmento de luz penetrado por uma pequena fresta, na mata fechada. Naquele ambiente de então, ecológico e intacto. No meio do nada, um pingo de gente desabrochando para a vida, no coração da mata virgem, numa casinha humilde amarrada de cipó de chão batido, debruçada numa colina de terra branca vertida para o poente, perfumada pela essência da flora silvestre, onde natureza era soberana e respeitada pela dinâmica movida pelo sertanejo

Mais tarde esmiuçando em detalhes minha história de vida, eu soube que: Segundo afirmou um médico que atendeu minha mãe, jamais eu sobreviveria. As chances de vida de um bebê gestado em tais condições, naquelas remotas épocas eram inexistentes, mas graças ao amor e cuidado de meus pais e avós, eu sobrevivi. O conhecimento de minha avó materna, sua experiência e intimidade com a natureza, foram fundamentais.

Lançando mãos dos recursos desta perfeita fonte de vida, eu fui salvo por ela. Naquelas remotas épocas, a única opção viável era o dispositivo gratuito oferecido pela flora silvestre.

Vim ao mundo tão fraquinho, ao ponto de meu choro ser confundido com os miados de um gatinho. Ao chorar pela primeira vez, despertou a curiosidade de um guri, guia de boi, filho do carreiro, no momento que atrelavam os bois ao carro, no curral á frente da nossa casa. Curioso ele afirmou ao pai, que estava ouvindo miados de um gatinho, pedindo-lhe que o levasse até ele para vê-lo.

Fui recebido com alegria por meus pais. Iniciando meu ciclo de vida, fora do aconchego materno, ou seja, fora do ventre de minha saudosa mãe, após nove meses de uma conturbada gestação. O oxigênio filtrado pela natureza foi o antídoto que me deu vida, ao respirá-lo pela primeira vez. O ar puro carregado do precioso medicamento, oferecido pelo meio ambiente e produzido por sua biodiversidade. Essa saudável essência ambiental espontânea que Deus nos concede, nos matem vivos até o ultimo momento de nossa existência. Foi esse o ponto de partida de minha longa caminhada, usufruindo de suas dádivas maravilhosas.

De inicio fui amamentado por uma vizinha, que por tradição passou a ser considerada minha mãe de leite, uma senhora bondosa cheia de virtudes, que carinhosamente, eu a chamava de mãe Luisa. Cuja filha que dividiu comigo seu leite materno, segundo uma tradição, no linguajar caipira, éramos malungos, cujo significado seria, “ irmão de leite”.

Durante alguns dias, para a cicatrização do meu umbigo ocorrer com perfeição, até cair à película, que restou do cordão umbilical. Foi aplicado um composto de azeite de mamonas e pó do fumo de rolo, o tradicional rapé.

Além do leite materno o mais nobre dentre todos os alimentos, alimentaram-me com os chás de ervas do campo, preparados por minha avó materna, recursos que me deram vida, aos poucos fui adquirindo resistência. E com o decorre do tempo fui tomando noção da vida, descobrindo as maravilhas da natureza, neste universo que Deus criou.

Cercados pelo carinho de meus pais começaram o descobrimento dos saberes e sentidos sensoriais do meu viver. Os primeiros acordes musicais que chegaram aos meus ouvidos, e aguçaram minha percepção, foram orquestrados pela natureza. O farfalhar do vento na mata virgem, o suave toque da brisa na relva florida, espalhando seu aroma silvestre pelos campos, onde os lírios teciam suas vestes. A dança das andorinhas no azul celeste, o gorjearem dos canarinhos, os murmúrios das águas, cachoirantes, rolando pedras nas correntes dos regatos cristalinos. A branca fumaça das chaminés subindo em riste, acariciando o rosto da lua, que espalhava sua magia pelas planícies, o canto dolente do carro de boi entoando sertão adentro. O mugir dos animais, esbravejando defendendo suas crias. Foi assim que comecei a ver o mundo o meu paraíso encantado, movido por uma linguagem primitiva de uma simplicidade impar, donde a natureza era soberana, respeitada e cultuada pelo sertanejo. O sol o luar e as estrelas foram os principais orientadores, naquele mundo primitivo. Medindo o tempo.

Aprendi a pronunciar as primeiras palavras ouvindo, o dialeto caipira naquele cenário de encantos e magia, de costumes singelos e respeitoso. Onde ao amanhecer, a madrugada chegava com a linda aurora matinal trazendo o sol da manhã, nascido na barra do dia clareando o universo inteiro. E ao entardecer o ocaso e o crepúsculo vinham acompanhados da boca noite, com seu hálito morno trazendo a escuridão, espalhando as sombras na terra e bordando de estrelas o infinito.

Isento as malicias da vida, eu permaneci até a idade escolar, que se iniciava aos sete anos de idade ou um pouco mais. Até então a vida não passou de um Candido sonho, vendo a lua cheia tão pertinho da terra espalhando ternura e magia sobre as brancas trilhas, rabiscando as verdes pastagens, ouvindo os murmúrios da natureza, era tudo mágico e de uma pureza ímpar. Longe de imaginar que um dia eu iria desfrutar desta tecnologia, e que o homem estaria pisando aquele mundo sagrado donde São Jorge era lenhador e cavalgava de machado no ombro. Desvendando o mistério e quebrando o encanto da lua, que eu julgava como um ser enigmático na divindade Celestial. Pela simples razão de nos acompanhar pelas estradas em nossas viagens a cavalo estando conosco em todos os lugares ao mesmo tempo.

 

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OBS: (Hoje 25´/07/23 ao copletar meus 81 anos de vida

tomei a liberdade de iustrar o texto com a minha foto)

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Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 25/07/2023
Reeditado em 26/07/2023
Código do texto: T7845473
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