O dia em que o homem pisou na Lua.

Naquele Domingo, 20 de julho de 1969, mamãe convidou toda a família para um grande jantar regado a sopa e a bolo de fubá. Um por um, eles foram eles chegando: Vovô Antônio e vovó Anália; tio Toninho e tia Elda; tio Pepino, tia Miquelina, tio Luiz e tia Albertina, tio Zezinho e tia Dororata. Vizinhos da direita: Dona Ofélia e seu Alfredo. Da esquerda: Seu Alcedino e dona Alice. Além de outros convidados. Um total de 20 a 30 pessoas. Mas tudo compensava. Era um dia especial e emocionante. O mundo aguardava ansiosamente pelo momento em que o homem pisaria na Lua!".

Após o jantar todos se sentaram ao redor da TV. TV? Sim! Não dessas de hoje. Era daquela feita de madeira com uma folha de plástico que transformava a TV preto e branco em colorida. "A imagem era ruim, com muitos ruídos e piscadas que irritavam os ouvidos". Bem. Na sala, palpites dos mais variados e até proféticos: Tia Miquelina abanando - se com seu leque de pena de Peru que, aliás, tampava a visão de todos, exclamou: “Hoje poderemos conhecer os nossos irmãos lunáticos!” Já tia Dolorata respondeu: “Será que algum deles é solteiro?” Do outro canto da sala, meus tios Antoninho e Zezinho faziam cálculos: Se partiram tal hora e se não pararam em alguma esquina para um cafezinho.... chegarão daqui a meia hora.

Minha mãe e minha tia Elda ficaram tão eufóricas que, no meio daquele tumulto, saíram sorrateiramente e foram para a rua. Logo gritaram: "Olhem lá! São eles no céu!" Todos correram alegres, mas era um alarme falso - era apenas um balão de festa junina. Rapidamente, todos voltaram para seus lugares. Caía a madrugada e muitos haviam adormecido. O ronco misturado à chiadeira da TV dificultava a audição. No entanto, vez ou outra, um locutor dizia: 'Estão se aproximando! "A fala acordou a turma dos roncadores e eles começaram a gritar: 'Tia Dolorata disse: “É Louis Armstrong! Gosto muito do seu trompete. Grande músico. Não sabia que virou astronauta?' Tia Miquelina emendou: 'É Neil Armstrong, Adolorata! O astronauta que nunca tocou flauta doce!'" Meu primo José e eu ficamos com os olhos fixos na TV, assistindo a programação que ia e vinha. A felicidade era tanta que víamos de tudo. Até a Vó Anália soltou: "Olhem, o Saci Pererê está pulando ao lado do astronauta!" Na verdade, era a bandeira americana com seu mastro fincado no chão. Mas nem pensamos em questionar a vovó. A prima Margarete até apontou um príncipe encantado, talvez porque estivesse solteira e sem nenhum pretendente, estava se agarrando a qualquer um. Os poucos que estavam acordados começaram a contagem regressiva: 10, 9, 8, 7, 6... E quando o cuco bateu 2h56 da madrugada, o galo do vizinho soltou um "cocorocó". Meu primo soltou essa frase: "Será que o galo do seu Alcedino está vendo mais do que a gente?".

Bem, um grito acordou a todos! Era a voz do nosso tio Giuseppe: "Belo, belo, olhem nossos irmãos lunáticos?!" Mas logo ele caiu novamente no sono.Finalmente, o tio Luiz pegou a sua cadeira e falou claramente: "Chega de bobagem! A Lua é dos namorados! Vou dormir." Naquele momento, ouviu-se o astronauta Neil Armstrong dizer: "Um pequeno passo para o homem, um salto gigante para a humanidade". A situação piorou ainda mais! Como ninguém entendia inglês, a tia Elda falou: "Ele disse que tem muita gente na Lua." Tio Pepino concordou e acrescentou: "Sim, é verdade. Ao lado dele, estou vendo um ET". Mas na verdade, não era um ET, era o outro astronauta, Edwin Aldrin, como explicou tio Toninho. Enquanto cada um tentava decifrar as palavras do astronauta, vovô Antônio pegou um dicionário e começou a traduzir: One - Um Small - Pequeno Step for man - Passo para o homem One giant leap for mankind - Um salto gigante para a humanidade Dona Ofélia só ouviu a palavra "gigante" e bradou: "É uma terra de gigantes!" Aí a situação piorou. O coro aumentou: 'Se há um gigante, deve haver um dinossauro', disse dona Alice. Seu Alcedino, tentando acalmar os boatos, gritou: 'Seja lá o que for, eu vou para casa dormir, pois amanhã tenho mais o que fazer na minha loja.'" Enfim, do nada a TV apagou. Tio Zezinho até tentou consertar, mas uma válvula esquentou tanto que acabou queimando. Para piorar a situação, a luz acabou e alguns foram para a rua admirar a Lua, enquanto outros foram embora desolados. Eu acabei indo dormir, tropeçando no escuro e adormeci. Esse foi o dia 20 de julho de 1969. Espero que não tenha que passar por algo assim novamente tão cedo. Deus me livre!

Estêvão Zizzi
Enviado por Estêvão Zizzi em 01/05/2023
Código do texto: T7777374
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