Dedo no gatilho...

Seu Liminha era incansável quando se atirava numa campanha eleitoral. E sabia como convencer o eleitorado, sobretudo o da zona rural - que naqueles anos cinquenta era a maioria. E não sem razão, por duas vezes alcançou a suprema magistratura municipal da Velha Serrana cidade mais antiga do centro oeste mineiro.

Mas havia mais, além dos votos, conquistados. Promessas de recompensa feitas em confidência e garantia absoluta da reserva e discrição. E aqueles olhinhos azuis sabiam ser ternos, principalmente quando era a do lar que o atendia, na ausência ou distanciamento físico do marido, via-de-regra envolvido com as diuturnas lidas do campo.

Um belo dia, já com o avançado cair da tarde, enquanto se desincumbia de suas de suas funções viris e virais, sêo Liminha pressentiu que vigorosas batidas à porta, e gritaria, indicavam a chegada antecipada e inesperada do titular do pedaço...

Sêo Liminha não hesitou: num salto acrobático da cama saltou e pela janela foi que vazou... e quando a luz de uma lanterna o alcançou, foi sua absoluta e dissoluta nudez que se escancarou...

Porém, o compadre da vez, de cartucheira em punho quando naquele lusco-fusco o reconheceu, a sentença de execução sumária súbito se suspendeu:

- Uai, sô Prefeito, é o sinhô...e óia qui eu já tava com o dedo no gatio, mai num amiúde não...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 20/12/2022
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