CAINDO DE MOTO

 

MEU PRIMEIRO TOMBO. Estávamos na época que existiam as capas de chuva impermeáveis, com as respectivas toucas, é sou desta época, para combinar, a gente usava também a galocha, que era uma espécie de sapato feito em borrachas, que vestia o calçado - já soube que ainda existem algumas casas que as vendem. Eu ia pela Jerônimo Coelho em Porto Alegre/rs, enfrentando aquela garoa fina, e um vento zumbindo nas zorebas “leiam-se orelhas”. O vento me arrancou a touca que compunha a capa, e claro que capacete, não se usava. Foi uma freada repentina e sem técnica e ajudado pelos pneus carecas, já que naquela época pela falta de grana, a gente usava os pneus até quase chegar á câmara. “Coisa pra louco”. A Lambreta me jogou ao chão, foi aquele susto. Levantei-me sacudi a poeira, quero dizer a água, voltei a sentar na Lambreta e nem olhei para os lados, pela vergonha. Eu falei sentei, pois quem anda de Lambreta, é sentado e não montado como é na moto. Este acontecido foi lá por l964 e como foi o primeiro tombo, a gente nunca esquece.

 SEGUNDO TOMBO. Aconteceu também com uma Lambreta. Agora já era outro modelo uma LI nacional. Estou indo tranquilamente pela Rua Felipe de Oliveira, quando cheguei à esquina da Lucas de Oliveira “acho que essas ruas são irmãs”. Tinham algumas garotas conversando, na frente do Colégio Santa Cecília, e eu com o intuito de exibicionismo, pensei, vou fazer uma curva bem deitado e mostrar o meu talento em duas rodas – resultado - dei de cara no asfalto, nem preciso falar da cara de panaca que fiquei. Só não fui zombado pela galera, porque achavam que eu tinha me lesionado. Tive muita sorte “I guess I was luck” Gostaram? É um pouco de inglês que aprendi. O tombo: acho que foi lá por 1965. “PARA SE EXIBIR DE LAMBRETA, TEM QUE TER TALENTO”

TERCEIRO TOMBO. Agora passamos para o terceiro tombo, com a Lambreta, olha ela de novo. Será que a Lambreta é xucra, ou sou eu mesmo que ainda não domei a fera. Eu praticava ginástica Olímpica, e estava me dirigindo para a ESEF com o intuito de encontrar alguns amigos para treinamentos. Na curva da entrada para dar acesso ao pavilhão da ESEF, inclinei demais a Lambreta, e passei do limite máximo, e fui direto ao areão – mas não estava me exibindo, a não ser para mim mesmo - menos mal que não havia platéia no momento. Bom pelo menos eu comecei a aprender até que ponto pode deitar nas curvas, sem cair. Só fiquei todo dolorido, e o treino daquele dia, foi pro saco.

QUARTO TOMBO. De lambreta, mas desta vez de carona. Eu estava na garupa da Lambreta “outra vez a Lambreta” - e quem estava dirigindo era o meu irmão Walter, na rua Don Pedro II, quando um carro Sinca Chambord “olha só os carro da época” cortou a frente da Lambreta, meu irmão se assustou, perdeu o controle do veículo e a lambreta malvada, começou a pinotear como um cavalo xucro, e eu fui arremessado do banco do carona, até parece que tinham acionado o banco ejetor, fui parar no canteiro da calçada, literalmente abraçado em um pequeno arbusto. Este realmente doeu, fiquei caminhando desajeitado durante uma semana, e depois a caixa de ossos e músculos entraram em ordem. Quando a gente é jovem tudo é mais fácil. A mulher do Sinca fugiu do local, mas acho que a consciência deve ter pesado - será que matei algum dos jovens, acho melhor eu voltar ao local do acidente. Mesmo antes de nós termos abandonado o local do sinistro, a mulher voltou constatou que não tinha morto ninguém, e ficou feliz em assumir as despesas da Lambreta.

QUINTO TOMBO. Mas agora é de Lambreta, de novo, mas de próxima vez vou aprender a cair de moto, prometo. Lá vinha o João Neri, pela Av. Protásio Alves, alegremente desfilando todo cheio de grau, num dia com um sol maravilhoso, próprio para andar em duas rodas. Tinha uma Kombi, à minha frente (os carros atuais não existiam nem nas pranchetas de desenho). Eu tentei passar pelo lado direito, “coisa errada” iria dar tudo certo se a mulher que estava na carona não tivesse aberto a porta, para fechá-la melhor. Bati com o lado esquerdo do guidão, bem na quina da porta. Aconteceu uma coisa que hoje daria um ótimo vídeo cacetadas. A Lambreta me jogou fora do veículo em pé, e pela velocidade, eu continuei correndo com a cara quase que encostada no chão, numa velocidade de quebrar recorde. Parei quase uma quadra adiante, mas permaneci em pé até o final. A Lambreta foi na mesma direção minha, como se estivesse me perseguindo, mas ela desistiu e caiu logo, pois eu corri bem mais rápido. Podemos deduzir que uma lambreta sem motorista, corre menos que uma pessoa a pé.

SEXTO TOMBO: continuo a cair da Lambreta, ia me esquecendo, mas foram seis tombos de Lambreta. Acho que elas queriam por fim na minha carreira de motociclista, mas não conseguiram - chega de cair de lambreta, mas agora vou cair é de moto. A Lambreta só derruba a gente, acho que vou vendê-la. Lá de novo o João Neri estava indo pela Rua Sete de Setembro em Porto Alegre, colado na traseira de um caminhão. Era no final da tarde, na saída da Olivetti. Cansado e meio que dormindo pela exaustão do trabalho. Bastou o caminhão dar uma freada, e eu entrei por baixo da carroceria, e com reflexo baixei a cabeça e o corpo, para evitar o choque na carroceria (sem capacete), e acabei batendo no pneu fazendo com que eu caísse. O Caminhão seguiu em frente e até acho que não sentiu a minha mancada. Subi de volta, e segui para a minha casa, sem ferimentos. Só mais um susto.

SETIMO TOMBO. Agora sim chega de Lambreta. Ela teve a sua estória e o seu tempo, marcou na minha vida. A coisa evoluiu e agora eu adquiri um moto, se é que pode ser chamado de moto uma 125 cc. Mas era proibido importar moto, e no Brasil só faziam até 125 cilidradas, e também era o que eu poderia comprar. Tinha alguns motociclistas que queriam andar com os Lambretistas, e existia certa rivalidade, e até tinham algumas lambretas que usavam um adesivo, alertando Motociclo, não é lambreta. Mas com o advento das motos em quantidades, começaram a apagar o brilho dos Lambretistas, que cada vez ficou mais restrito, até quase desapareceram, agora só ficaram os saudosos que ainda guardam suas relíquias. Mas as motos conseguiram tomar conta da rapaziada. Minha primeira moto foi comprada por mim no ano de 1977, que foi o ano em que a Honda do Brasil iniciou a sua fabricação. Era uma CG cor laranja, zerinho. Andava tranquilamente, já tinha amaciado bem o motor, pois já andava nela até 1979, quando estava andando com uma garupa, ratiei, num cruzamento, sem bater em nada, sozinho deixei a moto cair, fomos os dois pro chão, mas sem ferimentos, pois estávamos andando bem devagar, subimos novamente e vamos em frente. Era o meu primeiro tombo com moto, e levei junto à caroneira 

OITAVO TOMBO. Eu estava com pressa para ministrar a minha aula de judô no Colégio Santo Antonio, vinha pela Rua Julio de Castilhos, colado (de novo) na traseira de um táxi, quando o motorista resolveu dar um a freada repentinamente para entrar num posto de gasolina. Eu acionei os freios com tudo, 70% no dianteiro e 30% no traseiro, pois eu tinha feito um curso de pilotagem com segurança e essa era a medida aprendida numa freada com moto. Foi à queda mais linda que eu participei, se é que dá para chamar linda. Foi tão rápido que eu não vi, mas teve um voyer que viu e me perguntou como é que eu tinha feito aquilo: eu lhe disse nem eu sei, mas foi um reflexo impensado e que deu certo. As técnicas das quedas aprendidas no judô devem ter contribuído. A freada fez uma espécie de catapulta, e eu voei por cima do guidão, indo com a cara no chão, dei dois saltos um seguido do outro e cai em pé, tipo coisas do Scaramouche, bem eu era o próprio. Quando o rapaz veio me socorrer, eu já estava em pé. Tecnicamente eu estava muito bem preparado para cair. Ainda cheguei a tempo de ministrar as minhas aulas, para os meus discípulos. Só pequenos aranhões. Nesse tombo ainda me incomodei com a policia rodoviária: onde estão os seus documentos: Era só o que eles sabiam, era pedir os documentos, nem lembrou em perguntar se eu tinha me machucado: procuro os documentos e nada, eu os tinha deixado em casa. Confusão feita, eles queriam guinchar a lambreta: eu disse que iria buscar em casa: não toparam. Então e ataquei um táxi, amarrei a Lambreta num poste com a corrente que dispunha como segurança e fui buscar os documentos e os policiais ficaram trovando entre si. Quando voltei aqui estão os documentos: mas vamos ter que multá-lo por falta de habilitação: então multa. Depois fui ao trânsito, e apresentei a minha habilitação e disse que fui multado por falta da habilitação, conforme estava descriminado na multa. A multa foi extinta e me pediram desculpa pela rateada do guardinha.

 NONO TOMBO. Eu estava me dirigindo, ou dirigindo a moto, Honda CG 125, para ministrar aulas no Centro Educacional La Salle de Canoas, onde trabalhei durante 30 anos consecutivos, quando pedi minha demissão por achar que ainda não tinha aprendido a dar aulas. Isso é Para descontrair. Estava indo através da Cel. Lucas de Oliveira, que era a preferencial, ao passar por um cruzamento, vem um carro dirigido por uma mulher, a qual para, olha para o lado da moto, mas arranca o carro, atravessando a minha frente e para novamente. Ela alegou que olhou para ver um carro e não para ver uma moto. Abusei dos freios para não bater, mas a moto me jogou por cima do guidão e por cima da parte traseira do carro, tendo eu indo cair do outro do veículo. Foi uma queda fantástica, onde tive que usar e abusar nas técnicas de quedas. E mais uma vez o Scaramouche, teve que demonstrar as suas habilidades acrobáticas, que coincidentemente era eu. Qualquer duble que visse a cena, iria morrer de inveja. Só esfolei de leve a canela ao passar por cima do guidão. Na moto só houve o guidão torto, ao bater no chão e parecia que ela sempre queria dobras para a esquerda, e fui com o guidão torto para as minhas aulas no La Salle. A Mulher ficou em choque, achou que tinha me matado, mas eu a acalmei e disse que só queria que ela me ressarcisse com as despesas da moto, o que ela concordou totalmente. A revenda indicou que eu teria de trocar o guidão. Ai fiz um trabalho caseiro, colocando uma barra de ferro junto no guidão e com alguns puxões, consegui deixá-lo quase zerado.

DECIMO TOMBO. Junte mais alguns trocos e comprei uma moto XL 250 usada, a qual serviu como entrada para adquirir uma zero futuramente. Cheguei até 1987, sem mais nenhuma queda, parecia que eu já tinha aprendido a dirigir moto, até que indo de São Leopoldo para Novo Hamburgo, pela estrada velha, passei por cima de uma poça de óleo na pista, no susto, resolvi frear - o melhor era não ter freado. Não sei o que aconteceu, mas a moto deslizou e ficou boba e saiu de baixo de mim. Cai direto de bunda mais precisamente com o cócix , naquele óleo sujo e preto no asfalto.

Fiquei durante um mês com as dores, bem onde a coluna muda de nome e vira cócix. E assim encerrei os meus tombos, todos sem capacete, e desde 1963 aprendi a lidar com as máquinas de duas rodas, principalmente com as maiores que adquiri posteriormente e também ajudado pela idade da responsabilidade e fiquei sem beijar o solo até 2021. Aos 78 anos de vida...bem vivida.

 

Só que aos 80 relendo este relato, beijei o chão por mais três vêses. Primeiro com foi a scooter 300 cc com freios ABS. Um moto boi ao passar por mim bateu-me com seu ombro no meu e eu freiei a moto que parou e me jogou ao chão pela segunda vêz quando eu fui solo a cidade de Passo Fundo com a Meteor Royal Enfield 350 cc e ao voltar por Carazinho passei por uma parte de saíbro e a moto baslançou e ao frear ela me derrubou. E a terceira foi pior com a mesma moto eu estava voltando do Morro Reuter com um trânsito pesado, fui pelo acostamento para passar vários carros e quando resolvi voltar a pista principal, o pneu frontal da moto bateu num desnível e me jogou ao chão. Não sofri luxação e tampouco nenhuma fratura, mas como era verão eu estava sem equipamentos e ralei no chão com de  lado e muito sangue, sendo elegido o pior tombo de moto que sofri. Eu estava nesta última com 80 anos e agora só saio com equipamentos.  

Scaramouche
Enviado por Scaramouche em 19/09/2021
Reeditado em 07/12/2023
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