MANCHETE DE JORNAL: CHUVA DESTRÓI CASAS, MAS NÃO A FÉ

Naquele dia, o sol amanheceu bem quente. O céu muito azul, mas havia um vento diferente anunciando que ao fim do dia haveriam nuvens.

Dona Idália saiu cedo, deixou Clebinho na casa de Lurdinha, que era madrinha dele, e foi fazer uma diária na casa de um bacana que gostava do serviço dela.

De Ribeirinho, o bairro onde morava, até lá em Alcaçuz era uma boa espichada. Pra sorte dela, Rogério estava subindo para aquelas bandas e lhe deu uma carona.

Dona Idália, começou a limpar a parte interna da casa, depois de umas horas, ela saiu para limpar as vidraças que davam pra piscina, foi aí que ela parou e se assustou com a negritude do céu. A chuva anunciava-se forte.

Ainda bem que Clebinho não estava sozinho bem casa, mesmo já tendo seus 10 anos, ela nunca havia confiado deixá-lo sozinho. Essa era uma prática comum. As pessoas diziam que peixe já nasce nadando e que as crianças que nasciam ali já nasciam sabendo se virar. Ela nunca concordou com isso e naquele dia ela se sentiu mais tranquila por não compartilhar daquela ideia.

O céu enegreceu. Trovões abalaram os céus e as bases de Dona Idália, que começou a pensar em sua casa que ficava próxima do riozinho e no caminho da enxurrada.

Ela sabia que morar ali tinha seus perigos. Mas que jeito? Foi ali que ela conseguiu.

Adiantou a limpeza, recebeu o pagamento e rumou de volta pra casa. E não achou um transporte, parecia que todos haviam combinado em não passar naquela rota.

Fazer o quê? Tinha que voltar pra casa. Ela começou a sua marcha o mais rápido que podia, mas a chuva a alcançou antes de chegar em casa. E foi chuva.... Foi chuva, foi chuva, foi chuva.

As nuvens se rasgaram, não demorou muito e as ruas já estavam alagadas. Dona Idália, porém, não desistia, encarou a chuva, relâmpagos e trovões, porque estava preocupada com sua casa e com seu filho. Parava um pouquinho e prosseguia de novo, orando, conversando com Deus no meio da rua.

Assim foi até chegar em casa.

Onde estava a casa? O riozinho subiu, a enxurrada desceu e a casa de Dona Idália rendeu-se à força da água.

Naquele dia ela dormiu na casa de Lurdinha com o Clebinho. Ele a abraçou dizendo que estava com medo e ela, abraçando-o fortemente, contendo seus próprios sentimentos, o acalmou dizendo para ele que tudo aquilo iria passar. Na verdade, passou a noite, pois ninguém consegue dormir depois de uma dessas.

No dia seguinte, a TV local apareceu para fazer uma reportagem sobre os prejuízos, foi quando o repórter encontrou Dona Idália, procurando alguma coisa entre os destroços. Então, ele aproximou-se e perguntou: Como a senhora está se sentindo, agora que perdeu tudo?

Dona Idália levantou o rosto e com serenidade e lágrimas nós olhos respondeu: Não, senhor, eu não perdi tudo.

O repórter meio confuso, voltou a perguntar:

A senhora disse que não perdeu tudo. Mas essa não é a sua casa destruída?

Sim. Disse ela. Eu perdi a minha casa, mas ainda tenho Deus. Com Ele ao meu lado posso recomeçar de novo.

O repórter apenas se calou.