O homem sem nome

Durante a peste, não se chovia. A seca fazia arder ainda mais o ardor da ferida, e a terra rachara de tão amarga a angústia. A seca queimara a mania de enterrar as mortes que morriam pela rua, uma a uma, sem o sepulcro e as rezas rotineiras de dizer adeus. O homem sem nome morrera às avessas, como viveu. Morrera de respiração, quando um tubo lhe abraçava a alma e lhe arrancara a garganta. O homem sem nome, que vivera em trapo, nem os anos sabia. Morrera de tanto trabalhar, enquanto a peste devastara seu pequeno armazém de vender comida para fome matar. Salvou-se da fome, mas morreu da peste, morreu em reza. O homem sem nome nem sabia rezar.