BRUCUTU

Não sei o seu nome, conhecia-o apenas pela alcunha de Brucutu, mas posso afirmar que era uma figura bastante conhecida na cidade de Santa Cruz.

Lembro-me que era um homenzarrão: alto, forte, com braços e mãos enormes, à semelhança do seu homônimo das cavernas, herói das revistas em quadrinhos e tema de música do cantor Roberto Carlos.

Costumava observá-lo a jogar sinuca, não pela sua perícia de jogador, mas pela singularidade das suas proporções corporais. Ficava aguardando, com certa ansiedade, as bolas caírem na caçapa para ver com admiração a sua dificuldade em resgatá-las.

Os outros jogadores simplesmente enfiavam a mão na caçapa e traziam a bola consigo. Brucutu, porém, não conseguia fazer esta simples operação, pois sua mão enorme não entrava no orifício da caçapa. Às vezes, tentava com o dedo indicador, em outras, suspendia e rede e, consequentemente, a bola até o orifício de saída, num procedimento bem mais simples e fácil, evitando, assim, submeter-se a eventual constrangimento.

Também era interessante vê-lo segurar o taco. Este parecia tão pequenino em suas mãos que não lhe trazia o conforto necessário para efetuar as tacadas, uma vez que não podia posicionar-se adequadamente.

Ficava observando, também, os seus pés de elefante que sobejavam em muito a sua sandália japonesa de maior número e que deixava à mostra um pé ressecado e cheio de rachaduras.

Sua voz mais parecia um grunhido inteligível aos ouvidos desacostumados.

Contam que certo dia, num jogo de sinuca, reclamava:

- Esta noite eu não consegui dormir com os diabos de uns pintos piando fino, e imitava o piar: “PIU PIU”, numa voz tão grossa que mais lembrava Noriel Vilela, o famoso tenor dos Cantores de Ébano, cantando num tom grave baixíssimo.

Contam, também, que sua lua de mel foi uma verdadeira tragédia e sua mulher terminou atendida na urgência do Hospital Ana Bezerra, onde recebeu cinco pontos.

DJAHY LIMA

DJAHY LIMA
Enviado por DJAHY LIMA em 19/08/2018
Código do texto: T6423721
Classificação de conteúdo: seguro