INVERNO 200

Acordei bem cedinho, o dia começava a chegar lá pras bandas da serra, o tac-tac da chuva na telha anunciava o inverno, pensei com aquele frio em permanecer na baladeira, mas o relógio biológico teimava em levantar, levantei. Tomei café gostoso, com um pão dormido melado na nata, não escutei nenhuma cantar de pássaros, também numa chuva dessa, escutei um som de cachoeira, o açude tava sangrando, os peixes feitos loucos, na contramão do fluxo, tentam desesperados subir o sangradouro. O curral é um monte de moscas, deixando o gado nervoso, o vaqueiro mal pode andar com a lama no curral. De repente o pai da coalhada se anuncia, booommbommm metendo medo na meninada. Os matutos ficam iguais aos pintos na merda, um vai pra lá vem pra cá sem fim. O milho no entulho já saiu, e a rama do feijão aparece, maxixe faz lama. No sangradouro a meninada se divertindo, os coroas bebendo cachaça e a mulherada fofocando, falando mal umas das outras, enquanto os jovens pinam nas minas dentro d'água. E tome água, e tome vida, e haja piaba beliscando os sinais do povo. É assim o inverno, é assim a vida, é assim o mundo do interior.

Fred Coelho
Enviado por Fred Coelho em 20/02/2018
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