A Graça

A noite estava fresca e agradável, era uma típica noite de outono em que as pessoas entram mais cedo em suas casas e ficam na frente da TV se escondendo do vento gelado que costuma soprar no final da tarde, já os mais corajosos e engajados na vida saudável aproveitam para fazer suas caminhadas ou corridas noturnas.

Passava das oito da noite e após uma corrida de 6 km ele se sentou no banco de uma praça a poucos metros da sua casa, olhou para e naquela noite estrelada admirava o céu, sentou-se sem pensar em nada, era a primeira vez que olhava para o céu e apenas observava a beleza, sem pensar nos corpos celestes e suas origens, apenas observava a imensidão do universo.

Estava tão inerte em sua observação que não notou o senhor de chapéu coquinho preto e agasalho azul marinho ao seu lado, de repente ouviu uma voz grave que o fez olhar para o lado.

_ Bonito, não é mesmo?. Disse o senhor com chapéu coquinho.

_ Ah sim, o gás no interior das estrelas entra em um processo conhecido como “fusão nuclear”, que reúne dois átomos para formar um tipo diferente e a quantidade de energia forma essa luz que podemos ver e isso é incrível de imaginar. Disse o rapaz um pouco ofegante ainda pela corrida.

- Engraçado, você me pareceu tão maravilhado, que não imaginei que estivesse preparando essa aula de astronomia para quando alguém fizesse um comentário tão simplório.

_ Desculpe, respondeu o jovem erguendo a sobrancelha. _ Gosto de estudar, esqueço que as vezes as pessoas não se interessam pelo assunto a ponto de querer uma conversa “cientifica”.

O senhor olhou para aquele jovem e com um riso sarcástico perguntou:

_E em sua opinião pelo que as pessoas se interessam?

_Fantasia. Cada povo tem uma forma romanticamente fantasiosa de explicar as coisas.

Mais uma vez o senhor sorriu, perguntando na sequência:

_ Como a religião por exemplo?

_Religião, mitologia, lendas... Puff da tudo na mesma, no final é preguiça de pensar ou medo de olhar de uma forma crítica e lógica para algo e perceber que a fé em que tanto se agarraram, era apenas uma venda usada para não precisar expandir a mente e ou terem no que se agarrar em situações difíceis como esperança e digo esperança do verbo esperar mesmo, pois a fé nada mais é do que esperar que alguém “divino” faça algo que vocêe não é capaz ou tem preguiça de tentar fazer alegando incapacidade.

_ Engraçado, você falando assim me lembrei de uma história. Disse o Homem fazendo uma pequena pausa para respirar... Mesmo impaciente aquele jovem não era mal educado e embora soubesse que iria ouvir algo provavelmente sem nexo, suspirou fundo, jogou a cabeça para traz como se estivesse buscando forças para ouvir, levou a mão ao queixo e fez um sinal com a cabeça que o senhor poderia contar a história.

_ Costumavam dizer que os anjos, diferente do que a maioria das pessoas acreditam, possuem uma natureza, nem sempre tão doce, irando-se facilmente quando algo lhes foge o controle, pois bem, a grande maioria deles, possuía um ciúmes incontrolável do amor do Criador pela humanidade, dizem que nem o filho mais amoroso pode se comparar ao amor e devoção que os celestes tem pelo Pai e ao verem a humanidade podre como estava, iravam-se ainda mais por ver o sofrimento que isso causava ao Criador, não conseguindo entender também a razão pelo qual os humanos haviam sido agraciados com uma alma, presente esse que foi negado aos fieis filhos celestes e observando o abismo para o qual a humanidade se arrastava arquitetaram a brilhante ideia de destruir a Terra e assim o fizeram, uma dessas tentativas está relatada na Bíblia como dilúvio ( embora o relato não esteja tão fiel ao fato). Diante daquela afronta, uma tentativa de destruição a “menina dos olhos de Deus” como era conhecida a humanidade, Yahvé não teve outra alternativa a não ser ensinar aqueles celestes a amarem a humanidade como Ele os amava e presentearem aquilo que tanto queriam ( a alma), assim Yahvé mandou para a terra todos aqueles que haviam participado do ataque a humanidade, eles foram enviados a Terra para viverem como humanos, ganharam a alma que tanto queriam, mas perderam a graça divida que acompanha todos os celestes desde a criação, o que para um anjo é quase mortal, assim seria necessário adquirir a graça como os humanos necessitam fazer. Aqueles que foram enviados a Terra, nasceram como humanos e tiveram uma vida sem se lembrar de seu passado celeste, porém a sensação de incompreensão com a forma de agir da humanidade sempre os deixaram com uma sensação de não pertencer aquele lugar, buscando entender os mistérios do céu, e com uma raiva enorme de Yahvé, a ponto de muitos tentarem de tudo para desacreditar sua existência, por essa razão se sentem perdidos, sem saber onde se encaixam, com raiva da humanidade e do Criador por se sentirem assim.

Ao final da narrativa o jovem deu uma sonora gargalhada. _ É um bom conto! Disse ele.

_ Suas histórias científicas também são, respondeu o senhor com um sorriso faceiro.

O Jovem se sentiu enfurecido pensou em responder, mas viu novamente o sorriso na face daquele senhor, logo em seguida ouviu um barulho irritante, abriu os olhos e acordou.

Com os olhos arregalados se sentiu um pouco tonto, olhou para os lados se viu em seu quarto, levou as mãos no rosto pensando, na noite mal dormida e na dor de cabeça que lhe acometia, levantou-se, escovou os dentes e se preparou para ir trabalhar, abriu o guarda roupas e viu um chapéu coquinho na cor preta, com um bilhete do lado de dentro com as seguintes palavras:

_O Pai sente saudades, encontre a graça e volte logo para casa.

Megami Lua
Enviado por Megami Lua em 12/04/2017
Reeditado em 15/07/2017
Código do texto: T5969267
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