ADÉLIO LÚCIO

Homem rude, simples, com fala fanhosa e gutural. Assim era Adélio Lúcio.

Não sabia ler, não sabia escrever, tinha o mundo do tamanho de onde ele morava.

Pobre e sofredor, pai de quatro filhos e esposo de dona Afonsina.

Sua pele era estranha, mais parecia ser coberta com cera de vela do que com os pigmentos normais das células.

Sua filha mais velha era portadora da hanseníase, falava-lhe partes da boca, dos dedos dos pés e os das mãos eram todos deformados. Podia jogar água quente nela que nada sentia.

Gonçalo era alcoólatra e vivias na “manguaça”.

Dito era aleijado, faltava-lhe uma das pernas. E divino era normal, homem trabalhador, sadio e cheio de vida. Esse cuidava e mantinha os alimentos dentro de casa para sua prole.

No tempo de quaresma as crianças mais próximas do povoado ficavam atentas e com medo. Pois todos diziam que o seu Adélio Lúcio virava Lobisomem.

Que bullying, que tristeza!

Ele não trabalhava, vivia fazendo uns bicos para as donas de casa. Pois na época não existia fogão a gás, não existia geladeira, como também não existia televisão.

E mesmo que existisse não teria nenhuma utilidade, pois não havia energia elétrica.

E seu Adélio vivia lenhando para uma dona de casa, limpando os terreiros para outra, rachando lenha para outa ainda. E assim ele ia passando os dias. Ganhando um pouquinho de arroz num lugar, outro pouquinho de feijão mais adiante. Mas tudo era muito pouco para as quatro bocas que ficavam na residência.

Dona Afonsina, coitada! Vivia clamando de dores, de febre e sempre ranzinza. Ela até ganhou um apelido na comunidade de Afonsina das Dores.

Seu Adélio quando ia começar a balbuciar algumas palavras, primeiro cuspia nas mãos, depois começa um “tá, tá, tá”, e só depois vinham as palavras que queria dizer:

- tá, tá, tá, voi micê tá bão? Eu, tá, tá, tá, tô bem.

Fazia frio ou calor, seu Adélio saía de casa com seu paletó duro de sujeira, calça com as barras amarradas com embiras, sinto de cipó por fora dos passadouros da calça, camisa abotoada só nos botões de cima, deixando o umbigo com hérnia desnudo, pés descalços, unhas estupendamente sujas, barba rala por fazer, chapéu de pelo de rato totalmente amassado...

Assim ele ia chegando às residências para oferecer seu serviço na corta da lenhar, ou para ir lenhar nas matas próximas. E até mesmo para ir à venda comprar alguns produtos para as donas de casa da região. Tudo em vista de ganhar alimentos para sua família.

Seu nome, só a lápide que ainda conserva as letras que ele nunca as conseguiu ler.

É isso aí!

Acácio Nunes

Acácio Nunes
Enviado por Acácio Nunes em 12/04/2017
Código do texto: T5968894
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