Fotografia

...Um dia desses o sol deixará de dorar sua face por ausência...

Acho que Deus está um tanto chateado...

É essa lembrança que a mim vem...

Ontem antes das seis, fui um fingidor completamente...

Também deixei uma Ave me amanhecer...

Hoje há um comportamento de eternidade no que sinto aproximar-se...

Aqui de cima do telhado a lua prateia olhos abruptamente aviltados.

Deste meu olho, percebo que somente quem está em estado de palavra é capaz de enxergar algo ainda sem feitio...

Daquele lugar eu passava o dia quieto no meio das coisas miúdas e me encantei...

Quando o mundo estiver desprotegido de belezas, meu olho ficará só de imagens que foi...

Que esta minha aparente calma e este meu tímido silêncio não ti iludam...

Para quem não está em estado de palavras, meu fardo é de não entender quase tudo.

Eu precisava ficar pregado nas coisas, e assim achar o que não procurava...

Hoje sugiro que calce sua alpercata, desvie daquele que não é o teu destino...

O resto que encontrar, é base sombreada de chapéus alheios...

A realidade, é sempre mais ou menos do que nós queremos...

Suave é viver em Deus, vê ao longe a vida, caminhar seguro e sereno...

Pra mim sou quem me penso hoje...

Cada um julga o que sente abruptamente, e agora eu sei que é um erro imenso julgar...

As coisas têm toda a realidade que podem ter e às vezes, pergunto a mim próprio devagar.

Porque atribuo eu beleza às coisas?

No início, no fim da tarde, meu pai aparecia mais à frente e dizia: Bacurim, curim, curim...

Todos aqueles pequenos vinham e fartavam-se...

Logo eu percebia que o dia envelhecia e entrávamos para debaixo do alpendre...

Acho que minha mãe percebia que o menino gostava mais do vazio...

Eu imaginava que o vazio seria maior e até mesmo infinito...

Numa madrugada, Estava saindo de uma festa...

...Minha região estava morta...

Não se via ou ouvia um barulho!

Ninguém passava...

Eram quase quatro da manhã...

La o silêncio pela rua carregando um sossego...

Construí uma máquina e identifiquei...

O Sossego era uma seta...

Tive outras visões naquela noite...

Havia um perfume de rosas na janela.

Vi um bem-te-vi pregado na existência de uma rocha, fotografei a existência dele...

Vi ainda um mar de perdão no olho de um mendigo, fotografei o perdão...

Olhei uma paisagem descolorida desabar sobre uma casa. Fotografei o sobre...

Foi difícil fotografar o sobre!

Tentei fotografar o silêncio e percebi que era a existência...

E esta não autorizou...

Por fim eu enxerguei uma árvore de calça...

Representou pra mim que ela andava no quintal de braços com seu criador...

Fotografei a lua de calça e o poeta...

Nenhum outro poeta no mundo faria uma roupa tão linda...

A foto saiu legal!

Sobre o nada hoje tenho profundidades...

A palavra amor anda quase vazia, há poucos dentro dela...

Antônio Ximenes
Enviado por Antônio Ximenes em 18/03/2017
Reeditado em 18/06/2017
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