Céu Cinzento

Dia 19 de abril, Jardim MS, amanheceu lindo, mas com uma pequena nuvem cinzenta no céu, pois era o aniversário de Aurélio Preto, como era conhecido e gostava de ser chamado assim, pois era negro e “ não negava sua raça” dizia ele. Lá pelas 17h30 minutos pediu para um guri que o ajudava para encilhar seu cavalo com o nome de Ventania , pois iria visitar seu grande amigo Macário Sampaio , ele era impaciente por ser TDAH assim que falava em sair seu cavalo tinha que estar pronto, não aceitava que demorasse mais de 2 minutos para encilhar seu cavalo, dizia que com 2 minutos ele ia ao céu, e voltava.

Lembro-me como se fosse hoje, meu pai montado no cavalo, pedindo sua camisa, e seu chapéu, isso quando não pedia sua espora e colava em sua bota mesmo com seu cavalo indo de um lado para o outro, pois o cavalo não tinha sossego, pois acostumara com a ansiedade e sangria desatada do seu dono.

E lá se foi, não gostava de festa pelo aniversário, mas escolhia visitar os amigos que mais gostava ,e seu Sampaio era um deles.

Mas ele não parava por muito tempo em uma visita, pois voltava fazendo via sacra, passando pela casa do compadre Zeca Preto, seu Macário,seu Cacho, e Ernando Barbosa, que era bem mais novo que ele , mas o considerava muito e estava entre seus grandes amigos.

Ao voltar para casa no meio do caminho, o céu começou a ficar cinzento e uma grande nuvem negra pairava sobre imenso céu azul. E logo vieram os ventos e a chuva fria caiu sobre seu grande chapéu panamá e o barulho do vento chegava a ser assustador! Até o cavalo empinava, não querendo continuar, parecia entender tudo que estava acontecendo, não enxergava um palmo em frente do nariz, justo naquele dia, Aurélio não levou sua companheira lanterna. Só podia avançar porque Ventania conhecia cada caminho que eles passavam, de tanto fazer o mesmo caminho, ele levava meu pai sem precisar puxar a rédea de volta pra casa. Logo, começou-a cair raios assustadores e o cavalo seguia a luz dos relâmpagos. Quando de repente um forte relâmpago, seu Aurélio Preto, viu um cavalo, encilhado, andando com a cabeça para baixo, talvez por medo da chuva, porém parecia uma mula sem cabeça. Ele que tinha a fama de valente, quase se borrou de medo. E perguntou em alta voz, quem és tu?

Veio uma voz tremida, que ele ouvia muito fracamente.

_ Sou filho de satanás. Aurélio Preto se arrepiou todo e perguntou novamente, obtendo a mesma fala:

_ Sou filho de satanás.

Aurélio preto não pensou duas vezes, sacou seu revólver calibre 38, que era seu amigo inseparável e se preparou para atirar, no entanto resolveu perguntar mais uma vez, na verdade ele estava achando que se fosse filho do coisa ruim, de nada adiantaria atirar!

_ Quem é?

Naquela hora, parecia que vento se calou e não se ouviu nem um ruído nas matas virgens que tinha a poucos palmos dali. Dai, conseguiu ouvir a voz mais forte, embora parecesse de criança, dizendo:

_Sou filho de seu Atanásio.

No mesmo momento ele guardou o revólver e pensou; “Meu Deus”! Eu ia fazer uma besteira sem tamanho, como costumava dizer pra algo irreparável. Era um guri, filho de um amigo. Na mesma hora agradeceu a Deus, pelo livramento. Pegou o guri, colocou em seu cavalo, embaixo de sua capa preta e o levou até a casa de seu amigo Atanásio. E conseguiu chegar a casa em segurança, onde seus filhos e netos o esperavam com ansiedade. E todos comemoraram sua chegada.

Lixa Palosa
Enviado por Lixa Palosa em 25/09/2016
Reeditado em 07/05/2017
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