Vulto na noite...

Lá do alto... sobre uma laje, se avistava todo o vilarejo, lâmpadas incandescentes, como se fossem lamparinas acesas, corria-se os olhos, bem poucas luzes azuladas de neon, de simplórios comércios... Lojinhas de quinquilharias, mais acima nas serras, poucas lâmpadas como se fossem: vagalumes divagando! Juca! Já está tarde... Vamos descer, amanhã devemos estar em pé, bem cedo! Exclamou: a esposa de Juca, dona Angelina. Angelina! O que foi Juca? Você, já parou, para admirar a beleza, que se esconde atrás de uma noite como essa! Que beleza? Eu só vejo meia dúzia de lâmpadas, que mal iluminam a rua. Sim, é verdade! Mas é o que vemos, quando olhamos com olhos físicos! Você, enxerga com os olhos Juca, como todo mundo! Vem com esse papo de enxergar com, coração, com a alma, isso é coisa de gente estudada, que ficam lendo esses livros... E depois vem falar que coração, tem olhos, que alma enxerga. Vai se recolhendo Angelina, que vou guardar as cadeiras. Boa noite, Angelina! Quase bom dia Juca. Dona Angelina, mulher muito seca, não sabia falar com carinho e delicadeza, era seu jeito. Juca sempre falava... Angelina parece terra árida do sertão, más bem regada, e adubada produz lindos cactos! Brincava com sua esposa, muitos dias nem ousava, em fazer tais brincadeiras. Angelina estava mesmo com sono, já está dormindo! Pensou... Eu deveria ter deitado mais cedo, ela estava cansada! Nisso... A cachorrada do vilarejo ficou alvoroçada, só se ouvia latidos, em toda a vizinhança, segurei a respiração, para ouvir algum barulho! Mas eram impossíveis, os cachorros estavam esganiçando... Vou levantar bem devagar, pensou Juca, para não acordar Angelina. Juca, Juca! Você acordou... Estou acordado, nem dormi ainda; fica deitada, que vou ver o que está acontecendo! Cuidado Juca, pode ser ladrão! Ladrão? Não pode ser, esse latido não é para ladrão. Está bem Juca, faça o que achar melhor! Fica deitada, que só vou à Lage dar uma olhada, qualquer coisa te aviso. Juca subiu pé por pé, sem fazer o menor ruído, parecia um gato, quando caça um passarinho... Lá em cima, na Lage, ficou parado sem se movimentar, estático, não avistou ninguém... Pensou, vou ficar mais um pouco, daqui a visão é privilegiada! De repente: um vulto, muito rápido, atravessou a rua... Os cachorros ficaram ainda, mais alvoroçados. Pensou... Dizem que cachorros conseguem ver coisa de outro mundo, eu, só vi um vulto, não sei o que era não. Nisso, foi silenciando os latidos, até que parou, vez por outra se ouvia... Longe um latido. Vou me deitar! Amanhã, saberei o que aconteceu, pela vizinhança. Bom dia Angelina! Bom dia Juca, já estou em pé faz tempo! Deixei você dormir um pouco a mais, afinal que barulheira foi aquela Juca? Antes de começar a xingar os cachorros... Juca respondeu: Não vi nada! Não comentou do vulto que avia visto. Enquanto põe o café a mesa, vou pegar minhas botas na lavanderia! Quer que eu as busque, para você Juca? Não precisa meu bem! Já descendo a escada... Abriu, a porta da lavanderia, e agachou-se para pegar as botinas; Que susto! Não conseguiu se mexer... No canto embaixo de uma mesa, uma onça parda, e acoada, com aqueles olhos amarelos grandes, olhando para ele. Logo após... Á polícia florestal foi acionada, e tudo resolvido. Onça parda, na mata, seu habitat natural... Juca? Em cima da Lage, enxergando com a alma, e os cães, cuidando de seus territórios.

Pitter
Enviado por Pitter em 18/09/2016
Código do texto: T5764571
Classificação de conteúdo: seguro