202 - O DESENCALHE...

Fui procurado por um velho amigo, que chegou e já foi direto ao assunto que tanto o agoniava.

– Me disseram que você já teve um problema semelhante ao que estou vivenciando, trata de um problema gravíssimo, destes que a gente não gosta nem de falar, mas eu gostaria que me relatasse como que foi que você conseguiu sair ileso desta situação! Já fazem seis dias que eu não evacuo, ou melhor, no popular, que não cago! Me disseram que você também já passou por esta situação, pelo amor de Deus me diga logo que remédio ou remédios você usou combater este mal tão dilacerante!

- Realmente eu fiquei por vários dias sem evacuar, e aquilo muito me perturbou e me atormentou, pois minha barriga começou a se avantajar e quanto mais eu insistia em evacuar, quanto mais tempo eu ficava sentado no vaso sanitário, mais as coisas iam se complicando, iam se tornando insuportáveis, até que me receitaram que tomasse uma colher de sopa de óleo mineral, uma de manhã e outra à tarde, pra mim foi tiro e queda!

- Rapaz, como foi bom conversar com você! É na farmácia que se compra o tal óleo mineral?

- Sim! É na farmácia.

- Vou agorinha comprá-lo e me deseje boa sorte!

Passaram dois dias e aquele amigo encalhado apareceu novamente em minha casa e estava completamente desesperado, transtornado:

- Olha, eu tomei colheradas e mais colheradas de óleo mineral e não produziu efeito algum, pelo contrário parece que prendeu mais e mais as minhas fezes, acabo de vir do médico que me receitou o uso de óleo de rícino, o que você me diz?

- Não tenho experiência quanto ao uso de óleo de rícino, mas dizem que é um dos mais fortes laxantes, e só com o seu uso é que saberemos se irá produzir em você os resultados desejados.

- Imagine e sinta a minha situação, hoje completou oito dias sem que eu consiga cagar, parece que dentro da minha barriga há um vendaval de raios e trovões, meu suor é tão frio que parece que estou em pleno polo sul, e este suor corre em bicas pelo meu corpo, é um sofrimento que nem tem jeito de ser descrito!

- Amigo toma logo esse óleo de rícino, e cuidado para não exagerar na dose!

E assim se passaram deis dias da primeira visita daquele amigo encalhado, já estava até me esquecendo deste caso quando num repente ele aparece todo sorridente, leve, solto e vai logo dizendo:

- Não podia deixar de te contar em primeira mão, afinal você é meu confidente, e sei que guardou sigilo absoluto sobre tudo o que eu te contei...

Você não imagina o que aconteceu comigo, rodopiou uma dor insuportável na minha barriga, era tanta dor que a muito custo eu consegui chegar ao banheiro, e aquela tempestade que eu já te falei zuniu dentro de mim, relampejava, trovoava, subia e descia uns gases numa pressão insuportável, suava frio, e uma dor fina e pontiaguda foi afunilando na parte baixa do meu abdome, foi afunilando...

Afunilando...

Quando eu não mais suportava aquela dor dilacerante, quando comecei a gritar de desespero, num repente abriu a porta mais baixa do meu corpo, foi como que se abrisse a porta do céu e uma represa de merda irrompeu entre estrondos dos gases liberados, aquele mal cheiro empesteou o ar, finalmente eu consegui evacuar, mas evacuar de encher o vaso sanitário, a represa de merda foi completamente esvaziada, você não imagina o alivio que senti, clareou as minhas vistas em felicidades perfumadas pelas merdas, me senti aliviado, aliviadíssimo, e com os olhos marejados em lágrimas olhei para os céus e agradeci ao Senhor Deus pelo desencalhe. Nunca imaginei em toda a minha a vida que uma cagada conseguiria produzir em mim tanta felicidade, tanta alegria, me sinto novamente solto, leve e contente...

Abracei aquele amigo tão sofrido, abracei-o com força e ternura pois eu sei o que ele tinha passado, sentamos nas cadeiras do alpendre da minha casa, e abrimos um bom vinho para comemorarmos aquele acontecimento tão inesquecível e tão pungente e tão sofrível...

Eu sei que sou um bom ouvinte e que guardo segredo absoluto sobre tudo que me confidenciam, mas de vez em quando eu não resisto, conto o milagre, mas nunca conto o nome do Santo...

Magnu Max Bomfim
Enviado por Magnu Max Bomfim em 01/09/2016
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