O PASSARO QUE CANTAVA EM CIMA DA GAIOLA.

Demar era um homem velho, com muitos filhos, mas, todos já criados e casados. Tinha a sua velha ao lado e um cachorro valente no quintal pra pegar bandido, que atendia por lobo. Logo, seus filhos, sua mulher e seu cachorro, pertenciam a sua vida, apenas. Ele não tinha ciúmes destes, não os detestavam e nada o que faziam chamava sua atenção, eles estavam lá e Demar aqui.

Contudo, Demar é um homem apaixonado e tem muito bom gosto para passarinhos. Em sua sala dividida entre a TV na raque, o radinho para as quartas feiras e domingos, e sua cadeira de balanço, no chão, se achava em muito: resto de alpiste, xerém, girassol, amendoim e toda variedade de ração de passarinho, havia também penas e pingos de água nos dia de calor. Demar em sua vocação era o melhor, batia os melhores jogos, saia ganhando, enrolava gente grande e menino besta que passava com os pássaros em frente a sua alta calçada, ainda presos aos visgos pelos pés, ou acochados no xaprão, sabia qual cantava mais só no olho, comprava barato, vendia caro. Sua vocação também servia pra gaiolas, sabia das melhores madeiras, talas, vernizes. Não gostava de gaiola de ferro porque “judiava os bichinhos e fazia calor, pois aqui é quente de mais!” Reproduzia os melhores canários belgas e da terra. Esses eram pra briga, só serviam pra da um dinheirinho, vendia pra doutor na Bahia e Pernambuco.

Mas Demar gostava mesmo era da calma, do canto dos passarinhos, isso ali agradava de mais aquele homem! O caba tinha: Golinha, bigode, careta, azulão, curió, belguinhas, e campina. E, como todo apaixonado, ele tinha o seu favorito, se orgulhava de mais dos seus campinas! Criava desde pequeno essa espécie, conhecia os melhores cantos, os mais machos e as fêmeas boas, que cantam e reproduzem. Fazia 20 anos que Demar começou a reproduzir campina, o negocio era difícil, mas com sua dedicação ele conseguiu, botava os casais no escuro de manhã, lenços na gaiola de noite, e dois dedos de tela preta de baixo pra cima na gaiola, pra os bichos não se assustarem com gato nem com menino. Todo mundo queria os campina de Demar, ganharam até esse nome, ficaram conhecidos. Demar passava, mas só na base da “facada”, pra gente que tinha dinheiro e admirava passarinho cantador.

Em certa geração da sua criação Demar resolveu inovar, abriu um cômodo entre sua sala e seu quarto, coisa pequena, com uma porta na frente, e resolveu fazer uns testes. Queria reproduzir os campinas quase soltos, pra ver se os bruguelos, quando grandes, cantavam como os da mata. Começou deixando a gaiola nesse quartinho de manhã e de noite. Passando alguns dias, começou a tirar as talas da portinha, um talinha por dia, alguns dias depois a portinha tava sem talas, mas não aberta. Botou a porta do cruzador pra cima da gaiola, com um buraco redondo, a fêmea só podia por os ovos no cruzador se entrasse por fora da gaiola e por riba. A campina boa botou três ovinhos delicados. Imediatamente Demar tirou o macho de lá e passou pra outra gaiola, ele estava de volta à sala, junto aos companheiros engaiolados.

No tempo de choca, Demar começou a tirar as talas da gaiola, porem ainda com a porta do quartinho fechada. Ele sabia que a bichinha não abandonava o ninho, mas, pelo sim ou pelo não...Chocaram os ovos! Gritavam os bruguelos! A zuada da vida nova não parava na gaiola. Demar foi examinar, nasceram todos, a campina tava inchada, “choca choca”. Mudou a gaiola de lugar, botou pra um canto que pegava o sol bom de de manhazinha, então ele agora abria a porta, pois sabia que de lá a fêmea não saia nem a pau. E La estava à cena, o quartinho de porta aberta, uma única gaiola, sem talas, só as bases em sua forma retangular, três de um lado, três do outro, três na frente e três atrás na horizontal, mais duas em cada lado na vertical, segurando tudo que nem coluna. Cabia brincado uma mão aberta em cada espaço quadrado. E foi isso que Demar fez.

Quando a campina desninhou os bichos, ele foi lá e a agarrou com sua grande mão seu corpo e, mais uma vez separou pais de crias. Os bruguelos já estavam todos formados, empenados, aprendendo a voar e cantar. Iam e voltavam da gaiola, a comida e água ficavam numa base de madeira na parede da lateral direita, na parte de cima. Com três meses, mais uma separação, Demar separou as fêmeas do irmão, ele engabelou Samuel do Buritizin e as vendeu por 50 conto as duas. Dizia – ai é criada solta Samuel! Tu vai ver quando cruzar, os bruguelo tu vai chamar é no dedo. Demar ficou com o macho, por que sabia que cantava mais, e por que ia ter o pássaro que cantava solto. E assim foi, Demar adivinhou no cruzo, adivinhou no canto, por que com 6 meses esse campina já era o seu melhor, cantava mais e muito mais alto que todos. Demar então decidiu tirar ele do quartinho com sua gaiola, botou na sala, em canto bom, que pegava o sol frio da manhã, o colocará no gancho em frente a janela. Demar em sua cadeira de balanço olhava através das lentes embaçadas do seu óculos fundo de garrafa, com um sorriso de canto de boca de um caba bruto que era, apreciava o seu melhor campina. O pássaro que cantava em cima da gaiola.

Sebastião Monte Moreno.

Sebastião Monte Moreno
Enviado por Sebastião Monte Moreno em 01/08/2016
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