FROUXO QUE NEM CACHORRO VEI

Frouxo que nem cachorro vei

Homi vá cagar e alimpá o fole com folha de urtiga, vá! Quer não ir? Entonce vá armar alçapão pra pegá coruja! Eu aqui de bixiga arriada, a boca cheia de sapinho e tu assoprando asneira nos meu zuvido! Issequece uma trombose mal dada, vice, ou então um aborto não realizado, o cabra que nem eu que num faço mal a ninguém ter um afilhado filho de uma égua como tu, só não tendo a bênção de nossa senhora da Luz, tá entendendo? E é porque hoje, mais do que qualquer outro dia, acordei primeiro que o canto do galo, isso mesmo que tu tá ouvindo! A veia inté parece que passou a noite inteirinha me pastorando preu num perder a hora do exame. Ainda escuro eu ouvi o rasgo dela: se alevanta, Zé, já deixei o pinico no banheiro e vrido pra botar da bosta dentro! Cuidado, cuidado pra num mijar dentro do pinico porque num pode misturar bosta e mijo não! O doutor que disse, É um num vidro e outro noutro durante três dias! Parecia uma matraca sem óleo, os vizinho deve de ter ouvido tudo porque falava tão alto que nem pude ficar mais deitado. Saí com mais de cem pro banheiro, antes pensei em bebê um copo dalga, quando ia chegando perto do pote, de dentro do quarto ouvi: epa, nem invente, o doutor disse que não podia, tinha de ser a primeira mijada e a primeira cagada do dia, sem água nem comida. A carne inté que tremeu, pensei em sapecá algumas palavras, mas fiquei intalado com o cuspe e num disse nada. Sem que ela visse, peguei um brejeiro no bolso da camisa pra ver se fazia o serviço mais relaxado, quando pensei que ia pegar o fosco, só vi aqueles olhos esbugalhados olhando pra mim baforado no cachimbo: tu é tinhoso, né não seu Zé malagueta! Tá aqui, oi, no meu bolso a última caixa de fosco da casa. O doutor disse... Cala essa matraca, titica de galinha! Deixe ao menos eu tomar um gole de café pra esquentar as ideias! Mas não teve acordo, foi só amostrando a porta do banheiro de fora: Ande home, vá já fazer esse serviço que daqui a pouco clareia e a fila vai render o quarteirão! Fui, mastigando sebo de tanta raiva, pensando com os fios do meu bigode: que foi que eu fiz, que foi que eu fiz, meu Deus, pra casar com uma espoleta dessas! Chegando no banheiro, tirei a roupa assim, pendurei na porta, me acoquei no pinico, tava escuro, nem vi que tinha o diacho de uma rã que quando me espremi todinho, a maldita num pulou mirada diretinho onde tu tá imaginando! Com mais de mil, dei um pinote que o bagaço veio com vontade! Foi tanta merda que tive de colocar numa lata de leite ninho! Quando cheguei no posto de saúde, a danada da enfermeira ainda veio retrocendo os beiços e perguntando o que era aquilo! Eu disse: É bosta! Ela num gostou muito não e ainda perguntou: pra que tudo isso? Era só uma amostra, num era para rebocar a parede do posto de saúde não! Mas menina, naquele momento ainda quis dá uma resposta, mas já estava sentado na cadeira pra tirar o sangue que quando eu ia falar, a danada sapecou foi uma agulha do tamanho do cão na minha veia que trinquei foi os dentes pra não sapecá uns palavrão, mas esqueci de trincar o boga porque a dor foi tão grande que o material do dia seguinte arriei ali mesmo! Uma catinga medonha e a veia ainda dizendo: ligue não, muié, esse vei só tem pantin, é igual a cachorro com fome, late, mas não morde não! Ande, Zé, vamos se alimpar que eu tenho certeza, uma carniça dessa, você deve tá todo cágado. Saí do posto com o rabo entre as pernas, num disse uma só palavra pra chegar em casa, tomar uma copo d'água, um golpe de café e fumar o meu brejeiro e tenho de aguentar desaforo de um dela de uma gaita como tu? Home, vá procurar pioi em cobra, cheiro em gambá que agora em vou é tirá dois dedo de sono pra depois acertá as conta com minha veia, hoje ela me paga, ah se paga, vai ter de pagar...

Marcus Vinicius