Gisele - Aquela Galinha.

Jaz algum tempo que eu venho pensando em arrumar um par de galinhas. Galinhas caipira, para são melhores. Na casa onde eu moro, tenho lá uns bons metros de área externa, guarnecida sob o privilégio com espaço vantajo de sobra, nada contemporâneo, porém, ausente de boa textura, não há um fio verde de cobertura alguma, nem pra tratar de minhocas, é terra da mais pura terra batida: terreiro. Mas tenho lá uns dois pés de goiabeira, um para colher acerolas, um pé de manga para janeiro e uma jabuticabeira pra fechar o ano e ser feliz de janeiro à janeiro. E foi o que eu fiz: arrumei duas galinhas. Tipo dessas com pena, mesmo. Pensei comigo "chupa, Alex Atala"! Além de galinhas caipira, agora terei meus próprios ovos orgânicos. Massa pra caramba! Senti-me orgulhoso delas.

Que os protetores dos animais não leiam aqui, "mas as duas galinhas chegaram em casa, meio desajeitadas, dentro de um saco de ráfia fechado". E fui tratando delas.

Não demorou bastante o suficiente e logo meu vizinho achou a ideia um tanto interessante, e não ficou por menos, deu até nome no que é meu, vê-se pode? Giselle. Foi o nome que meu vizinho escolherá para se apossar da Gisele. Ironia à parte ou não, a Gisele é justamente a mais esnobe, uma penosa cheia de vigor e pompa, convencida de si mesma, caminha na mais fina lisura digna de uma mulher balzaquiana, sempre desconfiada, Gisele cisca, mas sempre com um olhar de esgueio, assim como as corujas exercem fama à sua laia: "aonde quer que se vá, de frente ou de ré, estou te vendo".

Segundo ele (meu vizinho), Gisele era o nome de uma garota de bordel que havia lhe despertado uma antiga paixão não correspondida. Disse ainda que chorou litros de lágrimas por ela - a Gisele do bordel. Acontece muito disso. Os homens têm essa mania de confundir amor à profissão com amor e profissão. Acontece que garotas de bordeis não são de se dar, elas vendem uma trepada, até duas, três ou quantas vezes um homem puder, mas elas não vendem amor, vendem serviço.

Até aí, relevei o fato e acabei aceitando o nome. Achei a história divertida. A proposito, Gisele é um nome um tanto inusitado para tal espécie. Certo é que ficou o bendito do nome: Gisele. Acontece que a Gisele passava o dia todo no quintal da minha casa conforme era de se esperar, só que ao cair da noite ela gostava mesmo era de dormir na árvore do vizinho. E ficou nisso um punhado de dias: Gisele acorda pela manhã, pula pro quintal de casa e, à noite, pra árvore do vizinho. Daí meu vizinho começou a despertar um certo interesse a mais pela minha Gisele, chegou até a me ofereceu uma boa quantia em dinheiro para comprar a Gisele de mim. Pensei comigo: certeza que ele ainda ama a Gisele - a Gisele do borbel -, por isso quer a minha Gisele.

Não demorou muito, talvez duas semanas ou menos, e a Gisele, minha galinha, passou a não mais voltar pro meu quintal, como sempre o fizera, e passou a ficar de vez no quintal do vizinho. Pra piorar, a ausência dela ciscando pra lá e pra cá no quintal me fez despertar o gosto e a gostar demais da Gisele, só que a Gisele, no que percebo, não me ama, prefere o meu vizinho. Gisele também levou a amiga junto com ela, e agora as duas estão lá, vivendo com ele. Desde então não encontrei consolo a não ser aceitar o fim: "Perdi as minhas duas galinhas caipira, meus ovos orgânicos e o amor da Gisele, pro meu vizinho". Agora sou eu que choro litros de lágrimas pela Gisele - aquela galinha!

Poesia Tofilliana
Enviado por Poesia Tofilliana em 28/06/2016
Reeditado em 11/07/2018
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