FALTA DE JUIZO = EC
 
   O casal de sitiantes discutiu que nome dariam a seu segundo filho.
   — Quero que seja Eliseu, o nome de meu pai, diz a mulher.
  — Nada disso, retruca o marido, na menina pusemos o nome de sua mãe, é justo que o machinho tenha o nome de meu pai, Porfírio.
  — Que nome feio! Ele vai ter vergonha dele.
  --- Feio ou bonito é o nome do avô dele. Na menina eu concordei que fosse Cleuza, o nome de sua mãe, embora preferisse que fosse Joaquina o nome da minha.
   — Já pensou que horror um menino chamado Porfirio?
   A gente pode chamar de Fifico, como chamavam meu pai.
  — Então pomos o nome de Eliseu, a gente chama de Fifico e está resolvido.
   Júlio sabia que não adiantava bater de frente com a Izolina. Ela sempre acabava ganhando.
  — Está bem, pomos o nome de Eliseu e chamamos de Fifico, assim homenageamos os dois avós.
  — Não é do meu gosto, mas vou concordar para você não dizer que sou teimosa.
  Júlio montou seu cavalo e foi à cidade para fazer o registro com uma ideia sinistra. Registrava o filho com o nome de Porfirio. Como a Izolina não sabia ler e, portanto não poderia conferir, tão cedo não ia descobrir.
  Mas, será que daria certo? Se ela descobrisse era capaz de matá-lo à pauladas.
  Antes de chegar ao Cartório, resolveu tomar um gole para criar coragem.
  Aconteceu que depois do primeiro gole, veio o segundo, o terceiro... e quando chegou no cartório estava mais pra lá do que pra cá.
  — O nome? Perguntou a mocinha mal disfarçando sua repulsa diante do pau d’água.
  Os nomes dançavam diante do Júlio sem que ele pudesse lembrar-se do que ficara combinado com a esposa.
  — Quer uma sugestão? Ponha o nome de Flavio. Acho tão bonito esse nome!
  — Tá certo, moça.
  E tudo foi agilizado porque a jovem queria livrar-se dele o mais rápido possível.
  E mais uma vez ele montou seu cavalo e tomou a estrada poeirenta rumo ao seu sitio.
  Aos poucos o efeito do álcool foi passando e ele de repente lembrou-se do que fora fazer na cidade e vagamente do que se passara no Cartório, mas, não conseguia lembrar se dera o nome de Porfirio ou Eliseu, ao filho, mas isso não tinha grande importância, pois iam chamar de Fifico, mesmo. Do palpite da menina, esquecera completamente.
  Os anos passaram sem que o Fifico tivesse que apresentar sua certidão de nascimento até que aos dezoito anos foi alistar-se para o serviço militar.
  O sargento olhando seu documento começou:
  — Flavio...
  — Meu nome não é Flávio.
  — Como não? Aqui está o nome de seus pais, a data do nascimento, por acaso você tem um irmão gêmeo chamado Flavio?
  — Não. Meu nome é Eliseu... Ou Porfírio... Sei que eram estes os nomes de meus avos e que meus pais queriam dar-me, mas meu pai disse que me registrou como Eliseu, embora preferisse Porfirio... mas sempre me chamaram de Fifico...
  — E seus pais não conferiram o documento?
  — Acho que não. Eles não sabem ler.
  — Bem, esqueça todos seus nomes de família, você agora é Flavio, um nome muito bonito, não acha?


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Este texto faz parte do Exercício Criativo
FALTA DE JUIZO
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Maith
Enviado por Maith em 28/03/2016
Reeditado em 28/03/2016
Código do texto: T5587321
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