Vida na roça

Todo final de tarde, meu pai voltava cansado do trabalho na roça: enxada no ombro, cabaça pendurada e um saquinho de algodãozinho no qual ele levava farinha e rapadura para as refeições.

Nos pés rachados, trazia a terra da roça, nas canelas finas, os arranhões dos matos, nas mãos mais calos, pois a cada dia suas mãos pareciam mais ásperas, no olhar, a esperança de poder alimentar os filhos com o que a roça produzia.

Sentado na pedra do terreiro, pedia um gole d'água, mas no cair da tarde a casa já estava escura, eu tinha medo de ir buscar água. Ele ralhava, eu entrava na casa, metia o caneco de alumínio no pote e saia com a água bem geladinha, ele bebia e dizia que essa água era a melhor que tinha bebido.

Ficávamos calados, nós, nossa mãe e avó sentados nas pedras. Eu voltava pegava uma cuia d'água, lavava os pés de meu pai.Minha mãe entrava em casa trazia uma panela de mungunzá com feijão e carne de porco, colocava a janta de todos. Só se ouvia a colher bater nos pratos de ágata...

Depois, minha avó vinha com o alguidar e um pedaço de sabão da terra, uma bucha de maxixe e mandava uma de nós lavar os pratos.

Meu pai deitava-se na pedra, cochilava. Nós não podíamos falar para não acordar papai.

Mamãe acendia uma lamparina e mandava todos dormir, para não acabar o gás...todos entravamos em fila e pulávamos na tipoia:

- Com jeito, meninos, pro mode num rasgar a fianga.

- Bença, pai, bença, mãe, bença, vó...

No escuro, muitas assombrações vinham povoar nossa mente, mas ninguém ousava dar um piu, se não ficaria sem jantar no outro dia, pois essas assombrações, segundo nossa avó, era etombo pesado.

valene
Enviado por valene em 16/07/2015
Reeditado em 16/07/2015
Código do texto: T5313539
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